segunda-feira, 31 de março de 2014

Todomundo & O Que Era Aquilo?

Nesta postagem comento dois documentários sobre futebol com abordagens bem diferentes entre si e produzidos com mais de trinta anos de diferença.

Todomundo (Brasil, 1980) – Nota 8
Direção – Thomaz Farkas
Documentário

Nos anos setenta e oitenta, o futebol brasileiro viveu o auge na questão de público nos estádios. Os grandes clássicos e as partidas decisivas atraíam multidões, eram jogos com públicos de cem mil pessoas. Em São Paulo, até mesmo as equipes do interior lotavam seus estádios cada vez que jogava contra um clube da capital. Era uma época completamente diferente e inesquecível para quem gosta de futebol e vivenciou aqueles momentos em que este esporte era algo realmente popular, bem diferente dos dias atuais, onde os estádios estão sendo substituídos pelas arenas e os ingressos com preços absurdos afastam o público.

Este documentário dirigido pelo fotógrafo e produtor húngaro Thomaz Farkas, que viveu grande parte de sua vida no Brasil, é um fantástico registro histórico, ao mostrar todos os detalhes que cercavam uma grande partida de futebol. A câmera de Farkas capta a chegada das torcidas, o trabalho da polícia, os cânticos e as reclamações dos torcedores, as entrevistas dos jogadores e a festa que acontecia nas arquibancadas. Papel picado, rolos de papel higiênico, faixas e bandeiras tremulando davam um colorido todo especial ao futebol, enquanto hoje vemos cada mais vez um triste processo de higienização das arquibancadas, tanto pela proibição destes adereços, quanto pelo novo público, hoje quase todo da classe média. Já o chamado “povão” foi deixado de lado na nova ordem do futebol. O doc deixa isso bem claro ao mostrar os rostos daquela época, em sua maioria pessoas simples que tinham no futebol seu lazer principal.

Finalizando, outro detalhe interessante é que poucos torcedores iam ao estádio com a camisa do time, diferente dos dias de hoje em quase a totalidade dos frequentadores vestem a camisa do clube de coração.

O documentário está disponível no Youtube.

O Que Era Aquilo? (Brasil, 2013) – Nota 7,5
Direção – André Patroni, Kleomar Carneiro e Paulo Henrique Higa
Documentário 

Em 6 de março de 1982, no estádio Morenão (Pedro Pedrossian) em Campo Grande no Mato Grosso do Sul, Operário e Vasco da Gama jogavam pelo campeonato brasileiro quando no meio do primeiro tempo uma luz muito forte surgiu nos céus chamando a atenção do público e até dos jogadores, que começaram a olhar para o alto. Grande parte das vinte e quatro mil pessoas que assistiram ao jogo viram a luz, resultando na aparição de OVNI com o maior número de espectadores da história, fato que aumenta a credibilidade do evento, como cita no documentário o famoso ufólogo Ademar José Gevaerd, editor da revista UFO e um dos maiores especialistas do mundo no assunto. 

O documentário foca este evento na primeira parte através de depoimentos de várias pessoas, inclusive jogadores que participaram da partida e que até hoje não entendem o que era aquela luz. O doc mostra ainda cenas do jogo que foi transmitido ao vivo para o Rio de Janeiro, porém como na época as emissoras de tv utilizavam apenas uma câmera para transmissão de partidas de futebol, não existiam celulares e nem máquinas fotográficas digitais, o fenômeno não foi captado. 

A segunda parte do doc muda foco para a decadência do futebol no Estado do Mato Grosso do Sul. Nos anos setenta a ditadura utilizou o futebol como instrumento de propaganda política através de uma integração nacional, fazendo com que todos os Estados tivessem equipes no campeonato nacional, chegando ao absurdo de noventa e seis times no torneio de 1979. A partir da criação do Clube dos Treze em 1987, os maiores times do país pressionaram o CBF para diminuir o número de participantes para apenas dezesseis clubes. Nos anos seguintes ocorreram várias mudanças, até chegarem a vinte times na primeira divisão. Se por um lado isso fortaleceu os clubes grandes que recebem milhões em direitos de tv e patrocínios, os clubes menores e outros que eram grandes nos seus Estados foram deixados de lado e entraram em decadência. 

Os diretores do doc fazem uma ligação irônica dizendo que a luz do OVNI levou o futebol sul matogrossense para o espaço, já que o Operário era uma equipe forte até meados dos anos oitenta e hoje sequer disputa o campeonato regional. 

Como opinião pessoal, considero um absurdo um país continental como o Brasil ter um campeonato nacional com apenas vinte clubes, deixando de fora vários Estados como Pará, Mato Grosso do Sul e quase todo o nordeste, locais onde o povo adora futebol. A longo prazo isso pode ser um tiro no pé, pois quem acompanha futebol percebe que a cada ano o público é menor no estádios e muitos garotos hoje preferem torcer para times do exterior do que para as equipes brasileiras. 

Este doc também está disponível no Youtube.

domingo, 30 de março de 2014

Uma Cidade Sem Passado

Uma Cidade Sem Passado (Das Schreckliche Mädchen, Alemanha Ocidental, 1990) – Nota 7,5
Direção – Michael Verhoeven
Elenco – Lena Stolze, Hans Reinhard Muller, Monika Baumgartner, Elisabeth Bertram, Michael Gahr, Robert Giggenbach.

Em meados dos anos setenta, numa cidade do interior da então Alemanha Ocidental, a adolescente Sonja (Lena Stolze) vence um concurso nacional de redação e se torna a queridinha da professora de literatura. Esta mesma professora inscreve Sonya em outro concurso onde um dos temas é “Como era sua cidade na época do III Reich”. Para susto da professora, Sonja escolha o tema, mas diz que pretende escrever como a Igreja lutou contra o nazismo. 

Não demora para Sonja descobrir que habitante algum do local deseja falar sobre o fato, exceto uma velha senhora que antes de morrer cita que a única pessoa da cidade presa como nazista ao final da guerra foi o prefeito e que o culpado era um sujeito apelidado de “Heinrich Marrom”. As dificuldades fazem Sonja desistir da pesquisas, mas não esquecer do tema. Após alguns anos, já casada e com filhos, ela decide estudar história e recomeça suas pesquisas, fato que desenterrará segredos e fará grande parte da cidade se voltar contra ela e sua família. 

O diretor alemão Michael Verhoeven (sem ligação alguma com o holandês Paul Verhoeven), que já havia cutucado as feridas do nazismo em “A Rosa Branca” de 1982, também protagonizado por Lena Stolze, aqui remexe ainda mais nas tristes lembranças do povo alemão. 

Os letreiros iniciais informam que o filme é uma ficção, mas ao mesmo tempo poderia ser realidade em qualquer cidade da Alemanha, além de mostrar um poema que cita como as pessoas tendem a apagar as lembranças que lhe são vergonhosas. 

A partir daí, o roteiro do próprio diretor faz uma severa e ao mesmo inteligente crítica à sociedade alemã, que varreu para debaixo do tapete muitos crimes cometidos por pessoas poderosas que apoiavam o nazismo e que após a guerra tentaram reescrever suas histórias de vida, algo muito parecido com que ocorre no Brasil e em toda a América do Sul em relação as ditaduras que reinaram entre os anos sessenta e oitenta. Por aqui, torturadores e terroristas tentam modificar suas biografias se autoproclamando patriotas e defensores da liberdade, sem que lado algum assuma sua culpa. 

O longa de Verhoeven mostra também como estas pessoas que continuam no poder fazem de tudo para dificultar o acesso a informação. A luta da personagem de Lena Stolze em busca dos fatos é uma verdadeira saga repleta de obstáculos, muitos deles ridículos e imorais. 

É interessante a escolha do diretor em criar cenas simbólicas e quase surreais, como a reunião da família de Sonja no que seria na sala de sua casa, porém com a praça da cidade ao fundo, ou os depoimentos dos personagens olhando direto para a câmera, inclusive utilizando a protagonista como narradora. 

O resultado é um filme obrigatório para entender como a história é sempre manipulada pelos poderosos e os vencedores. 

Como curiosidade, as cenas do passado são em preto e branco e as demais coloridas. 

O longa também concorreu ao Oscar de Filme de Estrangeiro. 

sábado, 29 de março de 2014

A Casa do Espanto I e II


A Casa do Espanto (House, EUA, 1986) – Nota 7
Direção – Steve Miner
Elenco – William Katt, George Wendt, Richard Moll, Kay Lenz, Mary Stavin.

Em poucos meses, a vida de Roger Cobb (William Katt) vira de ponta cabeça. Seu filho pequeno desaparece na piscina da casa de sua tia, que algum tempo depois comete suicídio. Neste meio tempo, o casamento de Roger com Sandy (Kay Lenz) também acaba. Para recomeçar a vida, Roger se muda para a casa da tia com o objetivo de escrever um livro de memórias sobre sua experiência na Guerra do Vietnã. Não demora para situações estranhas começaram a acontecer e ele perceber que a casa é assombrada. 

Produzido por Sean S. Cunninghan, o criador da série “Sexta-Feira 13” e pelo mestre dos filmes B Roger Corman, que não aparece nos créditos, este longa é uma divertida mistura de terror e comédia que fez sucesso nos cinemas. 

