The Real Football Factories International (The Real Football
Factories International, Inglaterra, 2007) – Nota 8,5
Documentário apresentado por Danny Dyer
Em 2004, o ator inglês Danny Dyer protagonizou o longa
“Violência Máxima” (“The Football Factory”) que mostrava o violento mundo dos
hooligans ingleses. O sucesso do filme gerou este documentário em que o ator
viajou por dez países para registrar a ação e o depoimento de torcidas
organizadas. A proposta do doc fez ainda com que o ator assistisse pelo menos
uma partida em cada país, geralmente um clássico entre times rivais, para
captar a emoção e o estilo de torcer em cada parte do mundo.
Mesmo com grande
diferença de culturas entre os países, todas as torcidas organizadas são muito
parecidas. São formadas por jovens de classe baixa, desejam se impor frente aos
rivais na base da violência e gostam muito mais do seu próprio grupo do que do
time que torcem. Para estes grupos o resultado das partidas é o que menos
importa.
Vou resumir os detalhes de cada episódio, citando os pontos principais.
Vou resumir os detalhes de cada episódio, citando os pontos principais.
Inglaterra – Pode ser considerado o berço dos hooligans, que
nos anos setenta e oitenta apavoravam os estádios ingleses e causavam conflitos
gigantescos. Estes grupos conhecidos como “firmas” eram formados por
trabalhadores que sofriam com a recessão das décadas citadas e utilizavam o
futebol no final de semana para extravasar as frustrações na base da porrada.
Após as tragédias de Heysel (leia resenha) na Bélgica e de Hillsborough, as autoridades inglesas
apertaram o cerco, mudaram as leis e muitos hooligans acabaram banidos dos
estádios ou na cadeia. Hoje a violência ainda ocorre nas ruas, mas dentro do
estádio ela foi erradicada. Dyer mostra as violentas rivalidades entre West Ham
e Milwall, entre os times de Manchester e até a violência das pequenas torcidas
de Burnley e Bolton.
Polônia – Na Cracovia, Dyer foca o clássico entre Wisla e Cracovia que
divide a cidade. Os clubes tem estádios próximos a conjuntos habitacionais e os
grupos marcam antecipadamente os locais para brigar. As brigas utilizando facas são comuns entres as torcidas. O governo tenta mudar a situação aumentando os
valores dos ingressos com o objetivo de elitizar o público nos estádios, porém o
a Polônia é um país pobre e falta público que tenha poder aquisitivo para
comprar ingressos caros.
Russia – A rivalidade entre Zenit e Spartak Moscou é
resolvida na porrada, porém os dois lados falam em honra e briga com as mãos,
sem armas. A situação lembra um pouco a Inglaterra, onde os estádios estão bem
policiados, porém nas ruas a situação continua complicada.
Balcãs – Um dos locais mais explosivos do planeta, que ainda
sofre as consequências da guerra dos anos noventa, tem torcidas organizadas
extremamente violentas, que se odeiam dentro do país, como os croatas do Split
e do Dinamo Zagreb e os sérvios do Estrela Vermelha e do Partizan. Este ódio se
multiplica entre os países, cada torcida sonha poder enfrentar um time do país
vizinho para se possível até matar o inimigo. Vale tudo nas brigas
entre estas torcidas, que inclusive tiveram papel importante durante a guerra
nos anos noventa atuando como milícias.
Turquia – Brigas nas ruas, utilização de facas e ódio contra
os times ingleses são os aperitivos das torcidas turcas, o diferencial está na
atmosfera maluca dentro do estádio, com os torcedores apoiando seu time do
início ao fim. Pelo menos mostram interesse em ajudar o time a vencer.
Holanda – Dyer mostra a acirrada briga entre as cidades de
Amsterdã e Roterdã, que são representadas por Ajax e Feyernoord. A ação preventiva da polícia ajuda a diminuir os conflitos, mas como em outros
países, o perigo está nas ruas. Uma curiosidade é a torcida do Utrecht que tem a
sede dentro do estádio do clube, sendo tratada quase como parceira.
Escócia – O país tem uma das maiores rivalidades do mundo
entre os católicos do Celtic e o protestantes do Rangers. São os dois maiores
times do país e que não tem rivais dentro do campo. Dyer mostra ainda as “firmas”
de Motherwell, Hibernian e Aberdeen, estes últimos famosos por desde os anos
oitenta utilizarem roupas de marcas para brigar, diferente dos demais hooligans
que na época se vestiam no estilo punk.
Itália – Dyer visita a torcida Drughis da Juventus de Turim,
time odiado em todo o país e que por seu lado odeiam os ingleses por causa da
tragédia de Heysel. O doc enfoca também a rivalidade entre Roma e Lazio, os dois
times da capital italiana e a violência que ronda este clássico. É mostrado
também a questão do racismo e preconceito, pois a torcida da Lazio é conhecida por ligações com grupos fascistas de extrema direita.
Argentina – É com certeza o país em que as torcidas
organizadas tem maior poder. Infliltradas nas diretorias dos clubes e com
ramificações com políticos, as chamadas ”Barra Bravas” são um poder paralelo na
argentina. Os violentos confrontos dentro dos estádios são comuns. Dyer
assiste a um partida entre Independiente e Racing que é suspensa por causa de
briga na arquibancada. Ele entrevista também o líder da temida torcida do Boca
Juniors chamada “La Doce”, considerada uma das mais violentas do mundo.
Brasil – Em nosso pais, Dyer assista a um Gre-Nal e conversa
com as torcidas dos dois clubes. Ele visita ainda as torcidas de Vasco e Flamengo
no Rio e Palmeiras e Corinthians em São Paulo. Ele e sua equipe aceitam viajar de
ônibus com a torcida do Palmeiras para assistir a um jogo no Rio de Janeiro e
na volta o ônibus é atingido por tiros. Aqui também vivemos uma tentativa de
elitização do estádios, praticamente inexistindo violência dentro deles, porém com
os confrontos ocorrendo nas periferias, no terminais de ônibus e
estações de metrô e trem.
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