quarta-feira, 29 de abril de 2015

Festa

Ontem o país perdeu o grande ator e apresentador Antonio Abujamra. Com uma carreira quase toda dedicada ao teatro, Abujamra também deixou sua marca em alguns trabalhos no cinema, em novelas e principalmente no programa de entrevistas "Provocações".

Sei que grande parte público sequer conhece o programa, que ficou no ar durante quase quinze anos pela TV Cultura de São Paulo, de 2000 até ontem.

Para quem jamais assistiu, os programas estão disponíveis no site da TV Cultura. 

Esqueçam os programas de entrevista com futilidades, a proposta de Abujamra era provocar o entrevistado com perguntas diretas sobre a vida e o trabalho desenvolvido pela pessoa. Ele entrevistou intelectuais, celebridades, artistas, esportistas e desconhecidos, sempre com perguntas inteligentes que deixavam muitas vezes o entrevistado sem resposta ou se contradizendo. 

Em todas as entrevistas, a última pergunta dava um verdadeiro nó na cabeça do entrevistado. Com sua voz marcante, Abujamra perguntava "O Que É a Vida?". As respostas eram as mais malucas possíveis.

Como homenagem a esta grande figura, comento seu primeiro trabalho no cinema, a interessante comédia "Festa" dirigida por Ugo Giorgetti.

Festa (Brasil, 1989) – Nota 7,5
Direção – Ugo Giorgetti
Elenco – Antonio Abujamra, Adriano Stuart, Jorge Mautner, Iara Jamra, Otávio Augusto, Nei Latorraca, José Lewgoy, Patricia Pillar, Marcelo Mansfield.

Em um casa de luxo no bairro do Jardins em São Paulo, dois jogadores de sinuca (Antonio Abujamra e Adriano Stuart) e um músico (Jorge Mautner) são contratados para entreter os convidados, porém ao entrarem na residência, são levados para o andar de baixo onde ficam esperando horas para serem chamados ao trabalho. 

Com a festa a todos vapor no andar de cima, os dois malandros jogadores de sinuca passam o tempo jogando conversa fora, tentando convencer o músico a disputar um partida por dinheiro e pedindo bebidas e comidas para os empregados da casa, que praticamente ignoram os sujeitos. Entre os empregados, temos o mordomo linha dura (Otávio Augusto), o garçom arrogante (Marcelo Mansfield) e a irritante babá que adora falar (Iara Jamra).

O roteiro escrito pelo diretor Ugo Giorgetti faz uma crítica engraçada e ferina as relações sociais. A classe alta é mostrada como fútil e esnobe, mas que perde “a classe” após beber. Vemos os empregados que são obrigados a obedecer, ao mesmo tempo em que cometem absurdos e tratam os contratados com desprezo. A cena do garçom que sofre um ataque epiléptico e a solução encontrada pelos empregados para resolver a situação são de um absurdo impar.

Os jogadores de sinuca representam a malandragem que ainda existia naquela época, os sujeitos que ganhavam a vida arrancando trocados de incautos em partidas de sinuca, no jogo das bolinhas ou qualquer tipo de aposta que envolvesse dinheiro. A cena em que o personagem de Antonio Abujamra tenta fazer uma aposta com um criança para ganhar algumas moedas é de uma engraçada falta de caráter. Já o músico interpretado por Jorge Mautner é o pobre coitado que passa a noite inteira esperando para tocar, sendo tratado como um ninguém.

O elenco inteiro tem ótimas atuações, neste divertido e crítico filme, que merece ser descoberto. 

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