O grande acerto do diretor Steve Miner, que comandou “Sexta-Feira 13 partes II e III”, foi brincar com o espectador criando sustos que logo em seguida se transformam em risada, sendo assim na cena do espelho por exemplo. 

A participação do gordinho George Wendt da série “Cheers” como o vizinho é outro destaque que auxilia no contraponto cômico da narrativa.

O ator William Katt era famoso por protagonizar a série “Super-Herói Americano” (The Greatest American Hero), porém não conseguiu se firmar na carreira.

A Casa do Espanto II (House II: The Second History, EUA, 1987) – Nota 5
Direção – Ethan Wiley
Elenco – Arye Gross, Jonathan Stark, Royal Dano, Bill Maher, John Ratzenberger, Lar Park Lincoln, Amy Yasbeck, Dwier Brown.

Jesse (Arye Gross) vai morar na casa que seu tataravô construiu e onde seus pais foram assassinados quando ele ainda era bebê. Junto com a namorada (Lar Park Lincoln) e um amigo (Jonathan Stark), Jesse acredita que o tataravô tenho deixado uma fortuna escondida. Escavando o porão, Jesse encontra o corpo do tataravô (Royal Dano) e uma caveira de cristal, que ao ser tocada faz o velho reviver. Para complicar ainda mais a situação, aparece um sujeito de outra dimensão que rouba a caveira. Jesse e seu amigo começam uma caçada dentro da enorme casa para recuperar a caveira e afastar as forças do mal. 

Como era comum nos anos oitenta, qualquer filme de terror que fizesse algum sucesso resultava numa sequência produzida o mais rápido possível. Foi o que aconteceu com este filme, que foi novamente produzido por Sean S. Cunningham e agora dirigido por Ethan Wiley, roteirista do original que aqui também assina o roteiro, porém cria uma trama sem ligação alguma com a história original, apenas a casa é a mesma. Para piorar, o roteiro é uma verdadeira salada russa  sendo contar que as cenas não assustam e nem mesmo fazem rir.

O único ponto de destaque é o personagem do tataravô interpretado pelo veterano Royal Dano, que cria uma sujeito ranzinza que solta frases engraçadas geralmente criticando as diferenças entre a época em que vivia e o mundo que ele reencontrou.

A série ainda rendeu a parte III que apresenta uma outra história sem ligação alguma com estes dois filmes e uma parte IV que tentou voltar ao original sendo protagonizada por William Katt, porém são dois longas que foram lançados direto em video e acabaram esquecidos nas prateleiras das locadoras.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Dinheiro Sujo

Dinheiro Sujo (Cold Comes the Night, EUA, 2013) – Nota 5,5
Direção – Tze Chun
Elenco – Alice Eve, Bryan Cranston, Logan Marshall Green, Ursula Parker, Leo Fitzpatrick, Erin Cummings, Robin Lord Taylor, Sarah Sokolovic.

Chloe (Alice Eve) é a gerente de um decadente motel de uma pequena cidade quase na divisa com o Canadá. Ela cuida da filha pequena (Ursula Parker) e está sendo pressionada por uma agente do serviço social para mudar de emprego, caso contrário a mulher ameaça tirar a filha dos seus cuidados. Precisando de dinheiro para a mudança, Chloe tem ligação com um policial corrupto (Logan Marshall Green), com quem faz negócios para ganhar alguns trocados. 

A chance de mudar de vida surge quando um assassino (Bryan Cranston) e seu ajudante (Robin Lord Taylor), que estão transportando alguns milhares de dólares, decidem passar a noite no motel e o ajudante se envolve em um crime com uma prostituta. Com a chegada da polícia, o assassino precisa da ajuda de Chloe para reaver o dinheiro, que aceita com a condição de ficar com metade do valor. 

O filme segue a linha das tramas onde não existem heróis, todos os personagens são gananciosos e não medem esforços para enganar os parceiros. 

O que poderia render um longa interessante, se perde na trama sem surpresas e com alguns furos, no ritmo irregular e nas interpretações ruins. Alice Eve é fraca e Logan Marshall Green totalmente canastrão, até o astro de “Breaking Bad” Bryan Cranston não convence como a o assassino que fala com um estranho sotaque do leste europeu. 

A única cena de destaque é a do tiroteio dentro do carro, que mostra apenas o veículo balançando enquanto voam tiros para todos os lados.  

quinta-feira, 27 de março de 2014

Azul É a Cor Mais Quente

Azul É a Cor Mais Quente (La Vie d’Adele – Chapitres 1 et 2, França / Bélgica / Espanha, 2012) – Nota 8
Direção – Abdllatif Kechiche
Elenco – Lea Seydoux, Adele Exarchopoulos, Salim Kechiouche, Aurelie Recoing, Catherine Salee.

A adolescente Adele (Adele Exarchopoulos) estuda literatura no colégio com o objetivo de se tornar professora. Levando uma vida de adolescente comum ao lado dos pais e dos amigos, Adele se envolve com um garoto e rapidamente descobre que a relação não a satisfaz. Num determinado dia, após uma situação constrangedora, Adele sai com um amigo de colégio que a leva para um bar gay, local onde ela conhece Emma (Lea Seydoux), uma jovem um pouco mais velha que estuda artes e tem os cabelos azuis. A atração mútua se transforma numa relação apaixonada e fortemente sexual. 

Chamado de pornográfico por alguns e de obra-prima por outros, considero que este longa fica no meio do caminho entre os dois termos, na realidade é um ótimo drama sobre amor e as descobertas da juventude intercaladas por cenas de sexo quentes que beiram o explícito, ao mesmo tempo sendo sequências extremamente realistas e interpretadas com uma entrega total das atrizes. 

O desenvolvimento das personagens é um dos pontos altos, tendo a um pouco mais experiente Lea Seydoux interpretando a jovem intelectual totalmente segura com sua sexualidade, enquanto a quase novata Adele Exarchopoulos é a garota insegura, sensível e que esconde seu fogo por trás do rosto angelical. 

A narrativa segue alguns anos na vida das garotas, principalmente focando em Adele, mostrando sua passagem da adolescência para a vida adulta, porém o diretor tunisiano Kechiche deixa algumas situações de lado, fazendo o espectador imaginar o que ocorreu. Por exemplo, não vemos o momento em que Adele conta para sua família que está apaixonada por uma garota, apenas ficando implícito no desenrolar da trama que houve um rompimento. 

O título original é “A Vida de Adele – Capítulos 1 e 2”, o que demonstra que o diretor pensava em uma sequência, porém pipocaram na imprensa noticias de que as atrizes disseram que jamais voltariam a trabalhar com Kechiche, dizendo que a relação com o sujeito foi muito ruim, até mesmo a palavra abuso foi citada. Pela fortes sequências de sexo fica claro que no mínimo o diretor é um voyeur e que com certeza pressionou as atrizes ao extremo. 

O resultado é um ótimo drama, que além das cenas de sexo, tem outras boas sequências como a da discussão sobre preconceito na escola que termina em briga, as cenas no banco do parque e as várias outras em que a bela Adele mostra sua insegurança, seja ao tropeçar nas palavras ou desabar em lágrimas.        

quarta-feira, 26 de março de 2014

Trilogia Millenium

Os Homens que Não Amavam as Mulheres (Män Som Hatar Kvinnor, Suécia / Dinamarca / Alemanha / Noruega, 2009) – Nota 8,5
Direção – Niels Arden Oplev
Elenco – Michael Nyqvist, Noomi Rapace, Lena Endre, Sven Bertil Taube, Peter Andersson, Annika Hallin, Sofia Ledarp, Jacob Erickssen.

O jornalista Mikael Blomkvist (Michael Nyqyvist) é o chefe de uma revista especializada em reportagens investigativas chamada Millenium. Blomkvist está sendo processado por um poderoso empresário que alega ter sido acusado injustamente de associação a uma rede de crime organizado, sendo que na verdade o sujeito utiliza sua influência para manchar a imagem do jornalista, que acaba condenado a três anos de prisão. 

Antes de cumprir a pena, Blomkvist é procurado por outro empresário, o veterano Henrik Vanger (Sven Bertil Taube), que vive numa enorme casa no interior da Suécia e que há quarenta anos tenta descobrir o que aconteceu com sua sobrinha que desapareceu sem deixar vestígios. 

Em paralelo, Lisbeth Salander (Noomi Rapace) é uma jovem hacker que trabalha para uma empresa de segurança e que investigou Blomkvist a pedido de Henrik Vanger. Lisbeth ficou presa em um sanatório por toda a adolescência, se transformando numa jovem solitária que tem o corpo coberto de piercings e tatuagens. Durante a investigação sobre o paradeiro da sobrinha de Vanger, os caminhos de Lisbeth e Blomkvist se cruzam. 

Este é com certeza o melhor filme da trilogia, principalmente pela complexa trama extremamente bem amarrada, que inclui violência, abuso sexual, ganância, corrupção e até nazismo. O que poderia se tornar um bagunça, resulta num ótimo drama policial que apresenta surpresas até o final. 

