terça-feira, 22 de maio de 2012

A Importância do Diretor de Cinema

Ontem zapeando pelos canais, assisti uma pequena parte da entrevista do diretor Fernando Meirelles no programa do Roberto Justus. Apenas como adendo, apesar da não gostar da figura do Justus, tenho de aceitar que ele está se mostrando um bom entrevistador, muito melhor do que seu trabalho anterior no horrível programa "O Aprendiz".

Sobre a entrevista, uma declaração do Fernando Meirelles meu deu a ideia desta postagem. Quando Justus perguntou porque ele não se mudou para Los Angeles para fazer uma carreira em Hollywood, Meirelles foi enfático em afirmar que não tem o mínimo interesse em trabalhar com os grandes estúdios.

Ele foi questionado sobre "Ensaio Sobre a Cegueira" e disse que foi uma produção independente, assim como o recente "360". Disse ainda que foi convidado para dirigir um filme da franquia 007 e também as sequências de "Crepúsculo", porém deixou claro que as contrapartidas exigidas pelos grandes estúdios tirariam toda sua liberdade de criação.

Citou que num filme deste tamanho, ele ficaria preso por dois anos, passando pela pré-produção, filmagens, pós-produção e divulgação, com um fato pior, ter de obedecer as regras do estúdios, sendo obrigado por produtores até mesmo a mudar posição de câmera e incluir cenas que não desejaria.

Esta declaração deixa um questionamento: Até que ponto o sucesso ou fracasso de um longa tem a responsabilidade do diretor? Como opinião pessoal, pensei em três situações. A grande maioria de filmes dos grandes estúdios tem resultados artísticos de médio para baixo, geralmente utilizando roteiros esquemáticos repletos de clichês e dirigidos por jovens que saíram da publicidade, eram roteiristas ou trabalhavam na parte técnica, geralmente em efeitos especiais. Neste tipo de filme fica quase impossível analisar o talento do diretor, já que geralmente a parte técnica é colocada como prioridade. No geral é apenas um entretenimento de massa.

A segunda situação são os diretores que se destacam em filmes independentes e aceitam o inevitável convite de Hollywood, porém acaba sendo engolidos pelo sistema e mesmo que o filme não dê prejuízo para o estúdio, no final a carreira do sujeito é que estará abalada. O que sobra para o sujeito, tentar retomar a carreira no cinema independente, o que não é nada fácil ou aceitar a nova situação e deixar a qualidade de lado para continuar a fazer filmes meia-boca e se manter na ativa.

A única situação em que o diretor tem força para impor suas vontades com os grandes estúdios é no caso de ser famoso. Nomes como Spielberg, Scorsese e George Lucas por exemplo, já tem um carreira consolidada, o que trouxe poder para escolher os projetos e comandá-los da forma que desejar, com uma mínima interferência de terceiros. Este grupo de diretores é muito pequeno e para chegar neste nível é necessário um bom tempo de carreira com vários sucessos e se possível, ainda ter grana para co-produzir seus próprios filmes.

O sucesso de um filme eleva o nome do diretor, mas por outro lado, o fracasso de crítica pode enterrar a carreira de um jovem diretor, mesmo que o longa que ele tenha entregado tenha muito mais o dedo dos produtores do que suas próprias ideias.

Finalizando, chego a conclusão de que a decisão de Fernando Meirelles foi extremamente correta, mesmo trabalhando com menos recursos, ele tem a independência de criar seus próprios filmes e o sucesso ou fracasso será resultado de seu trabalho, não da influência de estúdios e produtores.

8 comentários:

Thomás R. Boeira disse...

Leva muito tempo mesmo pra que um diretor ganhe poder suficiente para não precisar obedecer os estúdios, e acho que tudo fica mais difícil quando se é estrangeiro em terras americanas. Pra que essa independência aconteça, o cara precisa acertar várias e consecutivas vezes. Errar não é uma possibilidade.

Estou lendo um livro agora chamado "Como a Geração Sexo, Drogas e Rock 'n' Roll Salvou Hollywood". Abrange todo o período do final da década de 1960 até o início da década de 1980. Grandes diretores como Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e George Lucas estavam muitas vezes na corda bamba, e se salvaram graças aos sucessos (às vezes inesperado) de seus filmes.

Acho que Christopher Nolan e David Fincher são dois diretores que conseguiram sua indepedência dos estúdios recentemente.

