Cara ou Coroa (Brasil, 2012) – Nota 7,5
Direção – Ugo Giorgetti
Elenco – Emílio de Mello, Geraldo Rodrigues, Júlia Ianina,
Walmor Chagas, Otávio Augusto, Thaia Perez, Eduardo Tornaghi, Danilo Grangheia,
Carlos Meceni, Francisco Carvalho.
São Paulo, 1971, no auge da ditadura militar, o diretor de
teatro João Pedro (Emílio de Mello) ensaia seu grupo para a estreia de uma peça
bancada clandestinamente pelo Partido Comunista. Pressionado por um membro do
partido (Francisco Carvalho) que não gosta do que vê nos ensaios, João Pedro
ainda precisa lidar com a esposa que o abandonou por causa do seu vício em
jogos, como bilhetes de loteria e corridas de cavalo.
Seu irmão Getúlio
(Geraldo Rodrigues) é o típico jovem sem rumo na vida, que desistiu de dois
cursos na universidade, vive de favor na casa dos tios (Otávio Augusto e Thaya
Perez) e namora escondido a doce Lilian (Júlia Ianina), neta de um general
reformado (Walmor Chagas). Quando o partido precisa de um local para esconder
dois membros foragidos da ditadura (Eduardo Tornaghi e Danilo Grangheia), João
Pedro convence Getúlio a abrigar os sujeitos no porão da casa de Lilian, que
também acaba aceitando a louca proposta.
O diretor Ugo Giorgetti é especialista
em filmes que se encaixam em determinado período que é lembrado com nostalgia, sempre
tendo São Paulo como local e criando personagens que são retratos de pessoas
comuns. Neste longa o período revivido é época da ditadura, onde a força da
repressão deixava estudantes, artistas e intelectuais numa espécie de paranoia,
sem saber quem poderia ser algum agente do governo infiltrado entre eles. Mesmo sendo um período complicado, a lembrança mantida por Giorgetti é nostálgica, dando ênfase a juventude dos personagens, época da vida onde tudo é possível.
Dentro deste contexto, o personagem de João Pedro é o retrato do intelectual
vazio, que pensava apenas em sua arte, o teatro, sem se preocupar com o
casamento ou a família. Enquanto os jovens Getúlio e Lilian decidiram ajudar os
comunistas sem ter ligação política ou ideológica alguma com o movimento,
deixando a impressão de que a emoção em arriscar era o principal. Este tipo de
enfoque mostra que provavelmente muitos jovens que foram presos, torturados e
até assassinados pela ditadura, na verdade queriam apenas enfrentar o sistema,
se arriscar e pagaram um preço alto por isso.
Vale destacar a participação
de Walmor Chagas como o general aposentado que se sente impotente e frustrado
com o caminho que seu amado exército seguiu durante a durante a ditadura, por
sinal, um dos seus últimos trabalhos antes de morrer. Outro destaque é Otávio
Augusto, colaborador habitual de Giorgetti, aqui encarnando um taxista que odeia
os comunistas e gosta de Paulo Maluf.
Como curiosidade, uma personagem cita que
os envolvidos na guerra, tanto os ligados a ditadura, quanto os chamados
subversivos, ainda festejariam juntos, o que infelizmente ocorre desde os anos oitenta.
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