O grande destaque do elenco é a jovem Noomi Rapace, que após o trabalho nesta trilogia foi a protagonista de “Prometheus”. A atriz interpreta com perfeição a jovem que tem uma inteligência acima da média, mas que vive traumatizada pelos abusos que sofreu e por este motivo não consegue se relacionar normalmente.

Ainda não assisti a refilmagem americana para comparar.   

A Menina que Brincava com Fogo (Flickan Som Lekte Med Elden, Suécia / Dinamarca / Alemanha, 2009) – Nota 7,5
Direção – Daniel Alfredson
Elenco – Michael Nyqvist, Noomi Rapace, Lena Endre, Peter Andersson, Annika Hallin, Sofia Ledarp, Jacob Erickssen, Georgi Staykov, Anders Ahlbom, Mikael Spreitz.

Após fugir da Suécia no final do longa original, Lisbeth Salander (Noomi Rapace) decide voltar para obrigar seu tutor a declarar para a justiça que ela pode ser liberada para levar uma vida normal. Lisbeth não imagina que o sujeito tem ligação com um grupo ligado ao governo que agia ilegalmente e que tinha seu violento pai como um dos integrantes. 

O homem acaba assassinado, assim como um casal em que o homem era um jornalista que trabalhava para Mikael Bloomkvist (Michael Nyqyvist) e que estava perto de conseguir provas para incriminar pessoas influentes ligadas a este grupo. Lisbeth se torna a principal suspeita dos crimes e mesmo a distância, Blomkvist investiga o caso por conta própria para provar a inocência da amiga. 

Esta sequência foca mais no passado de Lisbeth, mostrando em flashback o sofrimento da garota no sanatório e apresenta novos personagens que carregam segredos perigosos. Além da atuação de Noomi Rapace, vale destacar a gigante assassino vivido pelo estranho Mikael Spreitz, um dos vilões mais assustadores dos últimos anos.  

A Rainha do Castelo de Ar (Luftslottet Som Sprängdes, Suécia / Dinamarca / Alemanha, 2009) – Nota 7,5
Direção – Daniel Alfredson
Elenco – Michael Nyqvist, Noomi Rapace, Lena Endre, Annika Hallin, Sofia Ledarp, Jacob Erickssen, Georgi Staykov, Anders Ahlbom, Mikael Spreitz.

Após tentar matar o pai e quase morrer nas mãos do gigante assassino (Mikael Spreitz), Lisbeth (Noomi Rapace) fica muito ferida e vai parar no hospital, onde fica sob custódia da polícia. Após tentar matar Lisbeth sem sucesso, a última chance que o grupo clandestino tem para não ser exposto é ajudar a promotoria a condenar a garota pela tentativa de assassinato. Eles utilizam até mesmo o falso testemunho do corrupto psiquiatra que manteve Lisbeth no sanatório. Para ajudar a Lisbeth, Blomkvist (Michael Nyqyvist) indica sua irmã Annika (Annika Hallin) para defender a garota no tribunal e se alia a polícia que também investiga o caso. Como consequência, Blomkvist e seus parceiros de revista passam a receber ameaças. 

O fechamento da trilogia tem como ponto principal o julgamento de Lisbeth, situação em que se descobre mais sobre o passado da garota e todos os segredos do grupo vem à tona. 

Mesmo com o original sendo o melhor da trilogia, principalmente pela história mais complexa, estas duas sequências são longas acima da média que valem a sessão. 

terça-feira, 25 de março de 2014

Empire Falls

Empire Falls (Empire Falls, EUA, 2005) – Nota 8
Direção – Fred Schepisi
Elenco – Ed Harris, Philip Seymour Hoffman, Helen Hunt, Paul Newman, Robin Wright Penn, Aidan Quinn, Joanne Woodward, Dennis Farina, William Fichtner, Estelle Parsons, Theresa Russell, Kate Burton, Jeffrey DeMunn, Trevor Morgan, Danielle Panabaker, Lou Taylor Pucci.

Na decadente cidade industrial de Empire Falls no Maine, Miles Roby (Ed Harris) é o gerente da principal lanchonete, cargo que ocupa há mais de vinte anos, desde que desistiu dos estudos e decidiu ficar na cidade para cuidar da mãe (Robin Wright Penn) que estava doente. 

Esta escolha o persegue por toda vida, sendo um dos fatores que fez sua ex-esposa Janine (Helen Hunt) trocá-lo por Walt (Dennis Farina), o proprietário de uma academia. Miles tem ainda uma boa relação com a filha adolescente (Danielle Panabaker), enfrenta problemas com o pai alcoólatra (Paul Newman) e precisa lidar com a arrogante Francine (Joanne Woodward), a mulher mais rica da cidade e dona da lanchonete. 

Baseado num livro vencedor do Prêmio Pulitzer, esta obra foi produzida como minissérie pela HBO e venceu o Globo de Ouro, além dos prêmios de Melhor Ator Coadjuvante para Paul Newman no Globo de Ouro e no Emmy, sendo este o último trabalho do ator. 

Por sinal, o elenco é o grande destaque, que além dos citados tem ainda Philip Seymour Hoffman como um misterioso sujeito que tem um romance com a personagem de Robin Wright, situação mostrada em flashbacks. 

É um típico drama baseado em personagens próximos da realidade, que levam uma vida aparentemente simples em uma cidade pequena, mas que carregam histórias de alegrias, frustrações e segredos.  

segunda-feira, 24 de março de 2014

O Passageiro do Futuro 1 e 2


O Passageiro do Futuro (The Lawnmower Man, EUA, 1992) – Nota 5,5
Direção – Brett Leonard
Elenco – Pierce Brosnan, Jeff Fahey, Jenny Wright, Austin O'Brein, Geoffrey Lewis, Dean Norris, John Laughlin, Troy Evans.

O cientista Lawrence Angelo (Pierce Brosnan) desenvolve um estudo sobre realidade virtual, porém precisa de alguém para ser a cobaia de seu experimento. Angelo escolhe o jardineiro Jobe (Jeff Fahey), um sujeito com deficiência mental. Angelo liga o cérebro de Jobe a um computador e a experiência funciona, com o pobre rapaz participando de um estranha viagem virtual. O que o cientista não imaginava é que a experiência modificaria o cérebro de Jobe, que aumentaria sua capacidade intelectual e este começaria a pensar por si mesmo, se rebelando contra o “mestre”.

Quando foi lançado, este filme chamou a atenção por dois motivos. Primeiro pela briga entre o escritor Stephen King e os produtores, que utilizaram o mesmo título de um livro do autor, inclusive espalhando na mídia quer seria uma adaptação, porém a história é completamente diferente do livro.

O segundo ponto foram os efeitos especiais criados em computador, uma novidade na época em que o CGI ainda estava engatinhando, o que para muitos resultaria num filme que marcante, porém o resultado foi bem diferente.

Passada a curiosidade, o público e a crítica percebeu que o longa era uma ficção com história rasa comandada por um diretor sem talento, que ainda cometeria outra bomba, o fraco “Assassino Virtual” com Denzel Washington e Russell Crowe.

Na época, Pierce Brosnan que tentava migrar a carreira da tv para o cinema e o canastrão Jeff Fahey que ainda sonhava em se tornar astro, pouco puderam fazer neste longa equivocado.

O Passageiro do Futuro 2 – Dominando o Ciberespaço (Lawnmower Man 2: Beyond Cyberspace, EUA, 1996) – Nota 3
Direção – Farhad Mann
Elenco – Patrick Bergin, Matt Frewer, Austin O’Brien, Kevin Conway.

Após ser ressuscitado pelo dr. Walker (Kevin Conway), o jardineiro Jobe (agora vivido por Matt Frewer) faz contato telepático com o adolescente Peter (Austin O’Brien, o único ator do original que trabalha nesta sequência), avisando que o cientista criou um chip para interligar em rede todos os computadores do mundo com seu cérebro e assim instalar o caos cibernético. Para enfrentar a ameaça, Peter procura o dr. Trace (Patrick Bergin), que teve suas pesquisas roubadas por Walker e por isso é o único que pode impedir os planos do cientista louco. 

Produzir sequências de filmes ruins é quase uma praga em Hollywood, neste caso o absurdo é gigantesco, pois o original já era um filme totalmente descartável. Esta sequência tenta se apoiar nos efeitos especiais que já estavam mais avançados e na trama sobre uma catástrofe cibernética numa época em que internet começava a a virar realidade, porém resultado é desastroso. 

Pouca coisa se salva neste salada virtual indigesta, inclusive o péssimo elenco encabeçado pelo canastrão Patrick Bergin e o estranho Matt Frewer, que foi escolhido pelo papel por ter interpretado uma espécie de “repórter virtual” na cult série dos anos oitenta chamada “Max Hedroom”. 

domingo, 23 de março de 2014

Alien - A Ressurreição

Alien – A Ressurreição (Alien: Resurrection, EUA, 1997) – Nota 7,5
Direção - Jean Pierre Jeunet
Elenco – Sigourney Weaver, Winona Ryder, Ron Perlman, Dominique Pinon, J. E. Freeman, Brad Dourif, Michael Wincott, Dan Hedaya, Gary Dourdan, Kim Flowers, Raymond Cruz, Leland Orser.

