sábado, 27 de novembro de 2010

Once Brothers - A História de Vlade Divac e Drazen Petrovic


Once Brothers (Once Brothers, EUA, 2010) – Nota 9
Direção – Michael Tolajian
Documentário – Vlade Divac e Drazen Petrovic

No final dos anos oitenta a Iugoslávia era uma potência no futebol e no basquete, tendo sua melhor geração nos dois esportes, porém a Guerra dos Balcãs que devastou o pais e o dividiu em seis novas nações, separou amigos, famílias, matou uma infinidade de pessoas e não deixou que estes atletas levassem o país a uma glória maior. 

No futebol era o auge do Estrela Vermelha de Belgrado, que venceu a Copa dos Campeões e o Mundial Interclubes em 1991 e que tinha no elenco craques como Savicev, Jugovic, Prosinecki e Mihajlovic. Juntos com outros jogadores como Dragan Stojkovic levaram a Iugoslávia até a quartas de final da Copa do Mundo de 1990 na Itália e estavam entre os favoritos da Eurocopa 1992, porém o país foi punido e eles foram excluídos do torneio. A seleção tinha sérvios, croatas, bósnios e montenegrinos, assim com a equipe de basquete, sobre a qual este sensível documentário produzido pela ESPN conta a história da amizade entre o sérvio Vlade Divac e o croata Drazen Petrovic. 

O documentário é narrado por Divac e começa em 1988 quando ele e o sérvio Igor Paspalj, junto com os croatas Drazen Petrovic, Tony Kukoc e Dino Radja levaram a seleção iugoslava de basquete a medalha de prata nas Olimpíadas de Seul, depois ao título Europeu de 1989 e por fim ao Mundial de Basquete da Argentina em 1990 quando venceram os EUA e a Rússia, chegando ao auge do esporte. Como todos os envolvidos contam, a equipe era como uma família e a política não fazia parte da vida deles, porém na comemoração deste título, um radical invadiu a quadra para comemorar com a bandeira da Croácia e Divac tomou a bandeira do sujeito alegando que o país era a Iugoslávia. Este gesto fez com que a imprensa croata o transformasse em vilão e o croata Petrovic que era quase um irmão, ficou magoado e se afastou de Divac, causando o início da separação dos povos que formavam o país também no esporte. 

A guerra explodiu de vez e aquela seleção se separou, com os atletas croatas sendo pressionados para não conversarem com Divac. Nos depoimentos de hoje, Radja e Kukoc falam abertamente que tinham de se afastar com medo de retaliações e a amizade entre Petrovic e Divac que era grande não só pela seleção, mas por terem sido os dois primeiros europeus a jogar na NBA e que conversavam diariamente até o incidente da bandeira nunca se reatou, mesmo que Divac tenha tentado se aproximar. Petrovic era irredutível e o tempo ainda foi curto para curar as feridas, porque em 1993 ele faleceu num acidente de carro. 

Em 1995 um novo episódio onde a política ficou acima do esporte, a Iugoslávia novamente venceu o Campeonato Europeu e no momento de receber as medalhas a equipe da Croácia que ficara com o bronze se retirou, uma das mais tristes cenas do esporte, os que formaram uma única equipe cinco anos antes defendendo um país, se transformaram em inimigos mortais. Fica clara a tristeza de Divac, primeiro por não ter tido a chance de voltar a conversar com o amigo Petrovic, inclusive ele diz em um certo momento “demoramos anos para criar uma amizade e a perdemos em segundos” e segundo pela separação do país, além de acreditar que a Iugoslávia era sua pátria verdadeira, ele tinha esperança de quem saber vencer o Dream Team americano nas Olimpíadas de Barcelonas em 1992, caso a sua seleção ainda estivesse completa. 

A parte final do documentário é triste e emocionante, primeiro com Divac andando por Zagreb na Croácia após vinte anos, sendo reconhecido pelas pessoas, mas sem que alguém tenha coragem de vir falar com ele e apenas um sujeito vira para câmera e o chama de Chetnik, nome usado pelos grupos paramilitares sérvios que caçavam os croatas, ou seja, a ferida da guerra ainda não se fechou totalmente. E por fim, o emocionante encontro de Divac com a mãe e o irmão de Petrovic e a visita ao túmulo do amigo, onde ele deixou como lembrança uma foto deles abraçados comemorando o título de 1990, segundos antes do incidente com a bandeira e o fim da amizade.

13 comentários:

Jenifer Torres disse...

Uau! Fiquei bem tentada a conferir.
Abraços.
http://www.dicaselistas.blogspot.com

Hugo disse...

Jenifer - É uma ótima história de amizade e absurdo da guerra.

Abraço

Giuliano disse...

Assisti ao filme ontem, na ESPN. É absolutamente brilhante. Mostra a insensatez que é a guerra, usando aquele time mágico como metáfora das separações que ela causa. Claro que a guerra foi muito além do basquete, que muita gente morreu, e que perto do genocídio um time de basquete não é nada. Porém, o documentário mostra que a guerra não deixa ninguém a salvo. Todos se ferem, todos sofrem.
Para mim, ficou a pergunta: até que ponto é possível uma reconciliação entre os povo? Tivemos conferências de paz, assinaturas de armistícios, até um tribunal internacional (ICTY). Será que a ferida fechou? Acho que não. Será que ela um dia fecha? Não sei.

Hugo disse...

Giuliano - Acredito que ainda irá demorar muitos anos para todas as feridas do que aconteceram com os povos da antiga Iugoslávia cicatrizem.

Abraço

consolmagno disse...

Um dos melhores documentários que assisti nos últimos anos. Tocante. Memorável.Emociona, ainda mais quem acompanhou pela TV esses dois gênios do esporte. Bela resenha, Hugo. Abbracci!!

Hugo disse...

Consolmagno - Você citou bem, o documentário acaba sendo melhor ainda para quem acompanhou estes atletas na época e gosta de esporte.

Abraço

Eduardo disse...

Não me lembrava do Petrovic, apenas de Divac. Mas, sobretudo, a história é emocionante e triste também. Percebe-se a angústia de uma pessoa que queria que tudo pudesse voltar ao normal, mas que nunca será possível! Confesso que chorei!

Hugo disse...

Eduardo - Parece roteiro de filme, de um drama, mas é a realidade. Uma história emocionante.

Abraço

Alberto disse...

Excelente documentário. A ESPN brilhou nessa. Retratar as mazelas de uma guerra no fim de uma amizade verdadeira entre dois grandes jogadores. Lógico que as atrocidades da guerra foram muito além do fim desta amizade mas mostra o que ela causa num microambiente.

Smiths disse...

Realmente senti mesma coisa que todos vcs. Mt bom o documentário.

Hugo disse...

Alberto e Smiths - É um belo documentário para uma grande história.

Abraço

Anônimo disse...

a seleção mais técnica da história do basquete europeu e mundial, comparando-se com certeza ao dream tem americano, petrovic, divac, hadja, paspaly, kucot, e cia, eram fenomenais. E junto a eles ainda, tinha vários monstros do basquete que não mencionei, como bodiroga e danilovic mais jovens, rebraca, tomasevic, francovic, djordjevic e vários outros, com certeza, dariam trabalho dobrado ao dream tem se tivessem ficados juntos. Maldita guerra, privou o mundo desses jogadores fenomenais.

Hugo disse...

Anônimo - A guerra dos Balcãs deixou um rastro de destruição gigantesco.

Esta sensacional equipe de basquete e a seleção de futebol foram dois exemplos tristes dentro do esporte.

Abraço