segunda-feira, 21 de abril de 2014

Reparação - A Outra Versão do Golpe de 1964 & O Dia que Durou 21 Anos


Reparação – A Outra Versão do Golpe de 1964 (Brasil, 2009) – Nota 8
Direção – Daniel Moreno
Documentário

Nos anos oitenta quando estudava no antigo ginásio e depois no colegial, os livros de história mostravam o socialismo e o comunismo como regimes que pregavam a igualdade, onde todos tinham os mesmos direitos. Nem uma linha sequer citava a repressão e a violência imposta por ditadores como Stalin ou Fidel Castro. A grande maioria dos jovens acreditava que estes regimes eram o caminho para um país justo. Os professores de história também se calavam sobre o assunto, em sua maioria apoiavam os sindicatos e o PT como se fossem os salvadores do Brasil, já que estes grupos pregavam as ideias socialistas e comunistas. Neste contexto foi criada a versão de que todos os militares eram assassinos e torturadores, enquanto a oposição que participava da chamada luta armada eram os mocinhos. Naquela época a informação era escassa, porém hoje não existe desculpa para quem acredita que o mundo está ou esteve dividido apenas entre o bem e o mal. 

Este documentário mexe na ferida da ditadura brasileira com depoimentos que mostram claramente que não existiam heróis, mas sim dois grupos que lutavam pelo poder e que feriram e assassinaram inocentes. O depoimento principal é de Osvaldo Lovecchio, que nos anos sessenta perdeu uma perna por causa da explosão de uma bomba na Biblioteca Americana que ficava no Conjunto Nacional na Avenida Paulista. Lovecchio trabalhava num escritório e esperava a chance de se tornar piloto de avião, pois já tinha até mesmo sido aprovado no curso, porém numa fatídica noite se tornou vítima de uma guerra que não era sua. Por ironia do destino, um dos envolvidos neste ataque terrorista, hoje recebe uma pensão do governo maior que a de Lovecchio, conseguida com a alegação de que era um perseguido político, o que na verdade é uma grande aberração. 

A questão da reparação aos perseguidos pela ditadura é muito questionada aqui por historiadores como Demétrio Magnolli e Marco Antonio Villa, que citam a grande quantidade de indenizações milionárias que artistas, músicos e escritores conseguiram na justiça, muitas vezes porque trabalhos foram censurados sem que tivesse ocorrido prisão, enquanto pessoas comuns que sofreram tortura receberam valores pífios ou sequer foram indenizadas, como a história contada de forma emocionada por Marlio Jesus da Silva, que quando criança sofreu junto com a mãe na busca por seu irmão mais velho que foi preso sem motivo algum. 

O ponto negativo é a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que como sempre fica em cima do muro ao responder sobres questões polêmicas como as indenizações, sendo que seu governo tinha a obrigação de tornar público os arquivos da ditadura, porém ele não teve coragem de assumir o ato que revelaria sujeira de todos os lados. 

Finalizando, este é um documentário obrigatório para o público em geral entender o que realmente ocorreu durante a ditadura, diferente da versão da disputa entre mocinho e bandido que a esquerda gosta de difundir. 

O Dia que Durou 21 Anos (Brasil, 2013) – Nota 7,5
Direção – Camilo Galli Tavares
Documentário

O diretor Camilo Galli Tavares nasceu no México enquanto seu pai, o jornalista Flávio Tavares, vivia naquele país após fugir da ditadura no Brasil por ser um militante de esquerda. Consta que Camilo desejava fazer um documentário sobre a história do pai, porém quando teve acesso aos vários documentos que o governo americano liberou comprovando a influência do país no golpe de 64, ele mudou o foco e decidiu colher depoimentos sobre o assunto. 

O resultado é um documentário que mostra com detalhes como foram os anos e principalmente os dias que precederam o golpe, inclusive com gravações telefônicas entre o embaixador americano Lincoln Gordon e os presidentes Kennedy e Lyndon Johnson, onde falavam abertamente sobre como derrubar João Goulart.&nbsp

Como o Brasil passava por um período complicado após a renúncia de Jânio Quadros em 1961, o embaixador Gordon acreditava que João Goulart tinha a intenção de criar uma república socialista afastando o Brasil dos Estados Unidos e criando laços com Cuba, fato que nunca foi comprovado e que pessoa alguma sabe ao certo se poderia ocorrer. 

O que estava claro é que vários grupos queriam o poder e aproveitando a crise, Gordon se aliou ao grupo do General Castelo Branco e auxiliou no processo de desestabilizar o governo, inclusive utilizando muito dinheiro enviado pelo governo americano.

O ponto principal do documentário é fazer o espectador conhecer a fundo como foram as ações práticas das autoridades americanas nos bastidores do golpe.

3 comentários:

renatocinema disse...

Todo documentário precisa nos levar a reflexão histórica para não errarmos da mesma forma.

Gosto muito de documentários do período da ditadura.

Hércules 56, senão me falha o nome, é outro que gosto bastante sobre o tema.
abs

Hugo disse...

Renato - São vários docs que nos fazem entender um pouco melhor a história.

Este que você citou eu ainda não assisti, mas irei procurar.

Abraço

Gilberto Carlos disse...

Gostei de O dia que durou 21 anos, mas ainda não assisti Reparação. Se for tão bom quanto, vale a pena.

Abraços.