Duzentos anos após morrer enfrentando o alien que atacou a colônia penal espacial onde vivia após ser resgatada, a tenente Ripley (Sigourney Weaver) renasce clonada por cientistas em uma estação espacial. Mesmo tendo a consciência da verdadeira Ripley, o clone carrega seu DNA misturado com o do alien, o que resulta numa força fora do normal para a tenente. 

Os cientistas também recriaram os aliens assassinos, com objetivo de utilizá-los como armas, porém o experimento foge do controle as criaturas começam a atacar a estação. Além da tenente Ripley, a chance de sobrevivência está nas mãos de um grupo de mercenários. 

Considerado por muitos como o pior filme da série, este longa está longe de ser ruim, lógico que não podemos comparar com as obras de Ridley Scott e James Cameron. 

Para o espectador que gosta do gênero, a trama fantasiosa escrita para justificar a volta da personagem de Sigourney Weaver é apenas um pequeno detalhe. A personagem é um ícone da série e novamente se destaca nas ótimas cenas de ação, mesmo estando com quarenta e oito anos na época. 

Além das cenas de ação, outro ponto positivo é o visual criado pelo francês Jean Pierre Jeunet, que ficou famoso em parceria com Marc Caro nos interessantes “Delicatessen” e “Ladrão de Sonhos”, longas marcantes pelo visual colorido e criativo, estilo que Jeunet continuaria utilizando e chegaria ao auge com o ótimo “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”. 

O elenco é repleto de atores mal encarados (Ron Perlman, Brad Dourif, Michael Wincott e o estranho francês Dominique Pinon em uma cadeira de rodas turbinada com armas), tendo como seu ponto fraco a participação de Winona Ryder. Mesmo com a personagem carregando um segredo, fica dificil aceitar a atriz pequenina e com cara de menina no papel de mercenária. 

O resultado é um longa de ficção ágil, com cenas de ação competentes e muita violência. 

sexta-feira, 21 de março de 2014

O Capital

O Capital (Le Capital, França, 2012) – Nota 7,5
Direção – Costa Gavras
Elenco – Gad Elmaleh, Gabriel Byrne, Natacha Régnier, Céline Sallette, Liya Kebede, Hippolyte Girardot, Daniel Mesguich, Olga Grumberg, Bernard Le Coq, Phillipe Duclos.

Quando o presidente de um grande banco francês fica doente, os membros do conselho pensam rapidamente em escolher o novo sucessor, porém o sujeito mesmo debilitado consegue indicar como substituto o jovem (em relação aos veteranos do conselho) Marc Tourneuil (Gad Elmaleh). 

Torneuil escreveu a biografia do presidente do banco, que adorou o livro e o colocou como membro do conselho. O pensamento dos homens do conselho é manter Tourneuil no cargo até a morte do presidente atual, porém eles não contavam que a ambição do rapaz o transformasse em forte oponente e criasse uma verdadeira guerra. Para complicar ainda mais a situação, um grupo de investidores americanos tem um sujeito (Gabriel Byrne) infiltrado no conselho com o objetivo de pressionar Tourneuil a facilitar a venda das ações do banco. 

Este emaranhado de disputas políticas, mentiras e traições resulta em outro bom filme do grego Costa Gavras, especialista em dramas políticos e sociais, principalmente em mostrar a sujeira por trás dos governos e das grandes corporações. 

Aqui o alvo é o mercado financeiro, onde acionistas exigem lucrar sem se preocupar com as consequências e a sucessão de um grande cargo se transforma numa disputa tão suja como as negociações da Máfia. 

O personagem do marroquino Gad Elmaleh é o típico alpinista social ambicioso, que não mede esforços para se manter no topo e usufruir das benesses da elite, mesmo que tenha de demitir milhares pessoas ou deixar de lado a esposa (Natacha Régnier). 

Para quem gosta do gênero e do estilo de Costa Gravas, este longa é uma boa opção.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Até o Fim

Até o Fim (All Is Lost, EUA, 2013) – Nota 5
Direção – J. C. Chandor
Elenco – Robert Redford

O longa começa com a narração de uma carta ou bilhete, onde um homem pede desculpas pelos erros e diz que “ferrou tudo”, entre outras lamentações. 

Em seguida a trama volta oito dias e mostra um veleiro enchendo de água e o homem (Robert Redford), que viaja sozinho no meio do oceano, descobre que bateu em um contêiner e este furou seu barco. Como o rádio foi danificado pela água, a princípio o objetivo do sujeito é tentar contato com alguém, depois passa a ser conseguir se manter no veleiro sem afundar e no terceiro ato sobreviver no bote inflável. 

Por mais que parte da crítica tenha gostado do filme e encontrado explicações quase filosóficas sobre a luta do homem contra a natureza pela sobrevivência, aqui contra o imprevisível mar aberto, além da reflexão sobre a vida e a morte, na verdade o resultado é chato e cansativo. 

Mesmo com poucos diálogos (aqui praticamente nenhum) e apenas um personagem, é possível prender a atenção do espectador, lembre de “O Náufrago” por exemplo, mas aqui com exceção da sequência da tempestade, o restante do longa parece uma espécie de manual de sobrevivência em alto mar, que daria mais resultado como um documentário da Nat Geo. 

O veterano Robert Redford mostra boa forma em algumas sequências, mas é pouco para salvar o filme. 

O diretor J. C. Chandor, que escreveu também a história, foi muito mais feliz no incisivo “Margin Call – O Dia Antes do Fim”.

terça-feira, 18 de março de 2014

As Vantagens de Ser Invisível

As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower, EUA, 2012) – Nota 8
Direção – Stephen Chbosky
Elenco – Logan Lerman, Emma Watson, Ezra Miller, Mae Whitman, Paul Rudd, Dylan McDermott, Kate Walsh, Melanie Lynskey, Nina Dobrev, Erin Wilhelmi, Tom Savini, Joan Cusack.

Charlie (Logan Lerman) volta para a escola para iniciar o colegial após um período afastado por causa de uma profunda depressão causada pelo suicídio do amigo e de um outro trauma que será revelado apenas próximo ao final do filme. 

Tímido e sem amigos, Charlie tenta se aproximar de Patrick (Ezra Miller), garoto que o impressionou ao enfrentar um professor. O falante Patrick rapidamente trata Charlie como amigo e o apresenta a sua meio-irmã Sam (Emma Watson). A partir daí, Charlie passa a fazer parte do pequeno grupo de amigos dos meio-irmãos, fato que muda sua forma de encarar a vida, abrindo seus horizontes para as descobertas e frustrações da juventude. 

A história que parece simples em sua premissa, mas que toca em diversos dilemas enfrentados pelos jovens de forma sensível, sem contar o ótimo desenvolvimento dos personagens, é uma adaptação de um livro do próprio diretor Chbosky e provavelmente por isso o tratamento dado aos personagens seja extremamente carinhoso. 

O ótimo roteiro amplia o interesse do público ao mostrar que as atitudes de cada personagem está ligada a seu passado. O sofrimento e a timidez do protagonista tem uma explicação, assim como as escolhas erradas da personagem de Emma Watson e até mesmo a atitude do professor vivido por Paul Rudd, que vê no personagem de Charlie um reflexo dele próprio quando adolescente. 

Tudo isso é valorizado ainda mais pela atuação do trio principal. Logan Lerman que já trabalhou em filmes conhecidos como “Número 23” e “Os Indomáveis”, mostra que tem potencial para se tornar um grande ator, assim como Ezra Miller, que teve uma grande atuação como o assustador garoto de “Precisamos Falar Sobre o Kevin”, enquanto a bela Emma Watson mostra a cada novo filme que a garotinha de Harry Potter cresceu e se tornou boa atriz. 

Finalizando, mesmo sem especificar o ano, a história se passa no início da década de noventa e é pontuada por uma deliciosa trilha sonora da época, com exceção da clássica “Heroes” de David Bowie, sucesso dos anos setenta que toca em algumas sequências importantes do filme.    

segunda-feira, 17 de março de 2014

Bem-Vindo a São Paulo

Bem-Vindo a São Paulo (Brasil, 2004) – Nota 4
Direção – Leon Cakoff, Wolfgang Becker, Renata de Almeida, Maria de Medeiros, Hanna Elias, Amos Gitai, Mika Kaurismaki, Jim McBride, Philip Noyce, Ming Lian Tsai, Andrea Vechhiato, Caetano Veloso, Kiju Yoshida.
Documentário

Filmes em episódios com vários diretores quase sempre resultam em obras irregulares, neste caso a situação foi ainda pior, pois não é especificamente um filme, mas sim “visões” de vários diretores sobre a cidade de São Paulo. Cada segmento mostra locais da cidade, quase todos entre a região central e Av. Paulista, com o objetivo de entender a visão do estrangeiro em relação a São Paulo. 

Talvez por eu morar aqui a vida inteira e conhecer todos estes lugares mostrados, os registros pareceram enfadonhos e a narração de Caetano Veloso acentua o tom pretensioso que tenta criar algo como “a pobreza vista por intelectuais”.  

