domingo, 20 de novembro de 2011

O Portal do Paraíso

O Portal do Paraíso (Heaven’s Gate, EUA, 1980) – Nota 8
Direção – Michael Cimino
Elenco – Kris Kristofferson, Christopher Walken, Isabelle Hupert, John Hurt, Sam Waterston, Jeff Bridges, Brad Dourif, Richard Masur, Terry O’Quinn, Joseph Cotten, Geoffrey Lewis, Mickey Rourke, Paul Koslo, Robin Bartlett, Tom Noonan.

Este grandioso filme de Michael Cimino está entre as obras mais malditas da história do cinema. A história das filmagens e a vida de Cimino são uma verdadeira novela. Para comentar todos os fatos, precisarei me alongar um pouco no texto.

Tudo começou no início de 1979 quando o trabalho anterior de Cimino, “O Franco Atirador” foi o grande vencedor do Oscar e a crítica especializada o transformou quase em gênio. Com todas as portas de Hollywood abertas, Cimino assinou um contrato com a United Artists para filmar “O Portal do Paraíso”. O que Cimino acreditava ser o filme de sua vida, resultou num fracasso monumental e levou a United Artists a falência, companhia que renasceria dois anos depois ao ser comprada pela MGM. 

O longa começa em 1870 mostrando uma suntuosa formatura em Harvard, onde os amigos James Averill (Kris Kristofferson) e Billy Irvine (John Hurt) comemoram o início de uma nova vida. Esta sequência inicial tem cerca de vinte minutos e utiliza centenas de figurantes, começando num espécie de desfile na rua, passando pelo discurso do Reverendo (o veterano Joseph Cotten) e finalizando com uma valsa nos jardins da universidade. 

Em seguida o filme pula vinte anos e mostra os protagonistas em situação bem diferente, vivendo no Estado do Wyoming. Averill é o xerife do pequeno Condado de Johnson, onde a maioria dos moradores são imigrantes eslavos, enquanto Billy se tornou alcoólatra e faz parte da Associação dos Criadores de Gado, onde o líder chamado Canton (Sam Waterston) tem o apoio do governo para destruir o Condado e matar os imigrantes, alegando que estes roubam seus rebanhos. 

No meio desta luta de classes está Nate Champion (Christopher Walken), descendente de imigrantes que trabalha para a Associação oprimindo seus semelhantes. Em paralelo, Averill e Nate disputam o amor da prostituta Ella (a francesa Isabelle Huppert). 

O roteiro do próprio Cimino contém todos os elementos que poderiam transformar o filme num clássico, como uma disputa por amor, a luta de classes e a violência, tendo conseguido ao mesmo tempo criar um filme marcante e pretensioso ao extremo. Deixando de lado as polêmicas com o estouro do orçamento, a construção de grandes cenários no meio do nada e as disputas entre Cimino, a equipe técnica e os produtores, fica claro o talento do diretor na sequência inicial na univesidade, no roteiro crítico recheado de bons diálogos e no violento confronto entre os homens da associação e os imigrantes. 

É um ótimo filme que tinha tudo para ser sensacional se tivesse um montagem mais enxuta, porém o ego de Cimino o fez montar a obra com 216 minutos (mais de três horas e meia de exibição). Esta versão (que eu assisti) foi execrada logo na primeira exibição aos críticos e os produtores remontaram o filme em 149 minutos e o lançaram nos cinemas, o que piorou a situação. Quem assistiu esta versão cortada diz que o filme ficou totalmente confuso, principalmente porque foi montada à revelia de Cimino. 

O fracasso transformou Cimino num maldito, que quando teve novas chances de dirigir foi obrigado a seguir regras rígidas sobre o orçamento, mas mesmo assim fez ainda bons filmes como “O Ano do Dragão” e “Horas de Desespero”, os dois protagonizados por Mickey Rourke. 

Como curiosidade, no final dos anos noventa ele veio ao Brasil com o produtor  Ilya Salkind (do clássico “Superman) com um projeto para filmar um longa sobre o descobrimento do Brasil com o título de “Gonçalo”, que deveria ser lançado em 2000 para comemorar os 500 anos do país, porém o projeto nunca saiu do papel. 

Para finalizar a novela da vida de Cimino, descobri há pouco tempo que após abandonar o cinema (seu último trabalho foi “Na Trilha do Sol”em 1996), ele se tornou escritor, mora em Paris e quase aos setenta anos de idade fez uma operação de mudança de sexo. Realmente uma notícia totalmente maluca para finalizar uma biografia fora do comum.

5 comentários:

Alan Raspante disse...

Conhecia o filme, claro, pela sua fama por ter sido um fracasso de bilheteria (quase 99% do investimento perdido) e pelas curiosidades "cabeludas" por parte de Cimino e sua guerra de ego com a United.

Preciso ver o quanto antes já que sempre ouvi obas críticas, apesar de tudo..

Abs.

ANTONIO NAHUD disse...

O Cimino mudou de sexo, Hugo? Jura? Não sabia. O PORTAL DO PARAÍSO é um épico dos melhores. Não merecia tamanho desprezo.

O Falcão Maltês

Hugo disse...

Alan - Apesar de toda a controvérsia, é um bom filme.

Antonio - Também ficou assustado quando li a notícia.

Abraço

Gilberto Carlos disse...

Foi muito criticado, mas eu ainda quero ver...

Hugo disse...

Gilberto - Todo cinéfilo teria de assistir, em virtude da história completa da produção.

Abraço