quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Maradona by Kusturica

Maradona by Kusturica (Maradona by Kusturica, Espanha / França, 2008) – Nota 6,5
Direção – Emir Kusturica
Documentário

Entre 2005 e 2007, o diretor sérvio Emir Kusturica entrevistou em várias oportunidades o jogador argentino Diego Armando Maradona para montagem deste documentário. 

Intercalando os depoimentos com imagens dos belos gols do jogador, cenas da conturbada vida pessoal, incluindo algumas internações e a relação com a ex-esposa Claudia Villafane, o resultado é um doc irregular, que lembra as entrevistas especiais de tv, aquelas em que alguma “celebridade” faz revelações sobre sua vida. 

Fica clara a admiração de Kusturica pelo personagem Maradona e também a amizade que surgiu entre os dois. Maradona sente-se a vontade para falar do problema com as drogas, cita que sem o vício teria feito uma carreira ainda mais vitoriosa, assim como demonstra seu sentimento de culpa por não ter sido um pai presente, sem contar as críticas a Fifa e seus presidentes Blatter e João Havelange. 

Se nestes casos ele tem razão nas palavras, por outro lado sua admiração por ditadores como Fidel Castro, Evo Morales e Hugo Chavez, além de Che Guevara, é extremamente ingênua, assim como ódio que sente pelos americanos. Ele tenta se mostrar um defensor do povo, porém há décadas vive como uma celebridade, o que demonstra uma atitude semelhante as pessoas que se dizem de esquerda, mas que aproveitam todas as benesses do capitalismo. 

Kusturica ainda mostra em várias sequências a ridícula Igreja Maradoniana, religião criada por fãs do jogador que inventaram celebrações de casamento e batizados baseados no feitos de Maradona dentro do campo. 

Como o próprio Kusturica cita perto do final do doc, apesar de ter conversado várias vezes com Maradona, fica difícil descobrir que ele realmente é.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Jogo das Decapitações

Jogo das Decapitações (Brasil, 2013) – Nota 7
Direção – Sergio Bianchi
Elenco – Fernando Alves Pinto, Clarisse Abujamra, Silvio Guindane, Maria Manoella, Sérgio Mamberti, Ana Carbatti, Germano Haiut, Renato Borghi, Antonio Petrin, Paulo César Peréio, Elias Andreato.

Leandro (Fernando Alves Pinto) é um sujeito inseguro de trinta anos de idade, que não consegue se manter nos empregos e sofre para finalizar seu mestrado. Por interferência de sua mãe Marília (Clarisse Abujamra), que fora presa política nos anos setenta, Leandro utiliza como tema da tese de mestrado o estudo dos grupos políticos que enfrentaram a ditadura. 

Durante a pesquisa, Leandro descobre informações sobre seu pai, o presidiário Jairo (Paulo César Peréio), sujeito considerado maluco, que foi perseguido pelo governo e que fez um filme maldito chamado “Jogos das Decapitações”. Obcecado em saber mais sobre o pai, Leandro decide investigar a vida de Jairo e encontrar o filme perdido, situação que o fará ver com outros olhos o que realmente ocorreu nos “Anos de Chumbo”. 

O diretor Sergio Bianchi tem sua carreira marcada por filmes polêmicos, que sempre mostram o lado corrupto e podre da sociedade e dos seres humanos. Aqui o diretor ataca várias alvos, como as indenizações pagas aos perseguidos pela ditadura, a vitimização da esquerda atual que não aceita opinião contrária ao seu pensamento, a doutrinação de esquerda ministrada pelos professores, as ONGs, os dossiês políticos e principalmente o egoísmo e a total falta de respeito entre as pessoas. São várias sequências que escancaram preconceitos, infelizmente situações semelhantes ao que vemos no dia a dia. 

O filme perde um pouco da força e resulta inferior ao anterior “Os Inquilinos” ao mostrar os medos do personagem Leandro transformados em sonhos. Mesmo com a ideia sendo interessante, as sequências são quase surreais e um pouco forçadas. 

Como informação, Bianchi utiliza cenas do seu longa “Maldita Coincidência” de 1979 para representar o filme “Jogo de Decapitações” que o protagonista procura. Para quem é de SP e conhece a cidade, este longa de 1979 foi filmado no conhecido “Castelinho da Rua Apa”, um velho casarão considerado maldito, onde ocorreu um famoso crime em 1937 que jamais foi resolvido, em que mãe e dois filhos advogados de família aristocrática foram assassinados. 

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias

4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias (4 Luni, 3 Saptamâni si 2 Zile, Romênia / Bélgica, 2007) – Nota 8
Direção – Cristian Mungiu
Elenco – Anamaria Marinca, Laura Vasiliu, Vlad Ivanov, Alexandru Potocean, Luminita Gheorghiu, Adi Carauleanu.

Romênia, 1987, a universitária Gabriela (Laura Vasiliu) está agitada em seu quarto, deixando claro que tem algo importante a fazer. Sua amiga Otilia (Anamaria Marinca) anda pelos corredores conversando com outras estudantes sobre coisas fúteis, como produtos de beleza e cigarros a serem comprados. Assim que Otilia volta ao quarto, ela diz para Gabriela que sairá para resolver a situação e que a encontrará no local combinado. 

Vencedor da Palma de Ouro em Cannes, este ótimo e pesadíssimo drama romeno é um daqueles filmes em que o melhor é contar o menos possível da trama, deixando o espectador enfrentar aos poucos a angustiante jornada das jovens, principalmente Otilia. 

Para entender melhor a proposta do roteiro do diretor Cristian Mungiu, é necessário lembrar que o filme se passa no final do comunismo na Romênia, dois anos antes da revolta popular que derrubou o governo e matou o ditador Nicolai Ceausescu. 

Na época, a Romênia e os demais países comunistas sofriam uma enorme crise que era abafada pelos governos totalitários que controlavam a mídia, com a população sofrendo com a falta de produtos, com a pobreza e a severa perseguição da polícia. 

A forma como agem os personagens escritos por Mungiu são consequências deste regime político. As jovens Gabriela e Otilia representam o povo oprimido, o canalha Mr. Bebe (Vlad Ivanov), que tem papel importante na trama, age de forma semelhante aos agentes repressores do Estado e a família de Adi (Alexandru Potocean), namorado de Otilia, são o exemplo da burguesia romena que fechava os olhos para a ditadura em troca de uma vida de classe média. 

Por sinal, a sequência do jantar na casa da família de Adi é angustiante. São em torno de sete minutos com a câmera fechada na altura do rosto de Otilia, que ouve três médicos e suas esposas dispararem frases preconceituosas. 

A falta de uma trilha sonora, as cenas noturnas em ruas escuras assustadoras, os atendentes mal educados no hotel e uma cena polêmica próxima do final, são outros ingredientes que incomodarão espectador e o farão pensar no filme por vários dias.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Bróder

Bróder (Brasil, 2010) – Nota 7,5
Direção – Jefferson De
Elenco – Caio Blat, Jonathan Haagensen, Silvio Guindane, Cássia Kiss, Ailton Graça, Cíntia Rosa, Zezé Motta, Du Bronks, Eduardo Acaiabe, Lidiane Lisboa, João Acaiabe, Antonio Petrin.

Na periferia da Zona Sul de São Paulo, no bairro do Capão Redondo, o jovem Macu (Caio Blat) tem uma dívida com um bandido (Eduardo Acaiabe) e para pagá-la, é pressionado para trabalhar como olheiro de um sequestro que está sendo planejado. Enquanto espera as ordens, Macu descobre que sua mãe (Cássia Kiss) prepara uma festa de aniversário, mesmo a contragosto de seu padastro (Ailton Graça). 

Não demora para chegarem a comunidade seus amigos de infância. Pibe (Silvio Guindane) hoje mora no centro da cidade e vive com uma ex-namorada de Macu, enquanto Jaiminho (Jonathan Haagensen) se tornou jogador de futebol que atua na Espanha e que espera ser convocado para a seleção. O reencontro dos amigos despertará lembranças da infância, brigas e relações mal resolvidas, inclusive de Pibe e Jaiminho com garotas da comunidade. 

O roteiro escrito por Jefferson De teve a consultoria do escritor Ferrez, autor do livro “Capão Pecado” e uma espécie de especialista sobre a vida e os problemas daquela região. Os personagens que passam pela tela, ao mesmo tempo podem ser vistos como esteriótipos de filmes sobre favela e também como pessoas reais, que sofrem e tentam sobreviver de alguma forma naquele local. 