Vemos a Praça da Sé, a feira da Santa Cecília, o Elevado (Minhocão) durante a semana repleto de carros e aos domingos com pedestres, um ensaio de escola de samba no bairro do Bixiga e o bairro oriental da Liberdade, lugares comuns para o paulistano, porém o que mais me incomodou foi o segmento dirigido pelo falecido Leon Cakoff, que deixou um imenso legado como grande idealizador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, mas que aqui errou feio ao filmar um jovem com visíveis distúrbios mentais, que vive na região da Paulista e que Cakoff alegava que o cineasta iraniano Abbas Kiarostami havia visto na rua anos antes e que desejava fazer um documentário sobre o rapaz. Na minha opinião foi algo totalmente equivocado, a conversa sobre cinema de Cakoff com o jovem foi surreal, na verdade o rapaz precisava de ajuda como ser humano, não ser tema para possível documentário.  

domingo, 16 de março de 2014

007 Marcado para a Morte

007 Marcado para a Morte (The Living Daylights, Inglaterra, 1987) – Nota 7
Direção – John Glen
Elenco – Timothy Dalton, Maryam D'Abo, Art Malik, John Rhys Davies, Joe Don Baker, Jeroen Krabbé, Desmond Llewelyn, Robert Brown, Walter Gotell.

James Bond (Timothy Dalton) tem a missão de ajudar o general russo Koskov (Jeroen Krabbé) a fugir para o ocidente. Koskov, que deseja desertar e está em Bratislava (na antiga Tchecoslováquia), alega ter segredos sobre outro general russo (John Rhys Davies), que teria reativado a KGB com o intuito de espionar os países do ocidente. Bond consegue resgatar o sujeito, mas fica em dúvida quanto a história contada pelo sujeito e decide investigar, chegando até uma bela violinista (Maryam D’Abo) que seria namorada de Koskov e a quem ele utiliza como isca para descobrir a verdade. 

Com a aposentadoria de Roger Moore do papel de James Bond, os produtores que desde o início dos anos oitenta pensavam em um novo ator para o personagem, mas tinham dificuldade para escolher o substituto, desta vez não tiveram outra saída. Eles escolheram Timothy Dalton, ator desconhecido do grande público e que tinha sua carreira quase toda na tv. O público e a crítica ficaram com um pé atrás com a escolha, o que com certeza prejudicou a carreira do ator na série, que fez apenas mais um filme antes de perder o papel. 

Mesmo este longa tendo os ingredientes comuns a série, como uma boa trama, cenas de ação bem filmadas e rodar por vários países como Tchecoslováquia, Áustria, Inglaterra e Marrocos, faltou algo mais, talvez um pouco de carisma para Dalton. 

O filme seguinte chamado “007 Permissão para Matar” tentou dar um novo fôlego ao personagem com uma trama mais violenta, o que resultou até num filme melhor do que este, na minha opinião é claro, mas o público não comprou a ideia e a carreira de Dalton como Bond estava encerrada. 

Esta foi a época em que a série passou por sua maior crise, com um hiato de seis anos até a estreia de Pierce Brosnan em “007 Contra GoldenEye”. 

sábado, 15 de março de 2014

Cannon Group

Escrever sobre os grandes estúdios e os produtores famosos não é meu foco, porém eu considero interessante a história da Cannon Group, que pode ser comparada com as aventuras picaretas que ela mesma produziu durante os anos oitenta.

Os cinéfilos que viveram na época com certeza se lembram da América Vídeo, empresa distribuidora dos filmes da Cannon no Brasil. Em cada fita VHS antes de começar o filme, o cinéfilo era "presenteado" com a famosa propaganda da Pousada do Sandi de Parati, que deveria ter alguma ligação extremamente próxima com os donos da distribuidora e principalmente pelos intermináveis trailers dos "sucessos" da Cannon. No final de um clip com diversas cenas de ação destes filmes, o narrador soltava a frase "nossos filmes explodem como dinamite", o que era quase uma piada, pois a maioria dos longas eram verdadeiras bombas.

Tudo começou nos anos sessenta em Israel, quando os primos Menahem Golan e Yoram Globus produziram filmes que fizeram algum sucesso no país. Em meados dos anos setenta, o objetivo da dupla era alcançar o mercado internacional. Para atingir o objetivo, o primeiro passo foi produzir um longa protagonizado por atores americanos conhecidos. Eles conseguiram contratar Robert Shaw,  Richard Roundtree, Barbara Hershey e Shelley Wintes para um filme sobre um assalto chamado "Diamantes". Os quatro eram famosos na época, mas mesmo assim o filme não chamou a atenção.

O sucesso acabou chegando de forma inesperada com "Operação Thunderbolt" de 1977, longa que tinha como rostos conhecidos apenas o veterano problemático Klaus Kinski  e a estrela de filmes B Sybil Danning. A trama sobre a história real do sequestro de um avião que saiu de Israel e foi levado para Uganda fez a dupla de produtores ficar conhecida fora de Israel.

No ano seguinte conseguiram novo sucesso. A comédia adolescente "Lemon Popsicle" foi um estouro de bilheteria em Israel, enchendo o bolso da dupla que viu assim a chance de chegar a Hollywood.

Em 1979 eles criaram a Cannon e começaram a produzir filmes de baixo orçamento direto em solo americano, com destaque para "Ninja - A Máquina Assassina", que tinha o italiano Franco Nero e o japonês Sho Kosugi lutando Kung Fu e que fez algum sucesso, mesmo sendo um longa rudimentar.

A chance de crescimento surgiu quando o produtor italiano Dino de Laurentiis desistiu da sequência de "Desejo de Matar" e vendeu os direitos para a Cannon. O próprio Menahem Golan queria dirigir, mas o astro Charles Bronson disse que somente faria o filme se a direção ficasse com seu amigo Michael Winner, que comandou o original. Bronson conseguiu seu objetivo e o filme fez sucesso.

No mesmo ano (1982), a Cannon teve outro sucesso com a refilmagem de "Lemon Popsicle", que foi rebatizado como "O Último Americano Virgem". O título sacana e as cenas de nudez fizeram o filme ser lançado por aqui apenas em 1984 com censura para dezoito anos.

A partir daí a produtora passou a investir basicamente em três tipos de filmes que resultaram em poucos sucessos e diversos fracassos. O filmes de ação eram o foco principal, quase todos com baixo orçamento e encabeçados por um astro. Charles Bronson (outras três sequências de "Desejo de Matar" e vários longas policiais), Chuck Norris ("Invasão aos EUA", "Bradock I, II e III" e "Aventureiros do Fogo"), Michael Dudikoff  (a série "Guerreiro Americano - American Ninja") e Richard Chamberlaind ("As Minas do Rei Salomão" e "Allan Quatermain e a Cidade do Ouro Perdido"), sem contar diversos outros filmes ainda mais fracos.

O segundo tipo eram filmes que se seriam considerados de arte, como "Camorra" de Lina Wertmuller, o drama erótico "Berlin Affair" de Liliana Cavani, "Os Amantes de Maria" e "O Expresso para o Inferno" de Andrey Konchalovsky, "Louco de Amor" de Robert Altman e "Barfly" de Barbet Schroeder que são os exemplos principais. São longas interessantes, porém todos deram prejuízo.

O terceiro estilo foi aquele que levou a produtora a falência nos anos noventa. Os filmes de ação que citei davam um razoável retorno nas bilheterias e um grande lucro no mercado de vídeo que estava em expansão na época. Provavelmente a ganância em aumentar o lucro e o ego da dupla de donos para transformar a produtora numa gigante, fizeram com que a Cannon começasse a investir em grandes produções e quebrasse a cara.

Os primeiros grandes fracassos da produtora ocorreram em 1984, quando o drama político "O Embaixador" (último trabalho de Rock Hudson no cinema) e a horrorosa aventura "Bolero" dirigida por John Derek e estrelada por sua esposa, a "mulher nota mil" Bo Derek, naufragaram nas bilheterias.

No ano seguinte a ficção "Força Sinistra" até fez sucesso nos cinemas, porém o enorme orçamento que estourou várias vezes, principalmente pelos problemas com o diretor enganador Tobe Hooper resultou em um grande prejuízo. A produtora gastou muito dinheiro contratando profissionais do primeiro escalão de Hollywood para a parte técnica e para os efeitos especiais, que realmente se mostraram ótimos para época, porém a narrativa confusa deixou o filme aquém do potencial.

Em 1986 a situação melhorou para Cannon com dois sucessos de bilheteria. Golan conseguiu contratar Sylvester Stallone para a filmagem de "Cobra", que não é um grande filme, mas que fez sucesso. O outro acerto foi a aventura "Comando Delta", que era uma refilmagem turbinada de "Operação Thunderbolt" do mesmo Golan e que trazia um grande elenco encabeçado por Chuck Norris e pelo veterano Lee Marvin. Analisando friamente como cinema o filme tem muitas falhas, mas como diversão ele é ótimo. Como informação, esta mesma trama tem uma outra versão de 1976 chamada "Resgate Fantástico" que foi dirigida pelo também israelense Irvin Kershner.

Em contrapartida, outros três filmes caros da produtora fracassaram no mesmo ano. O policial "Nenhum Passo em Falso" de John Frankenheimer e outros dois trabalhos de Tobe Hooper, a ficção "Invasores de Marte" e a continuação de "O Massacre da Serra Elétrica". Estes péssimos trabalhos afundaram a carreira de Hooper e empurraram um pouco mais a Cannon para o buraco.

