Meu Melhor Inimigo (Mein Liebster Feind, Alemanha / Inglaterra
/ Finlândia / EUA, 1999) – Nota 8,5
Direção – Werner Herzog
Documentário
O diretor Werner Herzog e o falecido ator Klaus Kinski
trabalharam juntos em cinco filmes e criaram uma intensa relação de amizade e
ódio. Esta complicada convivência é contada em detalhes por Herzog neste
documentário que desnuda as loucuras explosivas de Kinski e os próprios
demônios de Herzog.
Logo na primeira cena vemos Kinski em um teatro no início
dos anos setenta interpretando um Jesus Cristo maluco, discutindo com o público
e com seus próprios companheiros de peça. Em seguida, Herzog visita em Munique
um casarão totalmente reformando onde vive um casal de idosos, local que nos anos
cinquenta era uma pensão em que ele morou com as mãe e os irmãos quando tinha
treze anos. Por uma coincidência do destino, no mesmo local morou o então ator
desconhecido Klaus Kinski, que como Herzog conta, assustava os outros moradores
com suas loucuras.
Anos depois, após ter feito alguns filmes, Herzog se lembrou
de Kinski e enviou o roteiro de “Aguirre, a Cólera dos Deuses”. Para sua
surpresa, Kinski quis o papel e aceitou viajar com Herzog e a equipe de
filmagem para a Amazônia Peruana, dando início a maluca parceria que renderia
ainda “Nosferatu – O Vampiro da Noite”, “Woyzeck”, “Fitzcarraldo” e “Cobra
Verde”.
Para dar maior veracidade do doc, Herzog voltou a floresta no Peru, às margens do Rio Urubamba e contou detalhes das filmagens de “Aguirre” e “Fitzcarraldo”,
principalmente os ataques de fúria de Kinski, alguns deles registrados pelas
câmeras. É inacreditável a discussão de Kinski com o produtor de “Fitzcarraldo" por causa da qualidade da comida ou a sequência em que ele atacou os figurantes
de “Aguirre” com uma espada e quase matou um sujeito.
Na discussão sobre a
comida, o detalhe curioso é a falta de reação dos vários índios que eram
figurantes no longa e que olhavam com um misto de incredulidade e desprezo para os
gritos histéricos de Kinski. Em um certo momento do doc, Herzog conta que no final da
participação dos índios, o chefe da tribo disse que se se Herzog quisesse, ele mandaria
matar Kinski.
As ameaças entre diretor e ator se tornaram folclóricas, como
quando Kinski quis abandonar as filmagens de “Fitzcarraldo” e Herzog disse que
o mataria se ele tentasse ir embora. Apesar de Herzog mostrar Kinski como um
maluco egocêntrico, ele também faz sua mea culpa ao citar que se aproveitava
das explosões do ator para tirar dele sua melhor interpretação, além de não
negar que também é um sujeito teimoso, por isso o conflito era inevitável.
Herzog não toca na vida pessoal de Kinski, que depois de falecer foi acusado de
ter sido um pai abusivo por sua filhas Pola e Nastassja, sendo a segunda também
uma famosa atriz.
No final Herzog deixa claro que Kinski era seu amigo, algumas
cenas gravadas em locais longe das filmagens mostram que havia algo de especial
entre eles, inclusive a última cena do doc apresenta o ator em um momento
descontraído e aparentemente feliz, como sendo uma última homenagem ao amigo.
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