Uma Cidade Sem Passado (Das Schreckliche Mädchen, Alemanha
Ocidental, 1990) – Nota 7,5
Direção – Michael Verhoeven
Elenco – Lena Stolze, Hans Reinhard Muller, Monika
Baumgartner, Elisabeth Bertram, Michael Gahr, Robert Giggenbach.
Em meados dos anos setenta, numa cidade do interior da então
Alemanha Ocidental, a adolescente Sonja (Lena Stolze) vence um concurso
nacional de redação e se torna a queridinha da professora de literatura. Esta
mesma professora inscreve Sonya em outro concurso onde um dos temas é “Como era
sua cidade na época do III Reich”. Para susto da professora, Sonja escolha o
tema, mas diz que pretende escrever como a Igreja lutou contra o nazismo.
Não
demora para Sonja descobrir que habitante algum do local deseja falar sobre o
fato, exceto uma velha senhora que antes de morrer cita que a única pessoa da
cidade presa como nazista ao final da guerra foi o prefeito e que o culpado era
um sujeito apelidado de “Heinrich Marrom”. As dificuldades fazem Sonja desistir
da pesquisas, mas não esquecer do tema. Após alguns anos, já casada e com
filhos, ela decide estudar história e recomeça suas pesquisas, fato que
desenterrará segredos e fará grande parte da cidade se voltar contra ela e sua
família.
O diretor alemão Michael Verhoeven (sem ligação alguma com o holandês
Paul Verhoeven), que já havia cutucado as feridas do nazismo em “A Rosa Branca”
de 1982, também protagonizado por Lena Stolze, aqui remexe ainda mais nas
tristes lembranças do povo alemão.
Os letreiros iniciais informam que o filme é
uma ficção, mas ao mesmo tempo poderia ser realidade em qualquer cidade da
Alemanha, além de mostrar um poema que cita como as pessoas tendem a apagar as
lembranças que lhe são vergonhosas.
A partir daí, o roteiro do próprio diretor
faz uma severa e ao mesmo inteligente crítica à sociedade alemã, que varreu
para debaixo do tapete muitos crimes cometidos por pessoas poderosas que
apoiavam o nazismo e que após a guerra tentaram reescrever suas histórias de
vida, algo muito parecido com que ocorre no Brasil e em toda a América do Sul
em relação as ditaduras que reinaram entre os anos sessenta e oitenta. Por aqui, torturadores e terroristas tentam modificar suas biografias se autoproclamando
patriotas e defensores da liberdade, sem que lado algum assuma sua culpa.
O longa de
Verhoeven mostra também como estas pessoas que continuam no poder fazem de tudo
para dificultar o acesso a informação. A luta da personagem de Lena Stolze em
busca dos fatos é uma verdadeira saga repleta de obstáculos, muitos deles
ridículos e imorais.
É interessante a escolha do diretor em criar cenas
simbólicas e quase surreais, como a reunião da família de Sonja no que seria na
sala de sua casa, porém com a praça da cidade ao fundo, ou os depoimentos dos
personagens olhando direto para a câmera, inclusive utilizando a protagonista como narradora.
O resultado é um filme obrigatório para entender como a história é sempre
manipulada pelos poderosos e os vencedores.
Como curiosidade, as cenas do
passado são em preto e branco e as demais coloridas.
O longa também concorreu ao Oscar de Filme de Estrangeiro.
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