sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Dedé Mamata, A Cor do Seu Destino & Um Trem Para as Estrelas


Antes de embarcar na aventura de produzir "Chatô", se enrolar todo com o dinheiro envolvido nas filmagens e ver a carreira quase afundar, Guilherme Fontes protagonizou três filmes que fizeram algum sucesso entre os jovens nos anos oitenta.

Mesmo sendo filmes irregulares, muito por causa da época em que o cinema brasileiro estava em baixa, Fontes tinha tudo para se tornar um astro de cinema caso seguisse apenas como ator e participasse da chamada "retomada" que começou em 1995 com "O Quatrilho" e "Carlota Joaquina".

Como informação, no ano passado Fontes deu entrevistas dizendo que estava finalizando a montagem de "Chatô" e que logo o filme seria lançado. Se isto ocorrer, provavelmente o filme fará sucesso pela curiosidade em relação aos vinte anos de polêmicas em relação a produção.

Dedé Mamata (Brasil, 1988) – Nota 7
Direção – Rodolfo Brandão
Elenco – Guilherme Fontes, Malu Mader, Marcos Palmeiras, Iara Jamra, Paulo Porto, Luiz Fernando Guimarães, Lídia Matos, Nathália Thimberg, Paulo Betti, Geraldo Del Rey, Tônico Pereira, Antonio Pitanga, Thais de Campos.

O jovem Dedé (Guilherme Fontes) teve o pai assassinado durante a ditadura e foi criado pelos avós (Nathália Thimberg e Paulo Porto) que eram vinculados ao Partido Comunista. Com a morte da avó em meados dos anos setenta, Dedé fica sozinho com o avô que entra numa espécie de depressão profunda. 

Sem emprego, cuidando do avô e vivendo da aposentadoria do velho, Dedé aceita trabalhar para o Partido recolhendo dinheiro que seria utilizado para a “revolução”. Ao invés de devolver todo o dinheiro, Dedé se associa ao traficante Cumpade (Luiz Fernando Guimarães) para vender drogas na faculdade onde estuda seu amigo Albino (Marcos Palmeira). No meio desta situação, Dedé se envolve ainda com a bela vizinha Lena (Malu Mader) e com a agitada Ritinha (Iara Jamra). 

Em meio as produções brasileiras dos anos oitenta, em sua maioria filmes ruins, este “Dedé Mamata” se destaca pela interessante história e o carisma do elenco. O filme se passa no Rio de Janeiro entre 1974 e 1979, numa época em que a repressão do governo perdia força a cada ano. A trama faz um retrato da juventude carioca, mesmo que de forma superficial, que descobria o mundo das drogas e do sexo fácil, ao mesmo tempo em que a questão política direta ou indiretamente influenciava suas vidas. 

A cena final que cita a volta dos exilados políticos e define o destino de Dedé, é um reflexo das mudanças que começavam a ocorrer no país. Era o fim da repressão oficial e o início da violência do tráfico. 

A Cor do Seu Destino (Brasil, 1987) – Nota 6
Direção – Jorge Duran
Elenco – Guilherme Fontes, Norma Bengell, Franklin Caicedo, Andrea Beltrão, Júlia Lemmertz, Chico Diaz, Marcos Palmeira, Antônio Grassi, Paulinho Mosca, Anderson Muller.

O jovem Paulinho (Guilherme Fontes) é filho do exilado chileno Victor (Franklin Caicedo) e da brasileira Laura (Norma Bengell), que saíram do Chile quando seu filho mais velho (Chico Diaz) foi preso acusado de ser comunista e assassinado pela polícia do general Pinochet. 

Atormentado pela morte do irmão e pelo traição da namorada (Andrea Beltrão), que tem um caso com um professor (Antônio Grassi), Paulinho deseja voltar ao Chile, porém seus pais não aceitam, muito porque uma sobrinha do casal (Júlia Lemmertz) está presa em Santiago. 

Produzido numa época em que o cinema brasileiro estava em baixa, um pouco antes da grave crise do início dos anos noventa, este longa tem uma interessante premissa ao abordar a vida de exilados políticos. 

O diretor Jorge Duran é um chileno que vive no Brasil desde os anos setenta e se aproveitou da ditadura em seu país para escrever o roteiro. O problema é que o filme se perde na crise existencial do protagonista, que se mostra mais como um garoto mimado do que alguém preocupado com política ou algo do gênero. O personagem de Guilherme Fontes não passa empatia alguma ao público. 

O filme vale como curiosidade para quem gosta ou quer conhecer um pouco do estilo do cinema brasileiro dos anos oitenta.

Um Trem Para as Estrelas (Brasil, 1987) – Nota 6
Direção – Carlos Diegues     
Elenco – Guilherme Fontes, Milton Gonçalves, Taumaturgo Ferreira, Ana Beatriz Wiltgen, Zé Trindade, Míriam Pires, José Wilker, Betty Faria, Daniel Filho, Tania Boscoli, Cazuza, Fausto Fawcett, Marcos Palmeiras.

No subúrbio carioca, Vinícius (Guilherme Fontes) vive com o tio em um apartamento de classe baixa e sonha em ser tornar um saxofonista famoso. Sua namorada Nicinha (a inexpressiva Ana Beatriz Wiltgen) trabalha como vendedora em uma loja de shopping na zona sul e tem os pés no chão, acredita que eles precisam ganhar dinheiro antes de sonhar com a fama. 

Após uma noite de sexo ao ar livre, Nicinha desaparece. Vinícius procura a polícia, sendo atendido pelo cínico delegado Freitas (Milton Gonçalves), que garante que encontrará garota, mas também diz ter certeza que ela se meteu em alguma contravenção. Em paralelo, Vinícius recebe o convite para tocar em estúdio com Cazuza (ele mesmo), além de precisar lidar com seu amigo Dream (Taumaturgo Ferreira), que deseja conseguir dinheiro para morar nos Estados Unidos. 

O diretor Carlos Diegues vinha do enorme fracasso de “Quilombo”, quando decidiu investir neste longa voltado para os jovens, inserindo inclusive cenas musicais com Cazuza e Fausto Fawcett, ícones da época. O problema é que a trama na se sustenta, são várias pontas soltas em meio ao roteiro que atira para todos os lados. 

Da investigação policial inicial, o protagonista em seguida procura ajuda de um jornalista (Daniel Filho), precisa lidar com os malucos pais de sua namorada (Zé Trindade e Míriam Pires) e ainda cruza o caminho de situações absurdas como a jovem santinha milagreira e a garota que deseja engravidar. 

Não gosto do estilo de Cacá Diegues, com exceção do interessante “Bye Bye Brasil”, seus filmes resultam em críticas sociais rasas e histórias que parecem não ir ao lugar algum. É um diretor que tem muito mais fama do que talento. 

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