O ano de 1987 seria decisivo para a produtora, que arriscou muito dinheiro em várias produções ao mesmo tempo e fracassou miseravelmente. Seis filmes definem o que ocorreu com a Cannon. O drama sobre o Vietnã "Hanoi Hilton" e os filmes policiais "Armação Perigosa" e "A Marca do Passado" eram as apostas como filmes sérios, sendo que o último tinha roteiro do famoso dramaturgo Norman Mailler e foi levado a disputar o Festival de Cannes onde fracassou completamente.

Os outros três filmes foram aqueles que afundaram financeiramente a Cannon. A adaptação do desenho He-Man para o cinema chamada "Mestres do Universo" foi detonada pela crítica, assim como o equivocado "Superman IV - Em Busca da Paz" e para finalizar, Golan pagou uma fortuna para Stallone protagonizar "Falcão - O Campeão dos Campeões", com a certeza de que apenas a presença do astro já renderia uma grande bilheteria, o que se mostrou um enorme erro estratégico.

Este foi o último ano relevante da produtora, que ainda produziu "O Último Dragão Branco" e "Cyborg - O Dragão do Futuro", os dois primeiros filmes de Van Damme que fizeram sucesso, principalmente em vídeo.

Em 1989 a Cannon fechou as portas, terminando a parceria de vinte e cinco anos entre Menahem Golan e Yoram Globus. Golan criaria uma nova produtora no ano seguinte, a 21st Century Film Corporation que funcionou durante alguns anos sem produzir nada relevante.

Como curiosidade, no auge da Cannon a dupla de produtores chegou a ter em mãos os direitos de adaptação para o cinema de O Homem-Aranha, mas ainda bem que o projeto não saiu do papel, mesmo lembrando que em 1990, um ano após a falência da Cannon, Golan chegou a produzir e lançar em vídeo um longa de baixo orçamento sobre "O Capitão América".

sexta-feira, 14 de março de 2014

O Lobo de Wall Street

O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street, EUA, 2013) – Nota 8,5
Direção – Martin Scorsese
Elenco – Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Matthew McConaughey, Kyle Chandler, Rob Reiner, Jon Bernthal, Jon Favreau, Jean Dujardin, Joanna Lumley, Cristin Milioti, Christine Ebersole, Shea Whigham, P. J. Byrne, Kenneth Choi, Ethan Suplee.

Em 1987, Jordan Belfort (Leonardo DiCaprio) é um jovem casado que consegue emprego como corretor numa grande empresa de Wall Street. O sonho de enriquecer dura pouco, um mês depois estoura uma crise financeira e a empresa vai a falência. 

Desempregado, Jordan pensa em desistir da carreira, até que sua esposa (Cristin Milioti) lhe mostra o anúncio de uma empresa em Nova Jersey em busca de corretores. Chegando no local, Jordan descobre que a pequena empresa trabalha com ações de valores baixos, conhecida como “Bolsa dos Centavos”. O que para qualquer corretor seria uma perda de tempo, Jordan vê uma oportunidade de ganhar dinheiro, pois o percentual das comissões são de 50% para os corretores, ao invés do 1% pago pelas grandes empresas. 

Não demora para Jordan começar a lucrar, até que decide montar a própria empresa, onde leva como braço-direito o amigo Donnie Azoff (Jonah Hill). A dupla transforma o pequeno negócio numa grande companhia, ao mesmo tempo em que aproveitam loucamente o dinheiro ganho, em festas enormes, bebidas, mulheres, sexo e drogas, até que o estilo de vida e de negócios de Jordan chama atenção de um agente do governo (Kyle Chandler). 

Baseado no livro escrito pelo próprio Jordan Belfort, que conta sua vida cheia de extravagâncias, este é mais um ótimo trabalho de Martin Scorsese, que acertadamente escolheu mostrar as atitudes de Jordan e seus amigos de uma forma exagerada, acentuando as loucuras do mundo dos yuppies nos anos oitenta. 

Este exagero faz rir em algumas passagens, como na sequência da viagem de avião para Suiça, nas festas dentro do escritório e principalmente pela narrativa cínica do personagem principal interpretado por Leonardo DiCaprio, que com certeza segue o estilo do livro de Jordan Belfort. 

Além do grande desempenho de DiCaprio, vale destacar ainda o gordinho e desbocado Jonah Hill utilizando dentes postiços e falando de forma estranha, além da pequena participação de Matthew McConaughey no início do longa, como um personagem que é uma espécie de guru que explica detalhadamente como funciona o mundo louco de Wall Street. 

quinta-feira, 13 de março de 2014

Encontro às Escuras

Encontro às Escuras (Blind Date, EUA, 1987) – Nota 6,5
Direção – Blake Edwards
Elenco – Bruce Willis, Kim Basinger, John Larroquette, William Daniels, George Coe, Mark Blum, Phil Hartman, Stephanie Faracy.

Walter Davis (Bruce Willis) é um executivo que vive apenas para o trabalho, deixando sua vida pessoal de lado. Quando sua empresa está prestes a fechar um negócio com uma companhia japonesa, Walter é pressionado a levar uma garota no jantar que selaria a negociação, desta forma para mostrar ser um sujeito responsável e confiável. 

Sem saber quem convidar, Walter acaba aceitando a sugestão de seu irmão Ted (o falecido comediante Phil Hartman), que indica a prima de sua esposa, dizendo que a jovem é bela e tímida. Quando Walter encontra a garota, fica de boca aberta com a beleza de Nadia (Kim Basinger), que surge toda de vermelha. A bela e educada garota parecia ser a companhia ideal, porém Walter não contava que após o primeiro gole de bebida, a timidez desse lugar a uma mulher direta e desbocada. 

Mesmo não tendo a quantidade de piadas engraçadas da série “A Pantera Cor-de-Rosa”, de “Victor ou Victória” ou do clássico “ Um Convidado Bem Trapalhão”, o diretor Blake Edwards entregou uma divertida comédia com a cara dos anos oitenta, tirando um sarro da seriedade do mundo dos negócios e do yuppie almofadinha interpretado por Bruce Willis. 

A primeira parte é a melhor, tendo a sequência do restaurante como a mais engraçada, porém na segunda metade o filme se torna irregular, quando entra em cena o ex-namorado de Nadia interpretado por John Larroquette. 

Na época, Kim Basinger estava no auge da carreira após o sucesso de “Nove e Meia Semanas de Amor”, enquanto Bruce Willis era famoso na tv pela série “A Gata e o Rato” e tentava a sorte no cinema. Como todos sabem, a carreira de Willis explodiu no ano seguinte com o sucesso do sensacional “Duro de Matar”.

terça-feira, 11 de março de 2014

As Aventuras de Pi

As Aventuras de Pi (Life of Pi, EUA / Taiwan / Inglaterra, 2012) – Nota 8
Direção – Ang Lee
Elenco – Suraj Sharma, Irrfan Kahn, Rafe Spall, Ayush Tandon, Gautam Belur, Adil Hussain, Tabu, Gerard Depardieu.

Pi Patel (Irrfan Kahn) é um indiano que vive em Montreal e recebe a visita de um escritor (Rafe Spall), que o procurou após uma viagem a Índia onde um senhor, o tio de Pi, disse que o sobrinho havia passado por uma história fantástica que com certeza resultaria num ótimo livro. 

Pi aceita contar sua história para o escritor, relembrando desde sua infância na Índia quando morava em um zoológico administrado por seu pai, a convivência com a mãe e o irmão mais velho, até chegar na viagem de navio que levaria sua família para viver no Canadá e que terminou de forma trágica. 

Os filmes do diretor chinês Ang Lee são sempre perfeitos na parte técnica, seja nos enquadramentos de câmera como nos efeitos visuais, tendo “O Tigre e o Dragão” como grande exemplo até este ótimo “As Aventuras de Pi”, que na minha opinião chega ao mesmo patamar de qualidade. 

O longa pode ser dividido em duas partes, com a primeira mostrando a infância e adolescência de Pi, suas descobertas e questionamentos, inclusive a curiosa religiosidade do personagem. A segunda parte se transforma numa aventura contada como se fosse uma fábula, valorizada por efeitos visuais fantásticos e uma explicação final que fecha com perfeição a bela história de superação. 

O novato Suraj Sharma dá conta do recado, carregando sozinho quase metade do filme em meio a sequências de ação extremamente criativas. 

O resultado é um belíssimo filme, com uma trama original que prende a atenção do início ao fim.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Mother - A Busca Pela Verdade

Mother – A Busca Pela Verdade (Madeo, Coréia do Sul, 2009) – Nota 8
Direção – Joon Ho Bong
Elenco – Hye Ja Kim, Bin Won, Ku Jin, Je Mun Yun.

Numa cidade do interior da Coréia do Sul, Yoon Do Joon (Bin Won) é um jovem com atraso mental que tem como único amigo o malandro Jin Tae (Ku Jin). A amizade é mal vista pela mãe de Yoon (Hye Ja Kim), que tenta proteger o filho sem muito sucesso. Quando uma adolescente é encontrada morta em uma casa abandonada, Yoon se torna o principal suspeito do crime, por ter sido visto andando pela cidade bêbado atrás da garota. 

