sexta-feira, 22 de março de 2013

O Começo da Paixão Pelo Cinema

Cada cinéfilo tem sua história de como começou sua paixão pelo cinema. Os que estão acima dos sessenta anos provavelmente chegaram a curtir as antigas matinês, que apresentavam seriados de aventuras antes do filme principal.

A geração que nasceu nos anos setenta, a qual eu me incluo, descobriu o cinema assistindo filmes na televisão. Naquela época não existiam os chamados "filmes de férias" para crianças e a maioria das famílias não tinham o hábito de levar crianças ao cinema. Eu mesmo fui pela primeira vez ao cinema com treze anos junto com um grupo de amigos da escola e assistimos "Passagem Para a Índia" de David Lean. Um ótimo drama histórico, porém um filme que dificilmente algum adolescente atual teria vontade de ver. A nossa vontade era ir ao cinema pela primeira vez.

Até este acontecimento nos meus treze anos, os filmes que eu assistia na tv se resumiam aos faroestes que a TV Record mostrava em suas clássicas sessões. Uma era a sessão "Bang-Bang a Italiana", que mostrava os clássicos ""Westerns Spaghettis" como "O Dólar Furado", "Trinity", "Sabata", "Sartana" e  "Os Abutres Tem Fome", entre vários outros. A outra sessão era o "Show do Dia 7", onde algum destes westerns ou um longa de Kung Fu era o grande filme do mês. O mais clássico do gênero Kung Fu desta sessão foi "O Dragão de Shaolin", reprisado inúmeras vezes.

Na TV Record eu também assistia seriados como "Bonanza", "Chaparral", "Laramie", "CHIPs", "Buck Rogers" e "James West". Vários outros seriados clássicos como "Túnel do Tempo", "Perdidos no Espaço", "Os Três Patetas", "Esquadrão Classe A" e "Magnum" eram atrações de outros canais.

Não posso deixar de citar a sessão chamada "Sala Especial", que ia ao ar na TV Record toda sexta-feira por volta da meia-noite e mostrava os filmes brasileiros dos anos setenta, as chamadas pornochanchadas, onde a garotada esperava para ver sem roupa atrizes como Aldine Muller, Helena Ramos e Matilde Mastrangi.

Como curiosidade, na época os canais de TV não tinham 24 horas de programação. A maioria fechava o sinal durante a madrugada após algum programa considerado forte, como "O Homem do Sapato Branco", "Programa Goulart de Andrade", "Programa Ferreira Neto" e por algum tempo até mesmo um programa com Zé do Caixão.

Por incrível que pareça hoje, a TV Cultura encerrava sua programação exatamente a meia-noite, com direito a execução do hino nacional.

Na época, início dos anos oitenta, a TV Globo tinha sua torre de transmissão no Pico do Jaraguá, sendo que várias bairros de SP acabavam tendo um sinal muito ruim por causa da localização. Era o caso do bairro onde eu morava, por isso eu preferia assistir a Record. A situação mudou quando em 1983 a Globo fez um acordo com a TV Gazeta e transferiu sua torre para o prédio da própria Gazeta na Avenida Paulista, melhorando o sinal na cidade inteira.

Sou um grande crítico das organizações Globo e considero sua programa tenebrosa e tendenciosa, assim como infelizmente acontece com grande parte dos canais abertos, porém naquela época, exatamente no início de 1985, a Globo criou uma sessão de cinema que influenciou de forma gigantesca minha paixão por filmes.

A Globo comemorava vinte anos em 1985 e em janeiro promoveu o "Festival dos Festivais", que teve como vencedora a cantora Tetê Espíndola e foi um grande sucesso, tendo ainda apresentado para o público novos músicos como por exemplo Osvaldo Montenegro e o recém falecido Emílio Santiago. Quando o acabou o festival, a Globo começou uma sessão de filmes de segunda à segunda denominada "Festival 20 Anos". A sessão tinha início por volta das 22:30 hs e com certeza apresentou uma das mais sensacionais sequências de grandes filmes da história da TV brasileira.