A personagem de Cássia Kiss se apega a religião, o de Ailton Graça é um frustrado que tenta abandonar a bebida, temos o jovem bandido (Du Bronks), a garota que trabalha como stripper (Lidiane Lisboa) e os três amigos, sendo que dois deles saíram dali para seguir a vida, enquanto Macu está preso a falta de perspectivas e a pressão para entrar na criminalidade. 

Muitos torcem o nariz para os chamados “filmes de favela”, alegando que denigrem a imagem do país ou exploram a miséria alheia. Eu vejo estes filmes como uma forma de retratar a triste realidade que muitas pessoas vivem em várias regiões de nosso país. O cinema é apenas ficção, o problema está na vida real. 

sábado, 27 de dezembro de 2014

O Último Amor de Mr. Morgan

O Último Amor de Mr. Morgan (Mr. Morgan’s Last Love, Alemanha / Bélgica / EUA / França, 2013) – Nota 7,5
Direção – Sandra Nettelbeck
Elenco – Michael Caine, Clémence Poésy, Justin Kirk, Gillian Anderson, Jane Alexander.

Três anos após a morte da esposa (Jane Alexander), o professor aposentado Matthew Morgan (Michael Caine) vive solitário em seu apartamento em Paris. Com visitas semanais da empregada e um almoço também semanal com uma senhora a quem ele ensina inglês, Mr. Morgan é um sujeito triste que está deixando a vida passar. 

Num certo dia dentro de um ônibus, por um acaso, ele faz amizade com Pauline (Clémence Poésy), uma jovem professora de dança. Mesmo com uma enorme diferença de idade, eles criam um forte laço de amizade. Morgan vê na jovem semelhanças com sua falecida esposa, enquanto Pauline pensa nele como um pai. Alguns desencontros causados pelas lembranças do passado, uma situação inusitada e a posterior chegada em Paris dos filhos de Morgan (Justin Kirk e Gillian Anderson), criam conflitos a serem enfrentados pelos personagens.

Poucos são os bons filmes que oferecem papéis de protagonista a veteranos. Este é uma bela exceção, que dá ao grande Michael Caine a chance de presentear o espectador com uma ótima atuação. 

O filme utiliza alguns clichês sobre problemas familiares mal resolvidos e um final até que previsível, porém o grande acerto é a relação entre os personagens de Caine e da francesa Clémence Poésy, que demonstram uma ótima química em cena. 

O roteiro é inteligente ao mostrar que a solidão não tem idade, ao mesmo tempo em que ela pode ser superada por todos. 

A locação em Paris é perfeita para a trama, assim como o toque de ironia em alguns diálogos, que brincam com a disputa entre as línguas inglesa e francesa. Enquanto o personagem de Caine não fala francês, algumas pessoas que interagem com ele não aceitam terem de falar em inglês para entender o velho senhor. 

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Disparos

Disparos (Brasil, 2012) – Nota 7,5
Direção – Juliana Reis
Elenco – Gustavo Machado, Caco Ciocler, Dedina Bernardelli, Julio Adrião, João Pedro Zappa, Cristina Amadeo, Thelmo Fernandes, Silvio Guindane, Gilberto Gawronski, Ernani Moraes.

O longa começa com o fotógrafo Henrique (Gustavo Machado) recolhendo apressadamente seus pertences que estão espalhados na rua ao lado do corpo de um motoqueiro acidentado. Ele vai embora do local com o jovem Guto (João Pedro Zappa). 

No meio do caminho, Henrique percebe que perdeu o cartão de memória da máquina fotográfica e decide voltar ao local do acidente sozinho, enviando Guto para sua casa. Chegando lá, ele encontra o cartão, mas acaba sendo abordado por um policial (Silvio Guindane), que acredita que Henrique tenha sido o causador do acidente. O nervoso Henrique é obrigado a acompanhar o policial até a delegacia, onde conta sua versão da história para o cínico inspetor Freire (Caco Ciocler). A partir daí, intercalando cenas em flashback, com o depoimento de Henrique e a investigação de Freire, o espectador descobrirá aos poucos o que realmente aconteceu. 

A novata Juliana Reis estreou na direção mostrando potencial ao comandar um drama policial com uma linguagem moderna, uma trama complexa, ótimos diálogos e uma bela fotografia. O roteiro, também escrito pela diretora, contém uma forte crítica social do mundo atual, onde a honestidade e o respeito ao próximo são coisas raras e as relações pessoais estão cada vez piores, sejam elas de amizade, amorosas ou profissionais. 

O filme tem algumas falhas, por exemplo, a sequência do “Boa Noite Cinderela” parece deslocada na trama, assim como a namorada de Henrique, Bia (Dedina Bernardelli) se mostra exagerada, mesmo que no fundo estas situações estejam de acordo com o contexto da trágica noite em que se passa a história. 

Os destaques do elenco ficam por conta da dupla principal. O fotógrafo interpretado por Gustavo Machado é a síntese do sujeito egoísta e arrogante, que precisa lidar com a ironia e o cinismo do inspetor criado por Caco Ciocler. Os diálogos entre os dois são ótimos, assim como as cenas em que eles interagem com o inspetor Gomes interpretado pelo falante Thelmo Fernandes. 

Para quem gosta de um drama policial, este longa é uma boa opção.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O Caso Farewell

O Caso Farewell (L’affaire Farewell, França, 2009) – Nota 7
Direção – Christian Carion
Elenco – Emir Kusturica, Guillaume Canet, Alexandra Maria Lara, Willem Dafoe, Ingeborga Dapkunaite, Niels Arestrup, Benno Furhmann, Fred Ward, David Soul, Dina Korzun, Diane Kruger.

Em 1981, o diplomata francês em Moscou Pierre Froment (Guillaume Canet) é encarregado de encontrar um possível desertor do governo soviético, que a princípio estaria em busca de asilo político, porém na verdade o sujeito era o coronel Sergei Gregoriev (Emir Kusturica), que desencantado com o comunismo, desejava divulgar documentos secretos com o objetivo de fomentar uma crise que seria o estopim para mudanças políticas no país. 

Mesmo com medo de se tornar alvo do governo soviético e colocar sua família em risco, Froment aceita o trabalho de espião, escondendo o fato de sua esposa (Alexandra Maria Lara). Durante um determinado período, Froment recebe documentos de Gregoriev e os envia para Paris, onde o governo francês repassa as informações para o então presidente americano Ronald Reagan (Fred Ward), que as utiliza para pressionar os soviéticos. 

Baseado numa intrincada história real de espionagem repleta de mentiras e traições, este longa é ao mesmo tempo interessante por causa da trama e um pouco cansativo pelo ritmo irregular e a frieza da narrativa. 

O diretor tentou misturar a trama de espionagem com os dramas familiares dos protagonistas. O diplomata sofre por esconder seu trabalho da esposa, enquanto o coronel sente-se dividido pelo amor que tem pela esposa e a atração sexual pela amante, além de não saber lidar com o filho adolescente. 

Mesmo prendendo a atenção, falta emoção, até mesmo as sequências mais fortes na parte final sofrem pela frieza. 

Os destaques ficam por conta da amizade que surge entre os personagens principais, que por curiosidade, são interpretador por atores que também são diretores, sendo o sérvio Emir Kusturica mais famoso atrás das câmeras por causa de trabalhos como “Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios” e o doc “Maradona by Kusturica” e também pelo elenco internacional que tem bons nomes como Willem Dafoe, a alemã Alexandra Maria Lara (“A Queda! As Últimas Horas de Hitler”) e o francês Niels Arestrup (“O Profeta”).

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

O Substituto

O Substituto (Detachment, EUA, 2011) – Nota 7,5
Direção – Tony Kaye
Elenco – Adrien Brody, Marcia Gay Harden, Sami Gayle, James Caan, Christina Hendricks, Lucy Liu, Blythe Danner, Tim Blake Nelson, William Petersen, Bryan Cranston, Betty Kaye, Louis Zorich, Isiah Whitlock Jr.

O diretor inglês Tony Kaye estreou no cinema com o ótimo “A Outra História Americana” e comprou uma briga gigantesca com os produtores quando se negou a montar o filme da forma como eles queriam. A disputa chegou até a justiça e Tony Kaye conseguiu que o filme fosse lançado pela sua versão. Por outro lado, a vitória na justiça fez com que o diretor fosse tratado como persona non grata em Hollywood, o que afastou do trabalho por onze anos, até conseguir lançar o longa independente “Black Water Transit” em 2009. 