Por causa do atraso intelectual e por estar bêbado, Yoon não consegue lembrar o que ocorreu e acaba preso. Sua mãe não se conforma com a acusação, com a falta de vontade da polícia em se aprofundar no caso e com seu próprio advogado que não tem interesse algum em defender o rapaz, situação que faz com que ela decida investigar o crime por conta própria, até descobrir a verdade. 

O diretor coreano Joon Ho Bong, que comandou agora em Hollywood “O Expresso do Amanhã”, longa muito aguardado que ainda não estreou por aqui, fez três grandes trabalhos em seu país natal. O ótimo “Memórias de um Assassino” eu considero seu melhor filme, um pouco superior aos também ótimos “O Hospedeiro” e este “Mother – A Busca Pela Verdade”, que a princípio pode causar estranheza no público desacostumado com longas orientais, principalmente pela cena da briga no campo de golfe que parece engraçada, mas logo que ocorre o crime a narrativa muda o foco para a luta da velha senhora em inocentar o filho. 

Assim como em “Memórias de um Assassino”, onde policiais incompetentes caçavam um serial killer, aqui novamente a polícia coreana é mostrada como desleixada e adepta da tortura, as cenas do interrogatório e da reconstituição do crime são exemplos. Além disso, os detalhes são importantes na trama, com situações aparentemente sem sentido que no final se encaixam perfeitamente, sem contar os objetos como o taco de golfe, o pedregulho e a caixa de agulhas. 

Joon Ho Bong já mostrou ser um grande diretor, com estilo original e ótimo domínio de câmera, inclusive para filmar sequências que parecem confusas, com vários personagens se movendo ao mesmo tempo, como a cena da briga que citei no início e a discussão entre as mulheres no funeral. 

São três filmes imperdíveis, agora é esperar para conferir sua estreia em Hollywood.   

domingo, 9 de março de 2014

Bombas - Filmes de Ficção B - Parte IV

Projeto Filadélfia (The Philadelphia Experiment, EUA, 1984) – Nota 5
Direção – Stewart Raffill
Elenco – Michael Paré, Nancy Allen, Eric Christmas, Bobby Di Cicco, Stephen Tobolowsky.

Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, o governo americano testa um nova tecnologia com o objetivo de fazer um enorme navio de guerra desaparecer dos radares. O experimento vai além do objetivo, ele cria uma espécie de buraco negro que faz o navio e os tripulantes desaparecem por alguns instantes. Quando reaparecem, o navio está destruído e os tripulantes mortos, com exceção de dois marinheiros (Michael Paré e Bobby Di Cicco) que pularam da embarcação enquanto ela era sugada pela fenda no tempo. Os dois acordam no deserto de Nevada e descobrem que estão em 1984. Eles tentam conseguir ajuda com uma jovem (Nancy Allen), ao mesmo tempo em que passam a ser perseguidos por agentes do governo. 

Este longa produzido pelo ótimo John Carpenter peca pelo roteiro ruim e fraca direção de Stewart Rafill. O material que tem como premissa a lenda do “Experimento Filadélfia”, que teria ocorrido de forma semelhante ao início do filme, com o navio sumindo e reaparecendo com todos os tripulantes mortos, era extremamente interessante e nas mãos do próprio Carpenter com certeza renderia uma marcante ficção B. O desperdício é ainda maior por ter o canastrão Michael Paré no papel principal, ator que tinha alguma fama na época após os sucessos de “Eddie – O Ídolo Pop” e “Ruas de Fogo”, mas que não vingou como astro. Como informação, o governo americano nega que o experimento tenha ocorrido, ao mesmo tempo em que na internet existem vários versões sobre a lenda.

Space Camp – Aventuras no Espaço (SpaceCamp, EUA, 1986) – Nota 5,5
Direção – Harry Winer
Elenco – Kate Capshaw, Lea Thompson, Kelly Preston, Larry B. Scott, Joaquin Phoenix, Tom Skerritt, Tate Donovan, Terry O’Quinn, Barry Primus, Scott Coffey.

Alguns filmes tem o azar de serem produzidos ao mesmo tempo em que ocorre alguma tragédia semelhante a trama. Este “SpaceCamp” foi produzido com o objetivo de ser uma propaganda de um projeto da Nasa para lançamento de Space Camps verdadeiros, que seriam uma espécie de acampamento de férias que ao invés de levar crianças e adolescentes para o campo, teria como local um laboratório onde eles aprenderiam sobre o programa espacial americano. Quando o filme estava para ser lançado, ocorreu a explosão do ônibus espacial Challenger, que inclusive levava um professora como convidada. A tragédia mostrada ao vivo na tv comoveu o público e o filme foi engavetado por meses até ser lançado e fracassar nas bilheterias. 

A história é simples, a Nasa convida um grupo de garotos para conhecer um ônibus espacial e participar de treinamentos comandados por dois astronautas (Kate Capshaw e Tate Donovan), porém por um erro o foguete é lançado ao espaço dando início a uma aventura de verdade.O filme em si é uma sessão da tarde básica, tendo como curiosidade a participação de futuros rostos conhecidos ainda bem garotos. Kelly Preston, esposa de John Travolta, era adolescente, assim como Lea Thompson de “De Volta para o Futuro” e o hoje astro Joaquin Phoenix era uma garotinho que ainda assinava com o nome de Leaf Phoenix. 

Blindado Mortal (Warlords of the 21st Century ou Battletruck, EUA, 1982) – Nota 4
Direção – Harley Cockeliss
Elenco – Michael Beck, Annie McEnroe, James Wainwright, Bruno Lawrence, John Ratzenberger.

Após uma guerra mundial que destruiu as nações causada pelo escassez de petróleo, o mundo ficou a mercê de saqueadores e assassinos que tentam sobreviver a qualquer custo. Neste cenário apocalíptico, um sujeito chamado Straker (James Wainwright) comanda um grupo de bandidos e utiliza um veículo blindado para saquear as cidades que restaram e aniquilar quem surgir no seu caminho. Quando sua filha Corlie (Annie McEnroe) foge após se negar a participar dos crimes com o pai, ela cruza com o Hunter (Michael Beck), que a ajuda a encontrar uma comunidade que ainda tenta resistir aos saqueadores. Quando Straker descobre onde a filha está, decide atacar o local, mas terá de enfrentar Hunter que utiliza uma potente motocicleta. 

Filmado na Nova Zelândia com um baixo orçamento, este longa reciclava as ideias de “Mad Max” e tentava transformar em astro o canastrão Michael Beck, porém sem sucesso. A carreira de Beck começou por cima, ele foi o protagonista do clássico “Warriors – Os Selvagens da Noite” e ainda trabalhou em filmes interessantes como “Xanadu” e “A História de Alcatraz”, mas não demorou para sua falta de talento o relegar a papéis em filmes B e posteriormente em séries de tv, até praticamente encerrar a carreira em 2004.  

Caçador do Espaço: Aventuras na Zona Proibida (Spacehunter: Adventures in the Forbidden Zone, EUA / Canadá, 1983) – Nota 5
Direção – Lamont Johnson
Elenco – Peter Strauss, Molly Ringwald, Ernie Hudson, Andrea Marcovich, Michael Ironside.

Uma nave com três mulheres emite um sinal de socorro antes de cair num planeta dominado pelo ditador Overdog (Michael Ironside), um misto de humano e máquina. O caçador solitário Wolff (Peter Strauss) recebe o sinal e decide tentar o resgate das mulheres, com ajuda de sua androide (Andrea Marcovich) e depois de Niki (Molly Ringwald), uma jovem que cruza seu caminho. 

Este longa de baixo orçamento foi uma das várias produções que tentaram lucrar seguindo o estilo de “Guerra nas Estrelas”, tendo aqui Ivan Reitman (antes de "Os Caça-Fantamas") como produtor. Apesar da precariedade, o filme tem algumas boas sequências de ação e a curiosidade de apresentar Molly Ringwald antes de ficar famosa pelos filmes com John Hughes.  

O Menino e Seu Cachorro (A Boy and His Dog, EUA, 1975) – Nota 3
Direção – L. Q. Jones
Elenco – Don Johnson, Susanne Benton, Jason Robards, Tim McIntire, Charles McGraw.

No futuro, após uma nova guerra mundial, os sobreviventes lutam para conseguir água e comida. Neste contexto, o jovem Vic (Don Johnson) vive em busca de alimentos e sexo, contando com a ajuda de um cão com quem ele se comunica de forma telepática. Quando Vic encontra a bela Quilla (Susanne Benton), esta o leva para conhecer uma civilização que vive nos subterrâneos, porém o objetivo principal é utilizar o jovem como um reprodutor, já que os sobreviventes que vivem no local não conseguem engravidar as mulheres. 

