quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

O Prisioneiro da Grade de Ferro

O Prisioneiro da Grade de Ferro (Brasil, 2004) – Nota 7,5
Direção – Paulo Sacramento
Documentário

O complexo do Carandiru foi o maior presídio da América Latina até ser desativado em 2002. Este documentário foi produzido durante os últimos meses antes do fechamento do local e tem como um dos pontos principais ter sido filmado em grande parte pelos próprios detentos. O diretor Paulo Sacramento deixou um câmera com alguns detentos, que filmaram praticamente todo o local, inclusive em horários como a madrugada, conseguindo mostrar ao espectador como funcionava e como viviam os presos naquele verdadeiro inferno. 

O local que ficou conhecido mundialmente pelo chamado “Massacre do Carandiru” em 1992 e depois pela versão para o cinema do livro de Drauzio Varela, que foi dirigido por Hector Babenco, era uma cidade com regras próprias, muitas delas criadas pelos próprios presos para tentar manter alguma ordem em meio ao caos, o abandono e a falta de condições para se viver. 

A câmera na mão dos detentos captou todo o tipo de situação e abriu caminho para vários presos darem seus depoimentos. Vemos o pessoal que organizava os jogos de futebol, os lutadores de boxe, os estrangeiros reclamando de estarem abandonados, os cultos com os detentos que se tornaram evangélicos, o precário atendimento médico prestado ainda por Drauzio Varela, as diversas alas, entre elas a dos homossexuais e o maldito Pavilhão 9, além dos negócios feitos pelos presos, que utilizavam cigarro como moeda de troca, sem contar verdadeiras aulas de como produzir drogas e destilar cachaça, crimes que vários detentos cometiam dentro do local debaixo das vistas grossas das autoridades. 

Sem entrar no mérito de como deve ser tratado um presidiário ou o tipo de pena para cada crime, um local como o Carandiru era um depósito de pessoas, uma verdadeira escola do crime que tinha de acabar. O depoimento de um detento que virou pastor mostra bem a falência do sistema. Ele citava que após a criação da famosa facção criminosa, a vida do preso melhorou e a violência no local praticamente acabou, ou seja, este grupo tomou o lugar que seria das autoridades. 

Finalizando, quem vive ou conhece São Paulo e viajou de metrô passando ao lado do Carandiru quando este existia, jamais vai esquecer as roupas e panos pendurados nas grades dos enormes pavilhões e a fila de visitantes que se formava em frente ao local aos domingos.

3 comentários:

Amanda Aouad disse...

Um filme forte, cru até, que mostra muito bem a questão dos presos e daquele lugar...

bjs

Gilberto Carlos disse...

Um dos poucos filmes da retomada do cinema brasileiro que eu ainda não vi, mas já tenho o link e pretendo baixá-lo. Abraços.

Hugo disse...

Amanda - Extremamente real.

Gilberto - É um documentário forte.

Abraço