A história aqui tem como protagonista o professor substituto Henry Barthes (Adrien Brody), que chega a uma nova escola para trabalhar durante trinta dias e que neste período tenta ajudar os alunos fazendo com que eles questionem suas atitudes e as consequências delas, ao mesmo tempo em que carrega traumas do passado. Sua mãe cometeu suicídio e ele cuida do avô (Louis Zorich) que vive em um asilo. Solitário e pensativo, Henry cruza ainda o caminho da prostituta adolescente Erica (Sami Gayle) e decide ajudá-la também. 

O roteiro escrito por Carl Lund foca na falência do sistema educacional, no despreparo dos pais em educar os filhos e por consequência no péssimo relacionamento entre alunos e professores, que causam traumas, frustrações e até violência. 

Os diversos personagens que passam pela tela carregam frustrações e angústias diárias. Entre os alunos, temos a gordinha depressiva, o garoto negro revoltado com os professores e os jovens rebeldes sem causa. 

Do outro lado, cada professor tenta sobreviver a sua maneira a mais um dia de trabalho. Um veterano (James Caan) utiliza a ironia e o deboche para se defender, outro professor (Tim Blake Nelson) está à beira de um colapso por ser ignorado pelos alunos e por sua família, temos a jovem (Christina Hendricks) que acreditava que conseguiria mudar a vida dos jovens, além da psicóloga (Lucy Liu) que é ofendida pelos pais cada vez que detecta um problema em algum aluno e por fim a diretora (Marcia Gay Harden) perdida entre fazer política para se manter no cargo e lidar com os professores insatisfeitos. 

Nos créditos iniciais, alguns professores verdadeiros dão depoimentos sobre porque escolheram a profissão e por incrível que pareça, nenhum deles cita que foi por vocação. Esta é uma das explicações para a falta de preparo de muitos destes profissionais. 

No restante do filme o personagem de Adrien Brody conversa com a câmera, como se estivesse em uma sessão de terapia ou um confessionário, abrindo seus sentimentos em relação a vida e a carreira de professor.

O filme é um retrato cruel do sistema educacional americano.

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Madigan - Os Impiedosos

Madigan – Os Impiedosos (Madigan, EUA, 1968) – Nota 7,5
Direção – Don Siegel
Elenco – Richard Widmark, Henry Fonda, Inger Stevens, Harry Guardino, James Whitmore, Susan Clark, Michael Dunn, Don Stroud, Sheree North, Steve Ihnat, Raymond St. Jacques.

Em Nova York, os detetives Daniel Madigan (Richard Widmark) e Rocco Bonaro (Harry Guardino) são surpreendidos por um suspeito (Steve Ihnat), que foge levando suas armas. O sujeito que é procurado por assassinato em outro Estado, se torna o alvo da caçada dos detetives, que precisam lidar com a pressão do comissário (Henry Fonda) para resolver o caso, além de enfrentar problemas familiares. Por outro lado, o comissário também descobre que seu amigo que é chefe dos detetives (James Whitmore), pode estar envolvido com um agiota. 

Ao lado de “Bullitt” de Peter Yates e do clássico “Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas” de Arthur Penn, este “Madigan – Os Impiedosos” forma a trinca de filmes que deram início ao cinema policial realista, gênero que teve seu auge nos anos setenta e que até hoje serve de inspiração para longas e seriados. Adultério, nudez, perseguições, violência e problemas que envolvem honestidade, corrupção, ética e corporativismo entre policiais se tornaram elementos clássicos do gênero. 

Aqui vale destacar o ótimo elenco, que tem como protagonistas dois atores que ficaram marcados por papéis de durões. Richard Widmark e Henry Fonda transmitem toda a força e seriedade que o papel de policial pede, muito bem auxiliados por nomes como Harry Guardino e James Whitmore, atores que fizeram sólidas carreiras como coadjuvantes. 

Entre as mulheres que interpretam esposas e amantes dos policiais, o destaque é a bela sueca Inger Stevens, que tinha carreira na tv e ficaria famosa por este filme e por seu trabalho em “A Marca da Forca” com Clint Eastwood, porém teria um final trágico ao cometer suicídio dois anos depois. 

Não se pode deixar de citar a firme direção de Don Siegel, que na época tinha no currículo o hoje clássico cult “Vampiros de Almas” e vários trabalhos na tv, mas que passaria a ser respeitado a partir deste “Madigan” e se consagraria com a parceira de cinco filmes como Clint Eastwood, principalmente os ótimos “Perseguidor Implacável” e “Alcatraz – Fuga Impossível”.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

A Cidade Está Tranquila

A Cidade Está Tranquila (La Ville Est Tranquille, França, 2000) – Nota 8
Direção – Robert Guédiguian
Elenco – Ariane Ascaride, Jean Pierre Darrousin, Gérard Meylan, Jacques Boudet, Pascale Roberts, Christine Brucher, Jacques Pieiller, Julie Marie Parmentier, Alexandre Ogu, Véronique Balme, Pierre Banderet.

Em Marselha na França, vários personagens tem seus destinos cruzados. Michele (Ariane Ascaride) trabalha de madrugada embalando peixes no mercado municipal para sustentar sua família. O marido (Pierre Banderet) é um alcoólatra que está desempregado há três anos e sua filha Ameline (Véronique Balme) é uma viciada que se prostitui para comprar drogas. Michele precisa cuidar também da neta que ainda é bebê. 

Quando Ameline chega ao fundo do poço, Michele pede ajuda a Gérard (Gérard Meylan) para comprar drogas. Gérard é um ex-namorado de Michele da época da adolescência, que hoje tem ligações com o submundo da cidade. Para conseguir o dinheiro extra, Michele decide se prostituir também e na busca por clientes, acaba conhecendo o taxista Paul (Jean Pierre Darroussin), um solteirão que tenta esconder dos pais sua vida de fracassos. 

A trama também segue a vida de Viviane (Christine Brucher), uma professora de música de classe média alta, que se sente frustrada pelo casamento com o fútil Yves (Jacques Pieiller) e que termina por se envolver com o ex-presidiário Abderramane (Alexandre Ogu). 

Na cena inicial, a câmera dá um volta panorâmica por Marselha, como se estivesse querendo mostrar que a cidade está tranquila, como diz o título, porém a trama é um verdadeiro turbilhão de emoções, frustrações e problemas enfrentados pelos personagens. 

As situações vividas por cada personagem estão ligadas a problemas contemporâneos que a França está sendo obrigada a enfrentar, como imigração, xenofobia, desemprego, drogas e famílias desestruturadas. 

Para o espectador, fica a sensação de desconforto ao ver na tela personagens sofredores, daqueles que tomam atitudes desesperadas para tentar mudar o rumo de suas vidas. 

domingo, 21 de dezembro de 2014

13 Tzameti

13 Tzameti (13 Tzameti, França, 2005) – Nota 8
Direção – Géla Babluani
Elenco – George Babluani, Aurelien Recoing, Pascal Bongard, Fred Ulysse, Vania Vilers, Phillippe Passon.

Sebastian (George Babluani) é um jovem que trabalha reformando casas em uma pequena cidade da França e que vive numa família que passa por dificuldades financeiras. Durante o trabalho em uma determinada casa, Sebastian descobre que o proprietário Godon (Phillipp Passon), espera uma importante carta, que seria o convite para um serviço que renderia muito dinheiro. 

A carta chega, porém Godon morre de overdose. Sebastian rouba a carta e decide seguir as instruções pensando no dinheiro que pode ganhar, mesmo sem saber qual é o trabalho. Ele viaja para outra cidade e encontra um sujeito que o levará para um local isolado, onde ocorrerá um sinistro jogo com apostas milionárias. 

Como cinéfilo, um fator que muito me agrada é a surpresa. Este ótimo “13 Tzameti” é um grande exemplo, mesmo que por desconhecimento eu tenha assistido primeiro a refilmagem americana dirigido pelo mesmo Géla Babluani. 

A versão americana é de 2010 e se chama “13 – O Jogador”, filme que inclusive já comentei no blog. Vi a chamada na tv a cabo e assisti esperando pouca coisa, mas tive uma surpresa agradável. Fui pesquisar e descobri que era uma refilmagem. 

