sexta-feira, 2 de março de 2018

Silêncio & Kundun


Silêncio (Silence, México / Taiwan / EUA, 2016) – Nota 7
Direção – Martin Scorsese
Elenco – Andrew Garfield, Adam Driver, Liam Neeson, Yosube Kubozuka, Issei Ogata, Ciaran Hinds.

No século XVII, o Japão proibiu a religião católica. Padres e devotos eram perseguidos, sendo obrigados a renegar sua crença publicamente, caso contrário eram torturados até a morte. Quando o padre Ferreira (Liam Neeson) deixa de enviar cartas para a Igreja em Portugal, seu superior, o padre Valignano (Ciaran Hinds) acredita que o colega tenha sido morto pelos japoneses.

Dois jovens padres que foram pupilos de Ferreira convencem Valignano a autorizar uma viagem ao Japão para eles procurarem Ferreira, mesmo sabendo que colocariam as próprias vidas em perigo. Rodrigues (Andrew Garfield) e Garupe (Adam Driver) viajam para China e posteriormente são levados de barco por um japonês beberrão (Yosube Kubozuka) para seu país, encontrando no local uma miséria gigantesca e também muitos católicos que praticam sua religião escondidos nas matas e nas cavernas.

Claramente um projeto pessoal que passa longe do gosto do público em geral, este longa de Martin Scorsese foca em um tema pouco conhecido no ocidente. A perseguição aos católicos no Japão é mostrada de forma cruel e ao mesmo tempo com os perseguidores acreditando que estariam fazendo o correto, dando chance das pessoas renegarem sua fé para sobreviver.

É uma pena que Scorsese tenha optado pela longa duração. As duas horas e quarenta deixam o filme um pouco cansativo, principalmente porque não existe tanta história para isso no roteiro. O ponto principal foi mostrar até que ponto cada pessoa pode aguentar o sofrimento em nome da fé e se realmente vale a pena sofrer pela religião. Os padres protagonistas enfrentam esse dilema cada um de uma forma diferente.

Além destes personagens, vale destacar o japonês Yosube Kubozuka que interpreta um católico que sempre tenta se adaptar a situação para sobreviver e depois implora para ser perdoado durante a confissão.

É um interessante filme sobre a fé católica, mas que seria mais eficiente com uma duração mais curta.

Kundun (Kundun, EUA / Mônaco, 1997) – Nota 6,5
Direção – Martin Scorsese
Elenco - Tenzin Thuthob Tsarong, Gyurme Tethong, Tulku Jamyang.

A morte do Dalai Lama em 1933 abre a lacuna de um líder espiritual no Tibete. Quando alguns fatos levam a acreditar que uma criança de dois anos possa ser o novo sucessor, ela é levada para o palácio e criada por monges. A completar catorze anos, o novo Dalai Lama precisa enfrentar a Segunda Guerra Mundial e a ameaça do governo chinês que deseja tomar o poder no país. 

A ligação de Scorsese com a religião católica é comum em sua biografia, por este fato muitas pessoas se surpreenderam quando ele decidiu contar vida do atual Dalai Lama. O roteiro escrito por Melissa Mathison e a narrativa imposta por Scorsese deixam claro a simpatia pelo Tibete escondendo os problemas que aquele país enfrentava como a pobreza e a falta de direitos da população, que viviam sob uma pesada monarquia. Os chineses que invadiram o país são mostrados como únicos vilões na situação.

Nos anos noventa muitas personalidade tomaram partido a favor do Tibete e transformaram o Dalai Lama numa espécie de celebridade. Acredito que isso influenciou na escolha de Scorsese. 

Analisando como cinema, se o espectador deixar de lado o viés político e a lentidão da narrativa, pode apreciar os costumes dos monges, a bela fotografia e a história da importância do protagonista em relação a sua religião.

4 comentários:

Pedrita disse...

nossa, acho que nunca colocaria esses dois filmes na mesma postagem. silêncio é obra de arte, mas muito, muito indigesto. eu achei fundamental silêncio por contar uma parte da história que fazem questão de ocultar. sim, é tenebroso um religioso achar que só a sua fé salva e q todos precisam ser catequizados, mas torturar as pessoas por isso é abominável e nem um pouco religioso. achei cada segundo fundamental. filme dificílimo.

Hugo disse...

Pedrita - São dois filmes bem diferentes, a ligação está na direção de Scorsese e na questão da religião.

É um filme pesado sobre perseguição religiosa e miséria.

Bjos

Luli Ap. disse...

Olá Hugo
Fiquei muito impressionada com Silêncio, concordo que é praticamente uma obra pessoal de Scorcese e levou um tempão para ser realizada. Impressionante a atuação do Garfield!
Um filme assustador especialmente por tratar da intolerância religiosa contra os cristãos, mas tb por mostrar a que ponto a adversidade chega nos locais onde a miséria e o medo assolam e a religião é uma ponte de esperança e fé.
O final foi "revelador" quando se descobre que de certa forma Garfield não renegou a fé e que isso só dizia respeito a ele.
Diz-se que é baseado em fatos reais. (Bom, se é fato é real né non????)

Kundun não assisti ainda, masssssss gosto dessa pegada budista (embora depois de Silêncio nunca mais vou ver os budistas de maneira tão zen de ser) e das reflexões acerca da filosofia.
Vou anotar aqui a indicação, certamente vou gostar <3
Bjs Luli
Café com Leitura na Rede

Hugo disse...

Luli - A produção de "Silêncio" é interessante também por mostrar a história pouco conhecida no ocidente da perseguição aos católicos no Japão. É um filme que o espectador precisa ter paciência e curiosidade sobre religião e história.

O foco de "Kundun" é diferente, mas tenha certeza que os budistas do Tibete mostrados como zen no filme é um pouco de exagero. O povo daquela região sofria e ainda sofre bastante com o governo local.

Bjos