O diretor Sergio Bianchi é especialista em mostrar toda a hipocrisia do brasileiro em relação aos preconceitos culturais, sociais e até raciais. Nestes dois filmes ele dá um tapa na cara da nossa sociedade, mesmo atingindo em cheia a elite, sobram críticas também aos mais pobres, deixando no ar que a falta de caráter e o desprezo pelo próximo é algo comum por aqui.
Cronicamente Inviável (Brasil, 2000) – Nota 7,5
Direção – Sérgio Bianchi
Elenco – Cecil Thiré, Betty Goffman, Daniel Dantas, Dira
Paes, Umberto Magnani, Leonardo Vieira, Cosme dos Santos, Zezé Mota, Dan
Stulbach, João Acaiabe, Roberto Bomtempo, Gero Camilo.
Seis personagens circulam em torno do restaurante fino de
Luís (Cecil Thiré), que explora sexualmente seus empregados em troca de favores,
sendo eles a hostess Amanda (Dira Paes) e o garçom Adam (Dan Stulbach). O local
é freqüentado pelo sociólogo e escritor Alfredo (Umberto Magnani) que viaja o
país para analisar as diferenças culturais e pelo casal Carlos (Daniel Dantas)
e Maria Alice (Betty Goffman), ele de uma família burguesa que há gerações
explora os empregados, enquanto ela tenta amenizar a culpa por ser rica,
distribuindo brinquedos para crianças carentes num tipo de ação social.
Estes
personagens podem ser considerados figuras comuns em nosso país, mesmo sendo
esteriótipos, são utilizados para mostrar o que existe de pior por aqui em
termos de caráter. Temos o dono do restaurante que tenta se mostrar um sujeito
educado e de classe, mas que esconde seu gosto pela dominação. A dupla de funcionários
ambiciosos que aceita participar deste jogo em troca de algum favor e o casal
que é o exemplo de grande parte da nossa elite, onde ao mesmo tempo em que
utiliza de falcatruas para lucrar, tenta mostrar aos pares uma bondade que não
passa de hipocrisia.
O roteiro pega pesado nas situações citadas, além de cenas
fortes de sexo, inclusive uma sequência de masturbação masculina ligada a um
clude de prostituição.
O termômetro do filme é o personagem do sociólogo de
Umberto Magnani, que chega a conclusão
de que o preconceito social e até racial tenta ser mascarado, porém em nossa
realidade estas situações ainda são muito presentes.
Quanto Vale Ou É Por Quilo? (Brasil, 2005) – Nota 7,5
Direção – Sergio Bianchi
Elenco – Herson Capri, Caco Ciocler, Cláudia Mello, Ana
Lúcia Torre, Ana Carbatti, Lena Roque, Lázaro Ramos, Míriam Pires, Zezé Motta,
Joana Fomm, Silvio Guindane, Leona Cavalli, Leonardo Medeiros, Umberto Magnani,
Antonio Abujamra, Caio Blat, Emílio de Melo, Danton Mello.
Criando um paralelo entre a época da escravidão no Brasil e
os dias atuais, o diretor Sergio Bianchi cria sequências que mostram toda a
hipocrisia da elite brasileira, além de uma crítica feroz as ONGs que se
proliferam pelo país com o objetivo de lucrar em cima da pobreza, aproveitando
a corrupção dos órgãos do governo que liberam milhões de reais.
A história gira
em torno de uma ONG comandada por dois corruptos (Herson Capri e Caco Ciocler)
que após receberem uma alta verba do governo para um projeto de inclusão digital
na periferia, superfaturam notas fiscais e entregam produtos de péssima
qualidade. A responsável pelo local é Arminda (Ana Carbatti) que entra em
conflito com a dupla quando resolve reclamar da situação. Temos ainda uma
socialite (Ana Lúcia Torre) que cria uma instituição com o objetivo de
conseguir dinheiro de uma grande organização americana.
Em paralelo, conhecemos
casos ocorridos na época da escravidão, como o exemplo dos “Capitães do Mato”,
que eram sujeitos do povo que trabalhavam caçando escravos foragidos para
receber uma recompensa, traduzindo, faziam o trabalho sujo para a elite entre
troca de dinheiro, situação que se repetirá nos dias atuais, quando um jovem
desempregado (Silvio Guindane) aceita trabalhar como matador eliminando pessoas
que “incomodam” a elite.
O filme é um verdadeiro tapa na cara da nossa
sociedade, deixando claro o circulo vicioso que engloba “poder, dinheiro,
corrupção, pobreza e ambição”, onde o que vale é levar vantagem e o próximo é
visto apenas como uma escada ou um empecilho para o sucesso, que no caso é o
lucro.
4 comentários:
Desses, só vi Quanto Vale ou é por Quilo? e adorei. É um filme que tinha um potencial para ser bem melhor, mas que cumpriu o que propôs.
Vi ambos. Engraçado como esses filmes são metalinguísticos. Afinal, realizado por uma elite dominante que tenta passar uma imagem de "bons moços", "críticos do sistema", mas que também, utilizam deste círculo vicioso que sustenta toda nossa sociedade capitalista.
Cronicamente Inviável eu não vi, apesar de sempre ter curiosidade, mas Quanto Vale ou é Por Quilo? Acho que se perde um pouco, esperava muito mais.
bjs
Gabriel - Os dois casos são filmes em que a crítica é o principal, sem grandes preocupações com uma história linear.
Fernando - Você tem razão, os cineastas brasileiros vivem de verbas governamentais e patrocínio de multinacionais para seus filmes, o que fundo é a mesma relação que eles tanto criticam.
Amanda - Os roteiros destes dois filmes são quase que várias pequenas histórias que se confundem. A proposta do diretor é criticar.
Abraço a todos
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