Antes de embarcar na aventura de produzir "Chatô", se enrolar todo com o dinheiro envolvido nas filmagens e ver a carreira quase afundar, Guilherme Fontes protagonizou três filmes que fizeram algum sucesso entre os jovens nos anos oitenta.
Mesmo sendo filmes irregulares, muito por causa da época em que o cinema brasileiro estava em baixa, Fontes tinha tudo para se tornar um astro de cinema caso seguisse apenas como ator e participasse da chamada "retomada" que começou em 1995 com "O Quatrilho" e "Carlota Joaquina".
Como informação, no ano passado Fontes deu entrevistas dizendo que estava finalizando a montagem de "Chatô" e que logo o filme seria lançado. Se isto ocorrer, provavelmente o filme fará sucesso pela curiosidade em relação aos vinte anos de polêmicas em relação a produção.
Dedé Mamata (Brasil, 1988) – Nota 7
Direção – Rodolfo Brandão
Elenco – Guilherme Fontes, Malu Mader, Marcos Palmeiras,
Iara Jamra, Paulo Porto, Luiz Fernando Guimarães, Lídia Matos, Nathália
Thimberg, Paulo Betti, Geraldo Del Rey, Tônico Pereira, Antonio Pitanga, Thais
de Campos.
O jovem Dedé (Guilherme Fontes) teve o pai assassinado
durante a ditadura e foi criado pelos avós (Nathália Thimberg e Paulo Porto)
que eram vinculados ao Partido Comunista. Com a morte da avó em meados dos anos
setenta, Dedé fica sozinho com o avô que entra numa espécie de depressão profunda.
Sem emprego, cuidando do avô e vivendo da aposentadoria do velho, Dedé aceita
trabalhar para o Partido recolhendo dinheiro que seria utilizado para a
“revolução”. Ao invés de devolver todo o dinheiro, Dedé se associa ao
traficante Cumpade (Luiz Fernando Guimarães) para vender drogas na faculdade
onde estuda seu amigo Albino (Marcos Palmeira). No meio desta situação, Dedé se
envolve ainda com a bela vizinha Lena (Malu Mader) e com a agitada Ritinha
(Iara Jamra).
Em meio as produções brasileiras dos anos oitenta, em sua maioria
filmes ruins, este “Dedé Mamata” se destaca pela interessante história e o
carisma do elenco. O filme se passa no Rio de Janeiro entre 1974 e 1979, numa
época em que a repressão do governo perdia força a cada ano. A trama faz um retrato
da juventude carioca, mesmo que de forma superficial, que descobria o mundo das
drogas e do sexo fácil, ao mesmo tempo em que a questão política direta ou
indiretamente influenciava suas vidas.
A cena final que cita a volta dos
exilados políticos e define o destino de Dedé, é um reflexo das mudanças que
começavam a ocorrer no país. Era o fim da repressão oficial e o início da
violência do tráfico.
A Cor do Seu Destino (Brasil, 1987) – Nota 6
Direção – Jorge Duran
Elenco – Guilherme Fontes, Norma Bengell, Franklin Caicedo,
Andrea Beltrão, Júlia Lemmertz, Chico Diaz, Marcos Palmeira, Antônio Grassi,
Paulinho Mosca, Anderson Muller.
O jovem Paulinho (Guilherme Fontes) é filho do exilado
chileno Victor (Franklin Caicedo) e da brasileira Laura (Norma Bengell), que
saíram do Chile quando seu filho mais velho (Chico Diaz) foi preso acusado de
ser comunista e assassinado pela polícia do general Pinochet.
Atormentado pela
morte do irmão e pelo traição da namorada (Andrea Beltrão), que tem um caso com
um professor (Antônio Grassi), Paulinho deseja voltar ao Chile, porém seus pais
não aceitam, muito porque uma sobrinha do casal (Júlia Lemmertz) está presa em
Santiago.
Produzido numa época em que o cinema brasileiro estava em baixa, um
pouco antes da grave crise do início dos anos noventa, este longa tem uma
interessante premissa ao abordar a vida de exilados políticos.
O diretor Jorge
Duran é um chileno que vive no Brasil desde os anos setenta e se aproveitou da
ditadura em seu país para escrever o roteiro. O problema é que o filme se perde na
crise existencial do protagonista, que se mostra mais como um garoto mimado do
que alguém preocupado com política ou algo do gênero. O personagem de Guilherme
Fontes não passa empatia alguma ao público.
O filme vale como curiosidade para
quem gosta ou quer conhecer um pouco do estilo do cinema brasileiro dos anos
oitenta.
Um Trem Para as Estrelas (Brasil, 1987) – Nota 6
Direção – Carlos Diegues
Elenco – Guilherme Fontes, Milton Gonçalves, Taumaturgo
Ferreira, Ana Beatriz Wiltgen, Zé Trindade, Míriam Pires, José Wilker, Betty
Faria, Daniel Filho, Tania Boscoli, Cazuza, Fausto Fawcett, Marcos Palmeiras.
No subúrbio carioca, Vinícius (Guilherme Fontes) vive com o
tio em um apartamento de classe baixa e sonha em ser tornar um saxofonista
famoso. Sua namorada Nicinha (a inexpressiva Ana Beatriz Wiltgen) trabalha como vendedora em uma loja de shopping na zona sul e tem os pés no chão, acredita
que eles precisam ganhar dinheiro antes de sonhar com a fama.
Após uma noite de
sexo ao ar livre, Nicinha desaparece. Vinícius procura a polícia, sendo
atendido pelo cínico delegado Freitas (Milton Gonçalves), que garante que
encontrará garota, mas também diz ter certeza que ela se meteu em alguma
contravenção. Em paralelo, Vinícius recebe o convite para tocar em estúdio com
Cazuza (ele mesmo), além de precisar lidar com seu amigo Dream (Taumaturgo
Ferreira), que deseja conseguir dinheiro para morar nos Estados Unidos.
O
diretor Carlos Diegues vinha do enorme fracasso de “Quilombo”, quando decidiu
investir neste longa voltado para os jovens, inserindo inclusive cenas musicais
com Cazuza e Fausto Fawcett, ícones da época. O problema é que a trama na se sustenta, são várias pontas soltas
em meio ao roteiro que atira para todos os lados.
Da investigação policial
inicial, o protagonista em seguida procura ajuda de um jornalista (Daniel
Filho), precisa lidar com os malucos pais de sua namorada (Zé Trindade e Míriam
Pires) e ainda cruza o caminho de situações absurdas como a jovem santinha
milagreira e a garota que deseja engravidar.
Não gosto do estilo de Cacá
Diegues, com exceção do interessante “Bye Bye Brasil”, seus filmes resultam em
críticas sociais rasas e histórias que parecem não ir ao lugar algum. É um
diretor que tem muito mais fama do que talento.
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