Consegui encontrar o original, que é superior, principalmente por ser mais cru e realista, além de ter sido filmado em preto e branco. O protagonista do original fala pouco, demonstrando seus sentimentos com atitudes e olhares, o roteiro vai direto ao ponto e as cenas de suspense são de uma tensão insuportável. 

Para que quiser assistir as duas versões, como dica, veja primeiro o original, com o certeza o impacto será maior.

sábado, 20 de dezembro de 2014

O Grande Segredo

O Grande Segredo (Cloak and Dagger, EUA, 1946) – Nota 6
Direção – Fritz Lang
Elenco – Gary Cooper, Lilli Palmer, Robert Alda, Vladimir Sokoloff.

Durante a Segunda Guerra Mundial, uma cientista polonesa foge da Alemanha para a Suiça. O fato faz com que o governo americano desconfie que os nazistas estejam desenvolvimento pesquisas para a fabricação de uma bomba nuclear. 

Precisando de um especialista para descobrir a verdade, o governo convoca o professor Alvah Jasper (Gary Cooper), que aceita a missão e segue para a Europa. A investigação de Alvah começará na Suiça e terminará na Itália em busca de um famoso cientista italiano (Vladimir Sokoloff). 

Aproveitando o final da guerra e o Projeto Manhattan, o roteiro deste longa foca em uma trama ficcional que hoje se mostra ingênua. O roteiro ainda transforma o catedrático professor em um corajoso agente, sem contar o envolvimento amoroso forçado que é inserido no meio da trama. 

Os pontos positivos são as cenas de ação e suspense, inclusive o tiroteio na sequência final, além da presença do sempre carismático Gary Cooper. 

Mesmo com o talento de Fritz Lang na direção, o filme pode ser considerado no máximo razoável. 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Espionagem em Goa & A Batalha da Vingança


Espionagem em Goa (The Sea Wolves, Suiça / Inglaterra / EUA, 1980) – Nota 6
Direção – Andrew V. McLaglen
Elenco – Gregory Peck, Roger Moore, David Niven, Trevor Howard, Barbara Kellerman, Patrick Macnee.

Em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, os alemães utilizam um transmissor para interceptar mensagens dos aliados e assim localizar os navios de guerra inimigos para afundá-los com ataque de torpedos. Os aliados sabem que o transmissor está instalado em um navio alemão em Goa, uma colônia portuguesa no Pacífico. Como os portugueses se mantinham neutros durante a guerra, os aliados não poderiam atacar com navios ou submarinos, a única chance seria uma missão clandestina. Assim, dois coronéis (Gregory Peck e David Niven) e um capitão (Roger Moore), criam um curioso plano. Eles montam uma equipe de oficiais aposentados, que são levados para a Goa disfarçados como turistas, porém com o objetivo de destruir o navio alemão. 

O diretor inglês Andrew V. McLaglen, filho do antigo astro Victor McLaglen e falecido este ano, comandou três filmes seguidos com o então 007 Roger Moore. Os interessantes “Selvagens Cães de Guerra” sobre um golpe em um país africano e “Resgate Suicida” sobre terrorismo. Este “Espionagem em Goa” é baseado numa história real de veteranos soldados que retornaram para a guerra aceitando esta perigosa missão, inclusive no final do longa vemos as fotos dos verdadeiros soldados. 

Infelizmente o desenrolar da trama fica aquém da premissa. O ritmo é irregular, com várias passagens mortas. Algumas cenas de ação são feitas por dublês e outras se mostram falhas por causa da idade avançada dos protagonistas, principalmente Peck e Niven. Roger Moore repete o papel de espião conquistador e se envolve com a assassinada vivida por Barbara Kellerman. 

É um filme que envelheceu mal. 

A Batalha da Vingança (Shout at the Devil, Inglaterra, 1976) – Nota 6,5
Direção – Peter Hunt
Elenco – Lee Marvin, Roger Moore, Barbara Parkins, Ian Holm.

Pouco antes do início da Primeira Guerra Mundial, o coronel O’Flynn (Lee Marvin) e seu ajudante mudo Mohammed (Ian Holm) vivem em Zanzibar na África como caçadores de marfim. Logo, eles se unem ao aristocrata inglês Oldsmith (Roger Moore), que se envolve e casa com Rosa (Barbara Parkins), filha de O’Flynn. O trabalho ilegal é combatido pelo exército alemão que domina a região. Quando estoura a guerra, os caçadores de marfim se tornam inimigos oficiais dos alemães se unindo aos aliados. 

Este divertido longa tem boas cenas de ação, inclusive uma batalha e uma trama que lembra os filmes de espionagem dos anos cinquenta e sessenta. Além das cenas de ação filmadas na África do Sul, outro destaque é o contraste entre os estilos do eterno vilão Lee Marvin e do galã Roger Moore.  

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Ricardo Darin

Quem acompanha meu blog sabe que o foco principal é a resenha de filmes e seriados. Não tenho interesse em divulgar notícias sobre cinema ou sobre a vida particular de astros e estrelas.

Hoje abrirei uma exceção para comentar duas atitudes de Ricardo Darin, que mostram que além de grande ator, o sujeito parece ser uma pessoa de uma simplicidade e de um caráter acima da média.

Navegando pela internet encontrei um vídeo de parte de uma entrevista do ator onde ele comenta com muita firmeza porque não aceitou trabalhar em Hollywood, além da dar uma verdadeira lição de humildade no arrogante apresentador.

O vídeo de sete minutos pode ser visto neste link.

O outro fato é uma verdadeira lição de simplicidade e boa vontade. Um sujeito chamado Gonzalo Roldan, dono de uma locadora de filmes em Buenos Aires, conseguiu entrar em contato com Darin e enviar o roteiro de um filme amador. Roldan, que já havia filmado alguns curtas com os amigos, convidou Darin a fazer uma pequena participação. Para surpresa do cineasta iniciante, ao invés das duas horas que Darin se comprometeu a trabalhar de graça, o ator ficou quase o dia inteiro, ajudou Roldan no roteiro e ainda deu várias palpites sobre o filme.

O vídeo de dois minutos e meio com a participação de Darin no filme "El Destino del Lukong" pode ser visto neste link.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

A Entidade

A Entidade (Sinister, EUA / Inglaterra, 2012) – Nota 7,5
Direção – Scott Derrickson
Elenco – Ethan Hawke, Juliet Rylance, Fred Dalton Thompson, James Ransone, Michael Hall D’Addario, Clare Foley, Vincent D’Onofrio.

Ellison Oswalt (Ethan Hawke) é um escritor especializado em livros investigativos sobre crimes violentos. Ele fez grande sucesso com seu primeiro livro, porém suas obras posteriores fracassaram. 

Oswalt vê a chance de recuperar a fama escrevendo um livro sobre uma família que foi assassinada por enforcamento em uma árvore no quintal de casa, com mais um detalhe sinistro, uma criança desta família desapareceu. 

Oswalt decide se mudar para a casa onde ocorreu o crime, levando sua esposa (Juliet Rylance) e o casal de filhos (Michael Hall D’Addario e Clare Foley). Logo no primeiro dia na casa, Oswalt encontra no sótão uma caixa com filmes em super 8 que mostram outros crimes semelhantes. O conteúdo dos filmes abala o escritor, que tem de lidar ainda com fatos estranhos que começam a ocorrer na casa. 

O roteiro do diretor Scott Derrickson (do bom “O Exorcismo de Emily Rose” e da fraca refilmagem de “O Dia em Que a Terra Parou”), mistura as premissas de “O Chamado” e da série “Atividade Paranormal” com o clima de “Invocação de Mal”, resultando num competente longa de terror e suspense. 

Derrickson explora muito bem as cenas noturnas na casa, criando sustos que podem parecer clichês, mas que funcionam, além da coragem de entregar um final politicamente incorreto. 

Uma sequência já foi filmada e será em lançada em 2015.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias

O Ano em Que Meus Pais Saíram de Férias (Brasil, 2006) – Nota 7,5
Direção – Cao Hamburger
Elenco – Michel Joelsas, Germano Haiut, Simone Spoladore, Caio Blat, Eduardo Moreira, Paulo Autran, Daniela Piepszyk, Liliana de Castro, Rodrigo dos Santos, Abrahão Farc.