Este pode ser considerado um dos filmes mais estranhos de todos os tempos e por isso se transformou em cult para alguns críticos, mesmo sendo péssimo. Mesmo com a trama sendo baseada em um livro, pouca coisa se salva no longa, talvez apenas os diálogos irônicos entre o cão e o personagem de Don Johnson, que ainda era bem jovem e desconhecido. Os sobreviventes que vivem no abrigo usam uma ridícula maquiagem e seguem alguns preceitos religiosos malucos misturados com ciência, uma verdadeira salada. A participação de Jason Robards deve ser explicada apenas pela amizade com o ator L. Q. Jones, figura conhecida em westerns que se arriscou na direção desta ficção maluca, que por sinal foi seu único trabalho no cinema atrás das câmeras.  

sábado, 8 de março de 2014

O Soldado do Futuro

O Soldado do Futuro (Soldier, Inglaterra / EUA, 1998) – Nota 7
Direção – Paul W. S. Anderson
Elenco – Kurt Russell, Jason Scott Lee, Connie Nielsen, Sean Pertwee, Jason Isaacs, Gary Busey, Michael Chiklis.

Em 2036, após lutar em várias guerras, o veterano soldado Todd (Kurt Russell) falha ao participar de testes preparados especialmente para uma nova geração de recrutas, que além do treinamento físico, também passaram por um processo de alteração genética. Descartado pelo exército, Todd é enviado para um planeta isolado que fora colonizado anos antes e após um acidente se tornou uma espécie de depósito de lixo do governo. No local, Todd encontra sobreviventes da colonização e se torna a única esperança eles se defenderem dos violentos soldados. 

O diretor inglês Paul W. S. Anderson surgiu para o cinema com o drama sobre jovens delinquentes chamado “Shopping”, que fez algum sucesso no circuito independente e abriu as portas de Hollywood. Já no seu trabalho seguinte, o divertido “Mortal Kombat”, Anderson mostrou que seu gosto na verdade era para ficção, sempre misturando efeitos especiais atuais com uma trama de filme B. Esta escolha resultou em filmes detonados pela crítica, mas que agradaram ao público que procura diversão sem compromisso. 

Este “O Soldado do Futuro” recicla várias ideias do gênero numa trama simples recheada com boas cenas de ação e uma competente atuação de Kurt Russell como o soldado frio que descobre seu lado humano que estava esquecido e assim decide ajudar os sobreviventes. 

Para quem gosta do gênero, o longa é uma boa pedida.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Moça com Brinco de Pérola

Moça Com Brinco de Pérola (Girl with a Pearl Earring, Inglaterra / Luxemburgo, 2003) – Nota 7,5
Direção – Peter Webber
Elenco – Colin Firth, Scarlett Johansson, Tom Wilkinson, Judy Parfitt, Cillian Murphy, Essie Davis, Joana Scanlan, Alakina Mann.

No século XVII na Holanda, Griet (Scarlett Johansson) é uma jovem de família pobre que começa a trabalhar como serviçal na casa do pintor Johannes Vermeer (Colin Firth). Vermeer é casado com Catarina (Essie Davis), com quem tem vários filhos mas uma relação fria, sem contar a presença da intrometida sogra (Judy Parfitt) que não ajuda em nada. 

Para sustentar a família, Vermeer pinta quadros por encomenda para Pieter Van Ruijven (Tom Wilkinson), um mecenas que paga pelo trabalho do pintor e lucra com a venda dos quadros. Cada vez que Vermeer deseja pintar algo por conta própria, a esposa e a sogra se mostram contrariadas, até que a chegada de Griet desperta no pintor o desejo de algo mais. A relação que se cria entre patrão e empregada, resulta no quadro dá título ao filme e que muitos anos depois se tornaria uma valiosa obra de arte. 

O diretor inglês Peter Webber estreou no cinema com este longa que é uma adaptação de um livro escrito nos anos noventa, que apresenta uma história de ficção para tentar mostrar como teria sido a inspiração do holandês Vermeer para pintar seu quadro mais famoso. 

O filme tem um pé na fábula ao mostrar a humilde protagonista sofrendo com a terrível família que a contratou e sendo tratada de forma humana apenas pelo pintor, que seria uma espécie de príncipe proibido. 

O longa ganha pontos com o belíssimo figurino, a fotografia e a direção de artes, itens que foram indicados ao Oscar, com a atuação do sempre competente Colin Firth como o atormentado pintor e a beleza de Scarlett Johansson. 

É um filme que com certeza é mais apreciado pelos especialistas em artes e pintura, para o público em geral é apenas um drama sensível e ao mesmo tempo um pouco cansativo pelo ritmo lento da narrativa.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Salve Geral

Salve Geral (Brasil, 2009) – Nota 7
Direção – Sergio Rezende
Elenco – Andrea Beltrão, Denise Weinberg, Lee Thalor, Eucir de Souza, Kiko Mascarenhas, Michel Gomes, Giulio Lopes, Guilherme Santana, Taiguara Nazareth, Bruno Perillo, Chris Couto, Luciano Chirolli, Pascoal da Conceição.

No Dia das Mães de 2006, o grupo criminoso que comanda os presídios em São Paulo deflagrou diversas rebeliões por todo o Estado e dezenas de ataques nas ruas a policiais, bancos e ônibus, em retaliação a transferência de seus líderes para presídios de segurança máxima no interior de São Paulo. A ação do grupo parou São Paulo, assustou a população e mostrou toda a fraqueza do governo. 

Partindo deste fato real, o diretor Sergio Rezende criou uma trama de ficção protagonizada pela professora de piano Lúcia (Andréa Beltrão), que após a morte do marido é obrigada a mudar para periferia com o filho Rafa (Lee Thalor), que não se conforma com a nova situação. A vida que já estava complicada, se transforma num inferno quando  Rafa se envolve numa briga e mata uma pessoa. O jovem é condenado e enviado para um presídio que é dominado pelo grupo criminoso.

Durante uma visita ao filho, Lúcia cruza o caminho da advogada conhecida como Ruiva (Denise Weinberg), que trabalha para a organização. Precisando de dinheiro para sobreviver e ajudar o filho, aos poucos Lúcia passa a fazer pequenos trabalhos para a advogada, inclusive visitando presos para passar mensagens. Numa destas visitas, Lúcia conhece o Professor (Bruno Perillo), um dos líderes do grupo, sujeito com quem ela se envolve sexualmente. 

A crítica detonou o filme, por este motivo eu esperava algo bem pior, no estilo confuso de “400 Contra 1”, porém mesmo com um roteiro com muitos personagens e várias pequenas tramas, o longa prende a atenção pela boa narrativa e principalmente por mostrar o que realmente deve ter ocorrido nos bastidores do confronto entre bandidos versus polícia e governo. 

As retaliações dos dois lados, a negociação da trégua que foi negada pelo governo, mas que claramente ocorreu e até a emboscada dentro do galpão, são versões de fatos obscuros ocorridos na época. 

Algumas escolhas do diretor como o caso entre a personagem de Andréa Beltrão e o chefão atrás das grades tiram pontos do filme, porém o objetivo de fazer uma crítica ao sistema foi alcançado, ao mostrar que a corrupção é um mal que tomou conta de todos os níveis no pais.  

quarta-feira, 5 de março de 2014

Além da Estrada

Além da Estrada (Por el Camino, Uruguai / Brasil, 2010) – Nota 7,5
Direção – Charly Braun
Elenco – Esteban Feune de Colombi, Jill Mulleady, Hugo Arias, Guilhermina Giunle, Naomi Campbell.

Santiago (Esteban Feune de Colombi) é um argentino que chega ao Uruguai para resolver a questão de um terreno deixado pelos pais que faleceram num acidente de automóvel. A jovem belga Juliette (Jill Mulleady) chega ao mesmo tempo no país e tem como objetivo viajar até a pequena cidade de Rocha no interior do Uruguai, mesmo local onde fica o terreno de Santiago. Os dois se cruzam e Santiago oferece uma carona, dando início a uma viagem que cruzará o país. 

Esta co-produção Uruguai/Brasil é um road movie que mistura ficção com personagens reais que foram sendo inseridos na trama conforme cruzavam o caminho do diretor e da equipe de filmagem. A viagem pelo país apresenta um interior com cidades pobres, com exceção das sequências em Punta Del Leste, porém a câmera do diretor mostra os locais de forma carinhosa, assim como é o tratamento aos vários personagens que surgem na tela. 

Os protagonistas são estreantes em longas e provavelmente este frescor ajudou na composição dos personagens, que são um retrato de como os jovens buscam algo, mesmo sem saber o que. Santiago abandonou o emprego fixo e não sabe o que fazer, ficando dividido entre uma vida simples no interior e as baladas vazias da cidade, fato que fica claro nas sequências em que ele contracena com a brasileira Guilhermina Guinle, que interpreta uma fútil emergente. A jovem Juliette vaga pelas Américas em busca de uma vida melhor, ou como ela cita, tenta fugir do sistema que a força ser garçonete na Bélgica. 

É um simples, sincero e contemplativo longa, indicado para cinéfilos que gostam de narrativas que fogem do lugar comum e que principalmente apreciam filmes com bela fotografia, aqui um dos pontos principais. 

O diretor brasileiro Charly Braun mostra que tem potencial, agora é esperar seus novos trabalhos para confirmar ou não o talento.

O filme tem ainda uma curiosa participação da polêmica modelo Naomi Campbell.