terça-feira, 13 de março de 2012

São Paulo: Elitização, Relações Humanas e Qualidade de Vida

Pensava em escrever sobre estes temas em três postagens, porém são questões interligadas que estão cada vez mais transformando a cidade de São Paulo num local extremamente complicado para viver.

A elitização da cidade é algo que vinha ocorrendo silenciosamente há anos e após a terrível escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo, explodiu da pior forma possível. Logo após o anúncio da Fifa, a prefeitura e o governo de SP anunciaram planos para ampliação do aeroporto de Cumbica, a extensão do metrô para diversos bairros que aguardavam há anos a notícia e até o trem-bala que ligaria São Paulo ao Rio de Janeiro. Lógico eu era apenas jogos de fumaça e pouco ou quase nada saiu do papel até agora.

Rapidamente as construtoras, incorporadores e imobiliárias deram início a uma nova "corrida do ouro", primeiro duplicando o preço dos imóveis e depois caçando espaços em bairros que eram estritamente residenciais com casas e sobrados para construção de condomínios. Em pouco mais de quatro anos, bairros como Vila Madalena, Pinheiros, Tatuapé, Água Branca, Lapa, Pompéia, entre outros, foram tomados por construções de novos condomínios, com a benevolência da prefeitura na liberação de alvarás. Estas novas moradias estão sendo construídas onde existiam quatro ou cinco casas e sendo vendidos por valores absurdos.

A consequência é o aumento populacional exagerado nestes bairros. Onde moravam vinte pessoas em quatro casas, passam a viver de duzentas a trezentas pessoas em um edifício, sem contar funcionários, prestadores de serviços e comércios que se estabelecem próximos ao local, aumentando ainda o fluxo de veículos que já é um absurdo por aqui.

O objetivo social desta situação é o afastamento da classe média e baixa destes bairros, que acabam sendo obrigadas a mudar para a periferia ou se tiver possibilidade, para outra cidade. Com este ritmo maluco de mudanças, em dez anos estes bairros e alguns outros se transformaram em moradia para a elite.

O problema da elitização atinge em cheio também o lazer. Teatro sempre foi caro e hoje está mais ainda, a maioria dos shows tem preços voltados para a elite e o cinema que era uma diversão popular, hoje cobra preços caríssimos nas salas de shopping, sem contar o assalto que é o valor da pipoca, refrigerante, salgadinhos, além de gasto com transporte, o que inviabiliza o passeio para grande parte da população.

Finalizando o tema, este mal alcançou até o futebol. O chamado "esporte do povo" cobra R$ 30,00 para os ingressos mais baratos (não considerando meia-entrada) e nos clássicos ou jogos maiores, este valor mínimo pula para R$ 50,00. Ainda mais com a construção da Arena do Palmeiras e o estádio da prefeitura que está sendo pago por nós e será doado para um certo time, com certeza estes valores ficarão ainda mais altos daqui há dois anos.

Como o dinheiro é grande mola propulsora do mundo, principalmente numa cidade com SP, a disputa por bons empregos, negócios e prestação de serviços se tornou algo selvagem. Quem já participou de uma dinâmica de seleção para emprego, sabe bem como as pessoas se atacam para tentar serem notadas e contratadas. Quando precisamos contratar algum serviço, é necessário pesquisar muito e analisar antes de fechar o negócio, já que a propaganda é sempre maravilhosa, mas a o serviço em si na maioria das vezes não cumpre o que promete. Depois de pago, qualquer reclamação é o início de uma briga, o vendedor ou prestador de serviços sorridente se torna arredio e mal educado, quando não se transforma  num pitbull raivoso.

Esta disputa por "ganhar mais dinheiro" transformou as pessoas por aqui em animais acuados, que tentam defender seu lado a qualquer custo. Junte-se a isso o trânsito absurdamente maluco, os meios de transporte público que não comportam uma população em crescimento, os empregos que pagam pessimamente os trabalhadores e os cobram exageradamente, temos uma bomba-relógio que explode nas conturbadas relações humanas. Eu citei basicamente as relações profissionais e casuais, porém o problema extrapola ainda para as famílias, que em grande parte estão desestruturadas e afetam os filhos. Vejam a violência que atinge adolescentes e jovens nas escolas e principalmente nas baladas durante os finais de semana. Esta situação é o extravasar das frustrações dos jovens com a vida e a família, seja ela de classe baixa ou alta.

A complexidade destes fatos, misturados a outras situações do dia a dia, jogam a qualidade de vida de paulistano na lata do lixo. Por mais que a pessoa tente não se envolver com estes problemas, alguns chegarão a ela de qualquer maneira, até mesmo se ficar dentro de casa o dia inteiro. A insatisfação da população fica clara nos finais de semana e principalmente nos feriados, quando quem tem alguma possibilidade foge da cidade para tentar relaxar ou se divertir com melhor qualidade. Quem pode ir para o interior do Estado tem uma melhor chance de aproveitar, a questão é que muitos preferem ir para os praias, onde nas temporadas de férias a vida chega a ser mais confusa que em São Paulo.

Finalizando, escrevi este texto com tristeza, pois nasci em SP e conheço muito da cidade, gostaria que as coisas estivessem melhores por aqui, mas infelizmente não estão. Agradeço por conseguir driblar estes problemas e tentar manter uma certa qualidade de vida, mas no futuro não tenho certeza se terei paciência para continuar por aqui, quem sabe procurarei um local mais calmo em outra cidade, mas aí é outra história.

4 comentários:

! Marcelo Cândido ! disse...

Daqui a pouco a elitização estará no interior... hehe
Todos irão fugir para lá, qualidade de vida é tudo!

Silvia Freitas disse...

Pois é, concordo contigo. SP tem tudo o que a gente precisa, é uma bela cidade, mas está virando um caos com trânsito, preços e td mais (e ainda vem Copa por aí...).
Nasci aqui e vivo aqui todos esses anos, com exceção de 2 anos que fui morar com minha avó no interior. Outro estilo de vida...e confesso que gosto da calmaria, mas ás vezes sinto falta do agito paulistano.
Acredito que no futuro tbm vou querer morar numa cidade mais tranquila, porém, bem pertinho da capital. Não dá pra ficar longe!
Abração!

Marcelo Keiser disse...

Problemas toda cidade tem, iguais, parecidos ou diferentes. Adoro minha cidade (Joinville, SC) mas infelizmente ela não foge a regra nacional, onde cada vez vejo mais problemas e obstáculos do que soluções sociais. Transporte coletivo, saneamento, pavimentação, segurança e educação. Engraçado que a população sempre precisa do mesmo, sem exigências de novidades, e nunca é atendida.

marcelokeiser.blogspot.com

Hugo disse...

Marcelo- Em cidades grandes como Campinas e Jundiaí ela já chegou.

Silvia - Tb não sei se acostumaria com a calmaria, mas talvez com mais idade seja o melhor a fazer.

Marcelo Keiser - Um ótimo país como o nosso nas mãos de políticos e poderosos sem caráter.

Passei por Joinville há uns quinze anos. Fui na Oktober Fest e depois uma noite na Fenachopp.

Infelizmente não deu para conhecer a cidade.

Abraço