No início de 1970, o menino Mauro (Michel Joelsas) sai de Belo Horizonte com os pais (Eduardo Moreira e Simone Spoladore) com destino ao bairro do Bom Retiro em São Paulo. O casal deixa o garoto na porta do edifício onde vive o avô (Paulo Autran), diz que estão saindo de férias e que voltarão até o início da Copa do Mundo do México no meio do ano. 

Praticamente abandonado, Mauro descobre que seu avô faleceu no dia anterior. Sem ter para onde ir, Mauro é acolhido a contragosto pelo vizinho judeu Shlomo (Germano Haiut), com quem criará um laço de amizade enquanto espera pela volta dos pais. 

Este simpático longa tem um roteiro assinado por Claudio Galperin, Adriana Falcão, Bráulio Mantovani, Anna Muylaert e o diretor Cao Hamburger, este último que utilizou lembranças da própria infância para desenvolver a história. Cao é filho de professores que durante a ditadura foram presos por ajudar pessoas consideradas subversivas. O fato fez com Cao tivesse de passar alguns dias com os avós, sendo que um deles era judeu. 

A dificuldade do garoto em entender o modo de vida dos judeus ortodoxos e a tristeza pela distância dos pais em parte são compensadas pelas amizades com as crianças do bairro e o amor pela futebol, da mesma forma como deve ter acontecido com Cao. 

A atuação natural do garoto Michael Joelsas vale o destaque, ele que foi escolhido em meio a centenas de crianças candidatas ao papel. 

Este foi o penúltimo trabalho do grande Paulo Autran, que tem uma pequena participação e que faleceria no ano seguinte. 

Como informação, o bairro do Bom Retiro era o reduto da colônia judaica em SP até os anos noventa. A partir daí, as novas gerações de judeus se mudaram para bairros de classe média alta como Higienópolis e Pacaembu, enquanto o Bom Retiro foi tomado por coreanos e bolivianos. 

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Timecop, Morte Súbita & Aliança Mortal


O astro das artes marciais Jean Claude Van Damme e o diretor Peter Hyams trabalharam juntos em três filmes, sendo que os dois primeiros foram feitos na década de noventa em um momento onde a dupla tinha prestigio em Hollywood, enquanto o último longa produzido em 2013 é uma tentativa melancólica de ressuscitar suas carreiras.

Hyams, que também é roteirista, está na ativa desde o início dos anos setenta, tendo comandado bons filmes como "Outland - Comando Titânio" e "Mais Forte que o Ódio", os dois protagonizados por Sean Connery, além da curiosa sequência de "2001 - Uma Odisseia no Espaço", o criticado "2010 - O Ano em que Faremos Contato".

Quando a dupla se reuniu pela primeira vez, Van Damme estava no auge após os sucessos de "Soldado Universal" e "O Alvo", seus dois melhores filmes da carreira. 

Os dois filmes da dupla ("Timecop" e "Morte Súbita") são competentes e fizeram sucesso, inclusive com "Timecop" se tornando a maior bilheteria da carreira de Van Damme, porém em seguida, as carreiras de Hyams e Van Damme entrarem em declínio. Os dois tiveram vários fracassos em sequência, com o ator ainda tendo um sério problema com as drogas.

Nesta postagem comento rapidamente estes filmes da dupla Hyams/Van Damme.

Em breve pretendo fazer uma resenha dos piores filmes de Van Damme, que são vários por sinal.

Timecop – O Guardião do Tempo (Timecop, EUA / Canadá / Japão, 1994) – Nota 7
Direção – Peter Hyams
Elenco – Jean Claude Van Damme, Ron Silver, Mia Sara, Bruce McGill, Gloria Reuben, Kenneth Welsh.

Num futuro próximo, as viagens no tempo se tornaram possíveis e por consequência, criminosos passaram a utilizar a tecnologia para cometer crimes. O governo cria uma polícia específica para investigar estes crimes. Neste contexto, o policial Walker (Jean Claude Van Damme), que sofre pela morte da esposa (Mia Sara) que fora assassinada anos atrás, ao investigar um caso prende um suspeito que diz ter sido enviado ao passado por um político (Ron Silver), que deseja manipular os acontecimentos para se tornar presidente. Walker desconfia ainda que a morte de sua esposa pode estar ligada ao político. 

Sem grandes surpresas, mas com boas cenas de ação, um vilão competente (o falecido Ron Silver) e uma trama sobre viagem no tempo que não ofende a inteligência do espectador, o filme fez merecido sucesso e deixou a impressão de que Van Damme poderia se manter como astro por muitos anos, o que infelizmente não ocorreu.

Morte Súbita (Sudden Death, EUA, 1995) – Nota 7
Direção – Peter Hyams
Elenco – Jean Claude Van Damme, Powers Boothe, Raymond J. Barry, Dorian Harewood, Ross Malinger, Whittni Wright, Michael Gaston, Audra Lindley.

Durante a final da Copa Stanley de hóquei, um grupo terrorista toma de sequestro o local da partida, ameaçando explodir o ginásio caso o governo não pague uma fortuna como resgaste. Entre público presente está o vice-presidente americano (Raimond J. Barry) e o bombeiro Darren McCord (Jean Claude Van Damme), este com seus dois filhos pequenos (Whittni Wright e Ross Malinger). Para tentar salvar os filhos, McCord decide enfrentar os terroristas utilizando sua habilidade física e o conhecimento do local. 

Claramente inspirado em “Duro de Matar”, este filme tem cenas de ação competentes, valorizadas por Van Damme que estava no auge da forma física. O longa tem ainda um ótimo vilão (Powers Boothe), resultando numa boa diversão para quem gosta de filmes de ação sem exigir muito. 

Aliança Mortal (Enemies Closer, EUA / Inglaterra, 2013) – Nota 5
Direção – Peter Hyams
Elenco – Jean Claude Van Damme, Tom Everett Scott, Orlando Jones, Linzey Cocker, Christopher Robbie, Kris Van Damme.

Henry (Tom Everett Scott) é um ex-fuzileiro que hoje trabalha como policial, sendo responsável pela segurança de uma ilha na fronteira entre Canadá e EUA utilizada por turistas para fazer trilha e atividades ecológicas. Numa determinada noite, Henry é surpreendido por um sujeito armado (Orlando Jones), que o culpa pela morte do irmão na Iraque. Ao mesmo tempo, uma quadrilha de traficantes lideradas pelo violento Xander (Jean Claude Van Damme), chega ao local em busca de uma carga de drogas que caiu no mar. Os dois novos inimigos são obrigados a se unir para enfrentar os traficantes. 

Como citei no início da postagem, este longa é uma melancólica tentativa do diretor Peter Hyams e do astro Jean Claude Van Damme em reviver a parceria de sucesso dos anos noventa. Aqui eles enfrentam um baixo orçamento, um roteiro ruim repleto de clichês, além de ficar claro que a dupla parou no tempo em relação ao que pensam sobre cinema. É um tipo de filme que poderia render alguns trocados nos anos oitenta sendo lançado direto em vhs, ou seja, o filme está atrasado quase trinta anos. 

Aqui temos também outros dois atores que foram promissores, mas que não conseguiram se firmar na carreira. Tom Everett Scott de “The Wonders” e Orlando Jones de “Evolução” não acertam um bom filme há mais de uma década. 

domingo, 14 de dezembro de 2014

No Vale das Sombras

No Vale das Sombras (In the Valley of Elah, EUA, 2007) – Nota 7,5
Direção – Paul Haggis
Elenco – Tommy Lee Jones, Charlize Theron, Jason Patric, Susan Sarandon, James Franco, Barry Corbin, Josh Brolin, Frances Fisher, Jonathan Tucker, Wes Chatham, Jake McLaughlin, Mehcad Brooks, Wayne Duvall, Roman Arabia, Brent Briscoe, Brent Sexton.

Em 2004, numa pequena cidade do Missouri, vive Hank Deerfield (Tommy Lee Jones), um sargento aposentado que trabalhava como investigador no exército. Ele recebe uma ligação informando que seu filho (Jonathan Tucker) desapareceu. O rapaz que estava lutando no Iraque, retornou aos Estados Unidos e sumiu da base sem deixar vestígios. 

