sábado, 2 de abril de 2016

O Manifesto da Demagogia

Eu não tinha mais a intenção de escrever sobre o cenário político, porém o manifesto assinado por atores, atrizes e diretores do cinema brasileiro me fez mudar de ideia.

A tentativa de transformar a investigação seríssima do maior escândalo de corrupção da história do Brasil em golpe é de uma cara de pau imensa, assim como é inaceitável um país que precisa investir em saúde, educação, moradia, ou seja, oferecer o básico para toda a população, sem contar a economia falida, o desemprego e as empresas quebrando, gaste fortunas através da Lei Rouanet para bancar produção de filmes, peças teatros e shows, o verdadeiro motivo pelo qual estes artistas estão preocupados com a provável queda do governo. A corrupção que domina as entranhas do governo é ignorada por estas pessoas. É uma situação que desperta até mesmo a vontade de ignorar os filmes com a participação destes artistas.

Para aqueles que dizem que o dinheiro da Lei Rouanet financia arte popular, digo apenas que para assistir qualquer filme, espetáculo de teatro ou show, o espectador paga um valor alto que a maioria da população não tem condições de pagar. Além disso, todos estes eventos são privados, não caberia financiamento público num país ideal, ou seja, deveriam ser financiados por empresas privadas que lucrassem ou que arcassem com prejuízo de acordo com o resultado do evento, assim como funciona com qualquer empresa.

Uma pitada de história. O cinema brasileiro sempre se aproveitou do financiamento estatal, a única exceção foram os filmes produzidos na chamada Boca do Lixo em SP durante os anos setenta. Produtores como David Cardoso, Antonio Polo Galante, Claudio Cunha, Anibal Massaini Neto e José Mojica Marins, entre outros, criaram uma indústria que provou que o cinema poderia existir sem dinheiro público. Estes produtores deram trabalho a centenas de atores, atrizes, diretores, roteiristas e técnicos bancando filmes com seu próprio dinheiro e reinvestindo os lucros em novos filmes. É um exemplo que deveria ser seguido.

Chegamos em um ponto em que o impeachment da presidente e o fortalecimento da Lava-Jato são fundamentais para o início de um novo país. Não sou ingênuo em acreditar que será o fim da corrupção, mas é obrigação que ela seja combatida. Palmas para Sergio Moro e sua esquipe.

Deixo dois links sobre temas diferentes, mas que estão ligados ao que eu comentei aqui.

O crítico de cinema e música André Barcinski escreveu um ótimo texto sobre como os artistas, no caso específico Wagner Moura, tenta criar uma história fictícia para defender o indefensável. Clique aqui para ler:

Neste outro link  a amiga Liliane, que é médica em Recife, cita uma situação que mostra o total descaso do governo em relação aos pacientes que são obrigados a encarar o péssimo SUS.

4 comentários:

Liliane de Paula disse...

Hugo, vc escreveu tudo que penso sobre esse grupo de idiotas e aproveitadores, que em nome de nem sei que, é sem fundamento, põe o interesse pessoal acima de tudo.
Esses nojentos não tem noção do que é serviço médico público, ensino público.

Meu técnico está aqui, tentando consertar meu computador.
A marisia destrói o inimaginavel(risos) e sempre preciso dele, resolvendo problemas.
Aí vou ler todas as suas postagens anteriores.

Gustavo H.R. disse...

A ideologia cega os petistas, que se autoproclaman defensores do "povo", mas fazem vistas grossas aos efeitos insidiosos e a longo prazo causado pelas práticas corruptas e pela incompetência governamental do seu partido. Quanto a esses artistas - talvez a casta mais alienada da realidade social -, estão com medo de perder a boquinha.

Pedrita disse...

eu acho importantíssimo o investimento estatal para o cinema brasileiro. acho que há distorções e precisam ser corrigidas. collor destruiu o cinema brasileiro que tenta se equilibrar aos poucos com orçamentos ínfimos. a política de distribuição dos filmes continua vergonhosa.

Hugo disse...

Liliane - Infelizmente a população e os funcionários públicos concursados sofrem com o total descaso dos governos e prefeituras. Por isso vejo como inadmissível o governo gastar recursos com arte para alguns lucrarem, deixando de lado as prioridades.

Gustavo - É isso mesmo, o dano causado ao país é ignorado por este grupo que tem medo de perder suas vantagens.

Pedrita - Respeito sua opinião, mas entendo que um país como o Brasil em que os problemas sociais são enormes, os gastos do governo devem atender a população prioritariamente. Não através de bolsas de todos os tipos, mas de bons serviços públicos, salários dignos para os funcionários públicos e outras situações que atendem a todos. Cinema e teatro são negócios e devem ser mantidos com dinheiro privado.

Abraço