Abraço,
Thomás
http://brazilianmovieguy.blogspot.com.br/

Amanda Aouad disse...

Boa discussão, Hugo, acredito que existam filmes de diretor e filmes de produtor, mesmo com um nome estabelecido, diretores que se submetem a projetos pela força dos grandes estúdios. É um jogo eterno mesmo. Também acho ótima a ideia de Meirelles de se firmar através dos independentes.

bjs

Bússola do Terror disse...

Bom, em 1º lugar, obrigado por linkar o meu blog aqui! Eu linkei o seu lá também.
Agora, sobre o tema que você abordou, sem dúvida que é isso que acontece.
O Paulo Autran costumava dizer que o teatro é do ator, a televisão é do patrocinador e o cinema é do diretor. E eu concordo com ele, é claro, mas acrescento um pequeno detalhe nessa última parte: o cinema é do diretor, sim, mas quando se trata de um filme independente. Quando se trata de uma produção de um grande estúdio, aí o cinema é do estúdio mesmo, não é nem do diretor.
Pelos motivos que você já explicou, diretores estreantes (ou semi-estreantes) que trabalharam pra grandes estúdios sem dúvida alguma foram as vozes menos ouvidas enquanto seus filmes eram feitos.
A intenção dos grandes estúdios é simplesmente chamar público na maior quantidade possível pro cinema, mesmo que pra isso tenham que mandar a história pro espaço. E aliás, se você pegar praticamente qualquer filme de aventura feito nos últimos anos e tirar as cenas de efeitos especiais, você vai ver que não sobra muita coisa. Porque a história, por si só, é tão superficial que nem chama a atenção em nada.

! Marcelo Cândido ! disse...

Ansioso por 360!!

Gilberto Carlos disse...

Realmente os diretores brasileiros que aceitam convites dos grandes estúdios hollywoodianos tem que se sujeitar às decisões dos produtores e não tem domínio sobre seu trabalho, como foi o caso recente de Heitor Dhalia e seu muito criticado 12 horas.

Hugo disse...

Thomás - Não os diretores estrangeiros, mas mesmo os americanos em início de carreira sofrem na mesma situação.

Este livro é ótimo, já comentei sobre ele no blog. Se tiver interesse, procure pela caixa de pesquisa.

Na época, o cinema de Hollywood passava por grandes mudanças, o que ajudou a alavancar o cinema de autor, até 1980 com o terrível fracasso de "O Portal do Paraíso".

Amanda - Você tem razão, muitos diretores mesmo com carreiras consolidadas acabam aceitando a pressão também.

Bússola - A transição de um diretor que chama atenção num filme independente para uma grande produção é complicada. Por isso a decisão do Fernando Meirelles é correta.

Os grandes estúdios pensam apenas no negócio, no lucro, a questão artística não interessa para eles, infelizmente.

Marcelo - A curiosidade é grande.

Gilberto - Ainda não assisti este novo filme de Heitor Dahlia, que por aqui se mostrou no mínimo um diretor original.

Abraço a todos

Wendell Marcel disse...

No texto, só não concordo em uma parte, o Aprendiz é um ótimo programa! :)

Mas como você bem disse, os diretores sempre estão propensos a ter a interferência dos produtores, e esse é o lado maniqueísta dos grandes estúdios e corporações de Hollywood e afins.

Lembram de David O. Selznick? Um monstro dos anos 30 e 40, que fez de filmes e diretores pequenos, grandes sucessos de bilheteria e fama; porém possuía mãos de ferro e geralmente metia o bedelho na direção, roteiro e outros seguimentos da equipe.

Aliás, os roteiristas também estão nessa nuvem de discussões artísticas: muitos roteiros se transformam após os direitos autorais serem comprados pelos estúdios. Esse é o preço ...

A consciência pesa, mas o que vale é seguir seu coração, escolher a fama em prol da criação libertadora, ou vice-versa.

Eu escolho, até o momento e espero nos anos futuros, ser do cinema independente..

Hugo disse...

Wendell - Valeu pelo comentário, mas você se enganou na leitura, eu citei que o Justus tem agora um programa de entrevistas interessante, o antigo o Aprendiz era horrível.

Nos dias atuais não é tão complicado fazer um filme independente, o mais difícil é a distribuição que está nas mãos das grandes empresas. Quem deseja ser independente, precisa utilizar a criatividade (internet, mídias sociais, boca a boca), para divulgar seu trabalho.

Abraço