Hank procura os oficiais do exército e os colegas de seu filho, porém sem conseguir informações concretas sobre o desaparecimento.No alojamento da base, ele recupera o celular utilizado pelo filho para filmar várias situações complicadas no Iraque. Percebendo que alguém está escondendo a verdade, Hank decide investigar por conta própria, pedindo um pequeno auxilio à polícia local, onde encontra a detetive Emily Sanders (Charlize Theron), que a princípio não dá atenção ao caso, mas que aos poucos se envolve na busca de Hank pela verdade. 

Após vencer o Oscar com o surpreendente “Crash – No Limite”, o roteirista Paul Haggis se aventurou novamente na direção causando expectativa quanto a comprovação seu talento. Mesmo não sendo tão bom quanto “Crash”, este “No Vale das Sombras” mexe em um assunto complexo, os traumas dos jovens soldados que voltam da guerra. 

O roteiro baseado numa reportagem de Mark Boal, descreve um caso verdadeiro, consequência do envio de jovens totalmente despreparados para a guerra. A violência do combate, situação a qual pessoa alguma é poupada, a lealdade obrigatória entre os soldados e o risco de vida diário, resultam em traumas irreparáveis para a maioria dos sobreviventes. 

No elenco repleto de bons nomes, o destaque é o personagem de Tommy Lee Jones, um veterano de guerra duro que acredita nos ideais americanos, mesmo indo contra o pensamento da esposa vivida por Susan Sarandon. Charlize Theron também dá conta do recado como a detetive desprezada pelos colegas homens, que precisa mostrar seu valor. 

É um filme indicado para quem gosta de um drama sóbrio, realista e sem heroísmos.

sábado, 13 de dezembro de 2014

Retratos de Família & Retratos de uma Realidade



Retratos de Família (Junebug, EUA, 2005) – Nota 7,5
Direção – Phil Morrison
Elenco – Embeth Davidtz, Alessandro Nivola, Ben McKenzie, Amy Adams, Scott Wilson, Celia Weston, Frank Hoyt Taylor

Madeleine (Embeth Davidtz) é uma marchand de sucesso que vive em Chicago e que se casou com George (Alessandra Nivola) uma semana após conhecê-lo. Quando ela tem a missão de visitar um excêntrico pintor que vive no sul do país, George aproveita para levá-la a Carolina do Norte para conhecer sua família. O que a sofisticada Madeleine não esperava era encontrar uma família disfuncional que a visse com desconfiança, além é claro da diferença de costumes. 

A mãe de George (Celia Weston) não faz questão alguma de agradar, o pai (Scott Wilson) é um sujeito calado e distante, o irmão (Ben McKenzie) é um jovem bruto que parece ter raiva de tudo, inclusive da namorada Ashley (Amy Adams) que está grávida. A pobre Ashley é uma jovem carente ao extremo, que vê em Madeleine a chance de ter uma amiga ou uma irmã mais velha. 

O roteiro mistura o choque de culturas com a dificuldade de relacionamentos, causando situações constrangedoras por causa da falta de diálogo e da intolerância em entender o outro. Todos os integrantes da família carregam frustrações. A própria Madeleine se mostra esnobe em algumas situações e descobre da pior forma possível que não conhece seu marido, já que o casamento ocorreu muito mais pelo sexo e a paixão do que por amor. 

Como informação, a ótima interpretação da bela Amy Adams rendeu uma indicação ao Oscar. 

O resultado é um drama triste sobre ressentimentos e dificuldade de comunicação.

Retratos de uma Realidade (Cross Creek, EUA, 1983) – Nota 7
Direção – Martin Ritt
Elenco – Mary Steenburgen, Rip Torn, Peter Coyote, Dana Hill, Malcolm McDowell, Alfre Woodard, Joanna Miles, Jay O. Sanders.

Nos anos trinta, a escritora Marjorie Kinnan Rawlings (Mary Steenburgen) abandona a vida urbana de Nova York para morar em uma área rural na Flórida chamada Cross Creek. Sendo uma mulher independente e com pensamentos avançados para época, sua presença é vista com surpresa pela população local, ainda mais quando faz amizade com uma jovem negra (Alfre Woodard) e se envolve com um sujeito (Peter Coyote). 

Baseado na vida real da escritora, este sensível longa toca em temas como preconceito e intolerância, além do inevitável choque cultural entre as ideias liberais da mulher independente e a sociedade machista do local. 

Vale destacar também a ótima interpretação de Mary Steenburgen, que na era casada com Malcolm McDowell, que aqui tem um papel de coadjuvante. Hoje a atriz está casada com o astro de tv Ted Danson.

Hoje praticamente esquecido, o diretor Martin Ritt deixou uma bela carreira com várias obras em que a crítica social era o ponto principal, fato que o fez ser perseguido na época do Macartismo. Entre seus trabalhos se destacam “Hombre”, longa sobre um mestiço entre branco e índio interpretado por Paul Newman, “O Indomado”, novamente com Paul Newman interpretando um jovem rebelde, “Conrack” que tinha Jon Voight como um professor branco que aceitava lecionar numa comunidade de negros, “Testa-de-Ferro por Acaso” que era uma paródia sobre a perseguição que ele mesmo sofreu em Hollywood e seu principal sucesso, o drama “Norma Rae” em que Sallt Field interpreta uma personagem real que se tornou sindicalista e lutou contra a indústria têxtil no Alabama. Martin Ritt faleceu em 1990 e agora em 2014 faria cem anos se estivesse vivo.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Amanhã Nunca Mais

Amanhã Nunca Mais (Brasil, 2011) – Nota 7
Direção – Tadeu Jungle
Elenco – Lázaro Ramos, Fernanda Machado, Milhem Cortaz, Maria Luiza Mendonça, Vic Militello, Luís Miranda, Paula Braun, Carlos Meceni, Imara Reis.

Walter (Lázaro Ramos) é um médico anestesista inseguro e sem personalidade. Casado com a bela Solange (Fernanda Machado), ele sofre calado na praia por causa de um sujeito que flerta com sua esposa e ainda é obrigado a aceitar as opiniões da sogra (Vic Militello). 

No dia em que Solange prepara a festa de aniversário da filha, Walter diz que após o trabalho buscará o bolo. A esposa fica desconfiada, já que Walter está acostumado a ficar preso no trabalho no hospital, mas aceita a proposta do marido, que por seu lado vê como uma chance de agradar Solange. Os planos de Walter começam a se complicar durante uma cirurgia que atrasa sua saída do hospital e por consequência transforma a volta para casa numa corrida infernal quando vários obstáculos surgem pelo caminho. 

O roteiro escrito pelo diretor Tadeu Jungle em parceira com Mauricio Arruda e Marcelo Muller, mistura ideias de filmes como “Depois de Horas” e “Vivendo no Limite”, obras de Martin Scorsese em que os protagonistas sofrem com as angústias e as loucuras de uma grande metrópole como Nova York. Semelhante a “Depois de Horas” é a fauna de personagens que cruzam o caminho de Walter e de “Vivendo no Limite” temos a angústia causada pelo trânsito maluco de São Paulo. 

Por mais que o final seja previsível, é interessante acompanhar a jornada quase surreal do protagonista, que cruza com personagens estranhos como a doceira esotérica, a prostituta, os motoboys e a bêbada maluca. 

Além de Lázaro Ramos competente como o sofrido protagonista, vale destacar o sempre marcante Milhem Cortaz como um médico mulherengo e Maria Luiza Mendonça no papel da bêbada. 

Como informação, o filme marcou a estreia na direção de Tadeu Jungle, figura conhecida como produtor de tv e por sua carreira na publicidade.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Palo Alto

Palo Alto (Palo Alto, EUA, 2013) – Nota 6,5
Direção – Gia Coppola
Elenco – James Franco, Emma Roberts, Jack Kilmer, Nat Wolff, Zoe Levin, Val Kilmer.

Baseado em um livro escrito pelo ator James Franco com pequenas histórias sobre a cidade de Palo Alto na Califórnia, local onde nasceu e cresceu, este longa foca na vida de adolescentes do subúrbio que passam o tempo entre a escola e festas regadas a bebidas, drogas e sexo. 

Os personagens principais são April (Emma Roberts) e Teddy (Jack Kilmer). Os dois se gostam, porém sofrem com as dúvidas da adolescência e não tem coragem de assumir o sentimento. April precisa lidar ainda com as investidas do professor de futebol (James Franco), sujeito divorciado, de palavras doces, para quem ela trabalha como babá. Teddy tem talento para as artes, mas se deixa levar pela amizade com o confuso Fred (Nat Wolff), o típico adolescente que tenta se mostrar rebelde através de transgressões, mas que na verdade esconde sua angústia. 

