Direção – Kleber Mendonça Filho
Elenco – Irandhir Santos, Gustavo Jahn, Irma Brown, W. J.
Solha, Maeve Jinkings, Lula Terra, Sebastião Formiga, Dida Maia, Yuri Holanda.
Este produção rodada em Recife foi uma grata surpresa do
cinema brasileiro no ano passado. O diretor Kleber Mendonça Filho estreou no
comando de um longa que se passa num bairro de Recife ao lado da famosa Praia
de Boa Viagem, local que se transformou em refúgio das classes média alta e
alta. Esse microcosmo é o alvo do diretor, que também escreveu o roteiro e
utilizou os sons do dia a dia para contar várias histórias através de pequenos
detalhes.
São vários personagens que transitam pelo local. Temos João (Gustavo
Jahn) que vive num belo apartamento e trabalha administrando os imóveis do avó
Francisco (W. J. Solha), um senhor que é dono de vários apartamentos na região.
João tem um relacionamento com Sofia (Irma Brown), uma jovem que parece ter
planos diferentes do que viver com ele. Na mesma rua ainda vivem Anco (Lula
Terra), tio de João e pai de Dinho (Yuri Holanda), um jovem problemático que
costuma fazer pequenos roubos, além da família de Bia (Maeve Jinkings), um dona
de casa entediada que fuma maconha para relaxar e sofre com o latido constante
do cachorro da casa vizinha. Para completar a fauna de personagens, aparece
Clodoaldo (Irandhir Santos) com sua equipe oferecendo um serviço de segurança
na rua, mas que precisa ainda pedir uma espécie de permissão ao velho
Francisco.
A crítica social do roteiro de Kleber Mendonça está nos pequenos
detalhes, alguns deles quase escondidos em frases, diálogos e atitudes. São
vários exemplos, como a mulher com pose de rica e sua filha adolescente que
visitam um apartamento para alugar e a garota deixa escapar uma frase que
mostra que a família passa por dificuldades financeiras, fato que a mãe quer
esconder. Temos a sinistra reunião de condomínio, onde vemos vir à tona vários
tipos de preconceitos da chamada classe média alta, que tentam disfarçar as ideias
reacionárias utilizando a segurança do local como desculpa e ainda a ridícula
aula de mandarim para os filhos adolescentes de Bia.
Outra situação comum neste
meio é a falsa relação de amizade entre moradores e empregados, mostrada em
cenas como aquela em que um sujeito risca o carro da um mulher por um motivo fútil ou da
filha da empregada que segue o caminho da mãe passando roupas para João, mas que
tem uma clara reação de descontentamento sem falar palavra alguma.
Sobra espaço
ainda para a crítica no que se transformou o bairro, hoje tomado por edifícios
enormes, sendo que no passado eram ruas de terra com casas simples, fato que surge
na memória do personagem Anco durante um cena rápida. Por sinal, Anco é o único personagem que ainda mora em uma casa com portão baixo, como se tentasse manter
sua raiz num mundo que não existe mais.
A variedade de sons que pontuam o filme
são muito bem explorados na montagem, seja o latido intermitente do cão, os
barulhos das ondas do mar, da música alta na rua, os eletrodomésticos e até a
cena final, onde o som tem um papel importantíssimo.
O diretor Kleber Mendonça
demonstra um incrível potencial para uma bela carreira e comigo ainda ganhou
pontos ao questionar o sistema de produção e distribuição da Globo Filmes, que
no seu pensamento e também no meu, tenta criar um monopólio da mediocridade que
visa apenas o lucro. Ele fez um desafio para a produtora bancar pelo menos três
filmes por ano que fujam do lugar comum e recebeu como resposta uma crítica
capitalista que mostra bem como pensa a Globo Filmes. A discussão completa pode
ser lida no link abaixo.
4 comentários:
Tá na minha lista para os próximos dias! Vamos ver...
abraço
Marcelo - Vale a sessão, é um ótimo filme.
Abraço
Um filme inovador. Também gostei muito. Pena não ter feito muito sucesso de público.
Gilberto - A questão da distribuição e propaganda. O filme foi lançado em poucos cinemas e sem grande alarde, tem ficado pouquíssimo tempo em cartaz.
Uma pena.
Abraço
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