Reparação – A Outra Versão do Golpe de 1964 (Brasil, 2009) –
Nota 8
Direção – Daniel Moreno
Documentário
Nos anos oitenta quando estudava no antigo ginásio e depois
no colegial, os livros de história mostravam o socialismo e o comunismo como
regimes que pregavam a igualdade, onde todos tinham os mesmos direitos. Nem uma
linha sequer citava a repressão e a violência imposta por ditadores como Stalin
ou Fidel Castro. A grande maioria dos jovens acreditava que estes regimes eram
o caminho para um país justo. Os professores de história também se calavam
sobre o assunto, em sua maioria apoiavam os sindicatos e o PT como se fossem os
salvadores do Brasil, já que estes grupos pregavam as ideias socialistas e
comunistas. Neste contexto foi criada a versão de que todos os militares eram
assassinos e torturadores, enquanto a oposição que participava da chamada luta
armada eram os mocinhos. Naquela época a informação era escassa, porém hoje não
existe desculpa para quem acredita que o mundo está ou esteve dividido apenas entre
o bem e o mal.
Este documentário mexe na ferida da ditadura brasileira com
depoimentos que mostram claramente que não existiam heróis, mas sim dois grupos
que lutavam pelo poder e que feriram e assassinaram inocentes. O depoimento principal
é de Osvaldo Lovecchio, que nos anos sessenta perdeu uma perna por causa da
explosão de uma bomba na Biblioteca Americana que ficava no Conjunto Nacional na
Avenida Paulista. Lovecchio trabalhava num escritório e esperava a chance de se
tornar piloto de avião, pois já tinha até mesmo sido aprovado no curso, porém
numa fatídica noite se tornou vítima de uma guerra que não era sua. Por ironia
do destino, um dos envolvidos neste ataque terrorista, hoje recebe uma pensão
do governo maior que a de Lovecchio, conseguida com a alegação de que era um
perseguido político, o que na verdade é uma grande aberração.
A questão da
reparação aos perseguidos pela ditadura é muito questionada aqui por
historiadores como Demétrio Magnolli e Marco Antonio Villa, que citam a grande
quantidade de indenizações milionárias que artistas, músicos e escritores
conseguiram na justiça, muitas vezes porque trabalhos foram censurados sem que
tivesse ocorrido prisão, enquanto pessoas comuns que sofreram tortura receberam
valores pífios ou sequer foram indenizadas, como a história contada de forma
emocionada por Marlio Jesus da Silva, que quando criança sofreu junto com a mãe
na busca por seu irmão mais velho que foi preso sem motivo algum.
O ponto
negativo é a participação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que como
sempre fica em cima do muro ao responder sobres questões polêmicas como as
indenizações, sendo que seu governo tinha a obrigação de tornar público os
arquivos da ditadura, porém ele não teve coragem de assumir o ato que revelaria
sujeira de todos os lados.
Finalizando, este é um documentário obrigatório para
o público em geral entender o que realmente ocorreu durante a ditadura,
diferente da versão da disputa entre mocinho e bandido que a esquerda gosta de difundir.
O Dia que Durou 21 Anos (Brasil, 2013) – Nota 7,5
Direção – Camilo Galli Tavares
Documentário
O diretor Camilo Galli Tavares nasceu no México
enquanto seu pai, o jornalista Flávio Tavares, vivia naquele país após fugir da
ditadura no Brasil por ser um militante de esquerda. Consta que Camilo desejava
fazer um documentário sobre a história do pai, porém quando teve acesso aos
vários documentos que o governo americano liberou comprovando a influência do
país no golpe de 64, ele mudou o foco e decidiu colher depoimentos sobre o
assunto.
O resultado é um documentário que mostra com detalhes como foram os
anos e principalmente os dias que precederam o golpe, inclusive com gravações
telefônicas entre o embaixador americano Lincoln Gordon e os presidentes
Kennedy e Lyndon Johnson, onde falavam abertamente sobre como derrubar João
Goulart. 
Como o Brasil passava por um período complicado após a renúncia de
Jânio Quadros em 1961, o embaixador Gordon acreditava que João Goulart tinha a
intenção de criar uma república socialista afastando o Brasil dos Estados
Unidos e criando laços com Cuba, fato que nunca foi comprovado e que pessoa
alguma sabe ao certo se poderia ocorrer.
O que estava claro é que vários
grupos queriam o poder e aproveitando a crise, Gordon se aliou ao grupo do
General Castelo Branco e auxiliou no processo de desestabilizar o governo,
inclusive utilizando muito dinheiro enviado pelo governo americano.
O ponto
principal do documentário é fazer o espectador conhecer a fundo como foram as
ações práticas das autoridades americanas nos bastidores do golpe.
3 comentários:
Todo documentário precisa nos levar a reflexão histórica para não errarmos da mesma forma.
Gosto muito de documentários do período da ditadura.
Hércules 56, senão me falha o nome, é outro que gosto bastante sobre o tema.
abs
Renato - São vários docs que nos fazem entender um pouco melhor a história.
Este que você citou eu ainda não assisti, mas irei procurar.
Abraço
Gostei de O dia que durou 21 anos, mas ainda não assisti Reparação. Se for tão bom quanto, vale a pena.
Abraços.
Postar um comentário