A princípio, o estilo lembra os filmes de Larry Clark (“Kids” e “Ken Park”), porém mesmo com várias sequências com sexo e drogas, o desenrolar da narrativa não apela para a polêmica, preferindo enfatizar o drama. 

Todos os adolescentes vivem em boas casas no subúrbio, mas por outro lado pertencem a famílias desestruturadas, sem pai, sem mãe ou com pais no segundo casamento, sempre com relações vazias e distantes entre pais e filhos. 

Este vazio nas relações e os conflitos adolescentes são mostrados com alguma frieza, resultando em um filme com tema interessante, mas que ao mesmo tempo deixa a impressão de que faltou experiência na direção. Por sinal, a diretora estreante Gia Coppola é neta de Francis Ford Coppola. 

O elenco tem ainda outros filhos de famosos. A promissora Emma Roberts é sobrinha de Julia e filha de Eric Roberts, enquanto o garoto Jack Kilmer é filho de Val Kilmer, que tem uma ponta no filme e da atriz Joanne Whalley.   

quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Os Inocentes

Os Inocentes (The Innocents, Inglaterra / EUA, 1961) – Nota 7,5
Direção – Jack Clayton
Elenco – Deborah Kerr, Peter Wyngarde, Megs Jenkins, Michael Redgrave, Martin Stephens, Pamela Franklin.

Na Inglaterra Vitoriana, Miss Giddens (Deborah Kerr) é contratada por um aristocrata (Michael Redgrave) para ser a responsável pela criação de seus dois sobrinhos. As crianças perderam os pais e o tio foi obrigado a adotá-las, porém sem interesse algum de ter contato com elas. 

As duas crianças, a pequena Flora (Pamela Franklin) e o menino Miles (Martin Stephens) vivem num enorme casarão no interior do país, sendo cuidados pela governanta Mrs. Grose (Megs Jenkins), além do contato com os outros criados.

A princípio, a ingênua Miss Giddens é toda felicidade, acreditando ter encontrado duas crianças maravilhosas para cuidar. Esta alegria dura pouco, logo as crianças a passam a agir de forma estranha, principalmente Miles. Para complicar ainda mais a situação, a pobre Miss Giddens começa a ter visões de um homem e uma mulher que morreram no local. 

Praticamente esquecido, este suspense com toques de terror filmado em preto e branco assusta através da sugestão, explorando as atuações das crianças que deixam o espectador em dúvida se elas são realmente ingênuas ou maquiavélicas. 

Outro ponto positivo é a atuação da estrela Deborah Kerr, que interpreta a solitária e reprimida Miss Giddens, mulher madura que aos poucos vai perdendo o contato com a realidade. 

O filme é baseado na famosa obra “A Volta do Parafuso” de Henry James. 

O diretor Jack Clayton faria ainda a primeira versão de “O Grande Gatsby”, longa apenas razoável com Robert Redford e Mia Farrow nos papéis principais.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

29 Palms

29 Palms (Twentynine Palms, França / Alemanha / EUA, 2003) – Nota 3
Direção – Bruno Dumont
Elenco – David Wissak, Ykaterina Golubeva.

Alguns diretores acreditam que podem planejar um filme cult, quando na verdade um longa se torna cult por uma conjunção de fatores, não existindo uma receita específica. Este “29 Palms” do francês Bruno Dumont entra na lista das obras que na verdade se mostram pretensiosas e vazias ao invés de cult. 

A trama segue a viagem de Katia (Ykaterina Golubeva) e David (David Wissak) pelo deserto na Califórnia até a pequena cidade de “29 Palms”. O filme é dividido em sequências, que terminam em cenas de sexo ou discussão entre o casal, até as duas exageradas e violentas sequências finais. 

Encontrei na internet uma crítica sobre este filme em que o autor citava Wim Wenders e Michelangelo Antonioni como inspirações para esta obra. Por mais que eu procure ter paciência em entender a proposta do diretor, fica difícil encontrar algo de bom neste filme ou compará-lo com os trabalhos de Wenders por exemplo. A proposta aqui é o nada intercalado com sexo e violência, inclusive com algumas cenas explícitas. O resultado é um desperdício de tempo na vida do espectador.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

November Man: Um Espião que Nunca Morre

November Man: Um Espião que Nunca Morre (The November Man, EUA / Rússia, 2014) – Nota 6,5
Direção – Roger Donaldson
Elenco – Pierce Brosnan, Luke Bracey, Olga Kurylenko, Bill Smitrovich, Amila Terzimehic, Lazar Ristovski, Will Patton, Mediha Musliovic, Eliza Taylor.

Durante uma operação para garantir a segurança de uma autoridade, o agentes da CIA Deveraux (Pierce Brosnan) e Mason (Luke Bracey) se desentendem e uma tragédia acontece. Cinco anos depois, Deveraux, que está aposentado e vivendo em Lausanne na Suiça, é procurado por seu antigo superior (Bill Smitrovich), que o convida para voltar a ativa numa missão que tem o objetivo de resgatar uma agente (Mediha Musliovic) que pretende denunciar os crimes de Arkady Federov (Lazar Ristovski), que é candidato a presidência na Rússia. Por ser ex-namorado da agente, Deveraux aceita a missão, sem saber que está se envolvendo numa complexa trama de mentiras e traições. 

O diretor australiano Roger Donalson tem experiência em tramas intrincadas, como demonstram bons filmes como “Sem Saída” de 1987 com Kevin Costner e o mais recente “Efeito Dominó” com Jason Statham. 

Boa parte da trama aqui é bem conduzida, passando por vários países como Suiça, Rússia e Sérvia e criando um jogo de gato e rato entre o experiente personagem de Pierce Brosnan e o jovem agente interpretado por Luke Bracey. Os problemas surgem na parte final, quando o roteirista cria uma reviravolta forçada e a solução da trama se mostra apressada e totalmente clichê. 

Mesmo com uma atuação correta e o carisma de sempre, Brosnan demonstra que aos sessenta anos fica complicado fazer cenas de ação, situação que também faz o filme perder pontos. 

Algo que me irrita é quando a tradução do título tenta ligar um filme a outro de sucesso, fato que na minha opinião é desonesto, uma falta de respeito ao espectador comum, que aqui pode imaginar ser mais um filme da série 007. O subtítulo engraçadinho pode até funcionar em uma comédia, mas neste caso parece o tipo de piada que quem dá risada é apenas a pessoa que conta.

sábado, 6 de dezembro de 2014

O Corte

O Corte (Le Couperet, Bélgica / França / Espanha, 2005) – Nota 7,5
Direção – Costa Gavras
Elenco – José Garcia, Karin Viard, Geordy Monfils, Christa Théret, Ulrich Tukur, Olivier Gourmet.

Após quinze anos trabalhando em uma empresa de papel e celulose, o executivo Bruno Davert (José Garcia) é dispensado junto com outros seiscentos funcionários. Formado em engenharia e com um belo currículo, Davert não imaginava que após dois anos e meio, uma infinidade de currículos enviados e diversas entrevistas, ele ainda estaria desempregado. A situação abala sua autoestima e por consequência seu relacionamento com a esposa (Karin Viard) e filhos, além das dificuldades financeiras que começam a aparecer. 

Após ver uma propaganda onde Raymond Machefer (Olivier Gourmet), executivo de uma grande empresa de papel chamada Arcadia, mostra o sucesso do seu trabalho e abre as portas para a contratação de mais um executivo, Davert cria um plano absurdo. Ele decide que será o dono da vaga e para garantir ser o escolhido, Davert planeja matar seus concorrentes, inclusive o próprio Machefer. 

Misturando crítica social com pitadas de humor negro, o diretor grego Costa Gravas desta vez aponta seu dedo para o desemprego que assola a Europa desde a virada do século. O roteiro baseado em um livro de Donald E. Westlake (escritor de “À Queima Roupa” e roteirista de “Os Imorais”) é rico em detalhes sobre como o desemprego afeta o homem, principalmente o sujeito de meia-idade, além de mostrar a busca pelo emprego como uma caça onde poucos sobrevivem. 

Os desempregados que Davert considera seus concorrentes e se tornam seus alvos, sofrem tanto quanto ele. Um deles está revoltado com o mundo trabalhando de garçom, outro enfrenta um problema com a jovem filha que tem um caso com um homem casado e o mais trágico é o sujeito depressivo que foi abandonado pela família e hoje tenta sobreviver como vendedor de ternos em uma loja. 