Este festival de filmes deve ter durado pelo menos dois meses e assisti praticamente todos os longas, sem imaginar a importância que cada um deles tinha na história do cinema. A lista incluía "Bonnie & Clyde", "Os Doze Condenados", "Fugindo do Inferno", "Chinatown", "A Trama", "O Poderoso Chefão I e II", "Operação França I e II", "Sete Homens e um Destino", "Era Uma Vez no Oeste", "E O Vento Levou", "Amargo Regresso", "Ben Hur", "Os Dez Mandamentos", "Desejo de Matar", "A Profecia", "Superman", entre diversos outros clássicos, algo impensável nos dias de hoje na tv aberta.

Diferente dos filmes descartáveis que o "Supercine" se especializou a partir dos anos noventa, na época esta era uma sessão que apresentava toda semana um grande filme inédito na TV. Em seguida vinha a "Sessão de Gala", que geralmente apresentava um filme mais sério, podia ser um drama, um suspense ou um longa com mais violência. Para o notívago, na sequência ainda tinham uma ou duas sessões do clássico "Corujão", dependendo da duração dos filmes.

Para completar, no domingo a noite, por volta das 23:00 hs, os cinéfilos tinham a oportunidade de assistir a um filme legendado na sessão "Cine Clube".

Foi uma época completamente diferente, difícil de imaginar para que não viveu aquele tempo, onde praticamente a única opção para assistir filmes de qualidade era o cinema, fato que começou a mudar com o festival de 1985, que com certeza ajudou a nascer a paixão pelo cinema em muitas pessoas.

6 comentários:

Fábio Henrique Carmo disse...

A Globo promoveu outros "festivais" depois desse. Lembro de um que era sempre aos sábados, no Supercine, acho que quando ela completou 30 anos. Eram filmes como "E o Vento Levou", "Spartacus", Ben-Hur", "Bonnie & Clyde", "Dr. Jivago", "O Poderoso Chefão", entre outros clássicos absolutos.

E na sessão da tarde ainda passava os filmes de Jerry Lewis, Fred Astaires, e obras adolescentes como "Conta Comigo", "Clube dos Cinco" etc.

Teve até um Festival Chaplin na Globo, onde vi boa parte dos films do gênio. Bons tempos!

Hugo disse...

Fábio - Eram outros tempos, em que a tv aberta dava maior importância ao cinema.

Abraço

Jefferson C. Vendrame disse...

Grande Hugo,

Muito interessante esse Post! Tenho orgulho e também tive sorte de pegar o finalzinho dessa "era de ouro" dos filmes bons na tv aberta. Quando comecei a me interessar por filmes clássico, por volta de 1997 a Rede Globo e a Band ainda exibiam filmes raros e cults. Assisti e gravei em VHS muitas coisas dessas emissoras como, UM LUGAR AO SOL (Extinto Campeões de Bilheteria na Globo), Festim Diabólico (Corujão), O Retrato de Dorian Gray (Corujão), Longa Jornada Noite Adentro (Cineclube - Band), O Diário de Guadalcanal (CIneclube), etc.
Realmente hoje é lamentável as sessões existentes, assim como toda a grade da aberta. Graças a Deus pela invenção do DVD, Blue RAy, etc...

Abração

Hugo disse...

Jefferson - Você tocou num ponto interessante, eu também gravei vários filmes em vhs na época. Como você bem citou, hoje temos outras opções e a programação tv aberta está cada vez pior.

Abraço

Bússola do Terror disse...

Eu também não gosto de assistir filmes na Globo, até porque eles sempre cortam algumas cena do filme (quase sempre por conveniência, pra não aparecer alguma coisa que não querem que apareça, né?).
Nesse ponto, prefiro o SBT. Lá eles têm mais a tendência de passar o filme todo. A não ser quando são aqueles filmes de 3 ou 4 horas, né?
A propósito, lembro bem do Festival dos Festivais. Eu tinha 10 anos na época.

Hugo disse...

Bússola - Já faz muito tempo que a Globo não respeita o cinéfilo. Além de cortar cenas, a dublagem atual é irritante.

Abraço