Todos que já ficaram desempregados alguma vez na vida se identificarão com os problemas enfrentados pelo personagem principal, lógico que deixando de lado o plano maluco colocado em prática pelo sujeito.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Showgirls

Showgirls (Showgirls, França / EUA, 1995) – Nota 6
Direção – Paul Verhoeven
Elenco – Elizabeth Berkley, Kyle MacLachlan, Gina Gershon, Glenn Plummer, Robert Davi, Alan Rachins, Gina Ravera.

Na história do cinema, vários filmes se transformaram em obras malditas. Casos de mortes durante as filmagens (“O Corvo”, “No Limite da Realidade”), mortes trágicas de várias pessoas ligadas a produção (“Poltergeist – O Fenômeno”, “Sangue de Bárbaros”), estouro absurdo de orçamento (“O Portal do Paraíso”, “Waterworld – O Segredo das Águas”), mas não lembro de filme algum que tenha sido tão massacrado por causa do conteúdo como este “Showgirls”. 

Para entender o filme é necessário conhecer um pouco da carreira do diretor holandês Paul Verhoeven e do roteirista húngaro Joe Eszterhas. A dupla chegou ao auge três anos antes com o polêmico e competente “Instinto Selvagem”, filme que alavancou também a carreira de Sharon Stone, misturando trama policial, violência e erotismo quase explícito. 

Por sinal, o sexo está presente na maioria dos roteiros escritos por Eszterhas, em alguns casos rendendo bons filmes como “Flashdance” e “Atraiçoados”, em outros resultando em bombas como “Jade” e “Invasão de Privacidade”. 

A carreira de Verhoeven é marcada por filmes que mostram as falhas de caráter do ser humano e da sociedade em que vivemos. As corporações e os governos gananciosos de “O Vingador do Futuro”. “Robocop” e “Tropas Estelares” e a violenta Idade Média retratada em “Conquista Sangrenta”, são repletos de personagens amorais, violentos e desonestos. A junção de pensamentos destes dois sujeitos rendeu a trama de “Showgirls”, uma luta sem escrúpulos por poder, sucesso e dinheiro, com doses fartas de erotismo e vulgaridade. 

A personagem principal é Nomi (Elizabeth Berkley), uma jovem ambiciosa que chega de carona a Las Vegas com objetivo de subir na vida a qualquer custo. De dançarina de boate, para corista de um show em cassino, até chegar a ser a estrela principal, Nomi se envolve com o produtor do show (Kyle MacLachlan) e enfrenta a protagonista (Gina Gershon), sem contar outros conflitos que surgem pelo caminho, numa sucessão de mentiras, traições e até violência. 

Ao meu ver, a escolha de Las Vegas como cenário, com suas luzes de neon, decoração cafona e personagens canalhas foram uma forma de chamar atenção do público ao mostrar o que ser humano tem de pior de uma forma exagerada e caricata, numa verdadeira crítica a ambição sem limites tão comum nas últimas décadas. 

O mesmo roteiro poderia ter sido adaptado para um drama dentro de uma corporação, de um hospital ou qualquer outro local onde pessoas estivessem disputando cargos e poder. Esta escolha do diretor em explorar o exagero ajudou a aumentar as críticas negativas ao filme e também as interpretações, que realmente são bem ruins. 

A atriz Elizabeth Berkley era protagonista da série adolescente “Saved By the Bell” e aqui seria sua grande chance de se tornar estrela de cinema, porém o gigantesco fracasso praticamente enterrou sua carreira. 

Visto hoje, este longa se tornou uma curiosidade cinematográfica e não se mostra tão ruim como foi rotulado.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

No (No, Chile / EUA / França / México, 2012) – Nota 7,5
Direção – Pablo Larrain
Elenco – Gael Garcia Bernal, Alfredo Castro, Luis Gnecco, Néstor Cantillana, Antonia Zegers, Pascal Montero.

Em 1988, o Chile completava quinze anos da violenta ditadura do general Augusto Pinochet. Com as mudanças que ocorriam no mundo, principalmente com a queda das ditaduras na América Latina, a comunidade internacional pressionava o governo chileno para promover eleições e exigia a liberdade de expressão da mídia e do povo. 

Para tentar se manter no poder e legitimar seu governo, Pinochet promoveu um plebiscito onde o “Sim” significava manter a constituição da forma que estava e por consequência ficar no poder por mais alguns anos. Enquanto o “Não” mostraria que o povo queria mudanças na constituição e nas eleições, o que enfraqueceria seu governo. 

Este longa do chileno Pablo Larrain mostra com detalhes os bastidores das campanhas publicitárias do governo (sim) e da oposição (não) misturando imagens reais da época, com a reconstituição dos acontecimentos e dos personagens envolvidos. 

O personagem principal é o publicitário René Saavedra (Gael Garcia Bernal), filho de um político assassinado pelo regime de Pinochet, ele viveu muitos anos no exílio e ao voltar para o país já adulto, conseguiu trabalho com Lucho Guzman (Alfredo Castro). René é convidado pelo político de oposição José Tomás Urrutia (Luis Gnecco) para comandar a campanha do “Não”, enquanto Guzman presta serviços ao governo na campanha do “Sim”. 

É curioso que a tensão entre os dois publicitários permeia todo o período da disputa, inclusive com Guzman tentando sabotar René, porém mesmo assim eles continuam trabalhando juntos na empresa e apresentando projetos para outros clientes. 

Para quem gosta de política, vale frisar que a disputa mostrada aqui lembra muito as eleições ocorridas em nosso país este ano. De um lado um governo corrupto que cria uma campanha suja utilizando o medo com o objetivo de conseguir os votos da população, enquanto a oposição procura mostrar que era o momento de mudar para crescer. No Chile a oposição venceu, infelizmente em nosso país o medo foi o ganhador.    

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

O Juiz

O Juiz (The Judge, EUA, 2014) – Nota 7,5
Direção – David Dobkin
Elenco – Robert Downey Jr, Robert Duvall, Vera Farmiga, Vincent D’Onofrio, Billy Bob Thornton, Jeremy Strong, Dax Shepard, Leighton Meester, Ken Howard, Emma Tremblay, Balthazar Getty, David Krumholtz, Grace Zabriskie, Denis O’Hare, Sarah Lancaster.

Hank Palmer (Robert Downey Jr) é um advogado de sucesso que enriqueceu defendendo criminosos ricos. Sua vida aparentemente perfeita esconde a traição da esposa e o iminente divórcio. Para piorar, Hank recebe a notícia de que sua mãe faleceu. Para acompanhar o enterro, ele é obrigado a voltar para uma pequena cidade em Indiana onde nasceu e reencontrar a família. 

Hank se afastou da família por conta de conflitos com o pai Joseph (Robert Duvall), que é juiz na cidade. O complicado reencontro faz emergir situações mal resolvidas com o irmão (Vincent D’Onofrio) e a ex-namorada (Vera Farmiga). Mas como tudo sempre pode ficar pior, a visita que seria de dois dias, acaba por se estender quando o velho juiz é acusado de atropelar e matar um sujeito. Hank precisará superar o passado para defender o pai na justiça. 

Este longa se enquadra no tipo de produção planejada especificamente para beliscar algum Oscar. Ao mesmo tempo em que o roteiro prende a atenção do espectador nas quase duas horas e meia de duração, ele se mostra esquemático e sem surpresas. São várias situações comuns aos dramas hollywoodianos. Temos trauma familiar, volta para casa, doença, amores mal resolvidos e até o clássico filme de tribunal. 

Mesmo sem surpresas, o ponto positivo é o embate de interpretações entre Robert Downey Jr e o veteraníssimo Robert Duvall, este último com enormes chances de concorrer ao Oscar. As personalidades fortes e os pontos de vistas diferentes geram interessantes cenas de discussão, além de uma sequência extremamente sensível no banheiro, que mostra um verdadeiro relacionamento entre o pai idoso e o filho. 

O filme também é uma mudança na carreira do diretor David Dobkin, responsável por comédias como “Penetras Bons de Bico” e “Bater ou Correr em Londres”, aqui ele vira a chave e tenta a sorte no drama. 

Mesmo sendo correto e bem filmado, faltou arriscar um pouco mais no roteiro.