sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

O Código & Código Para o Inferno


O Código (Safe, EUA, 2012) – Nota 6,5
Direção – Boaz Yakin
Elenco – Jason Statham, Catherine Chan, Robert John Burke, James Hong, Anson Mount, Chris Sarandon, Reggie Lee, Joseph Sikora.

Na China, a garotinha Mei (Catherine Chan) demonstra na escola um talento especial para matemática, fato que faz com que seja sequestrada por um chefão mafioso (James Hong) que a leva para os Estados Unidos onde é obrigada a utilizar seu dom para controlar as finanças da organização criminosa. Ao mesmo tempo, o ex-policial Luke Wright (Jason Stathan) está envolvido em lutas de MMA arranjadas pela Máfia Russa. O destino faz com que estes dois personagens se cruzem em meio a uma disputa dos grupos criminosos e tenham de se unir para sobreviver. 

Seguindo o estilo do filmes que Statham está habituado a protagonizar, inclusive repetindo o personagem durão, solitário e no fundo de coração mole, este longa não apresenta novidades, mas é competente na proposta de ser uma diversão descompromissada. O ritmo ágil, os personagens caricatos e as cenas de ação repletas de cortes rápidos são situações comuns aos filmes atuais do gênero, que muitas vezes exageram na dose e em outras resultam numa obra divertida, como é o caso deste trabalho.   

Código Para o Inferno (Mercury Rising, EUA, 1998) – Nota 7
Direção – Harold Becker
Elenco – Bruce Willis, Alec Baldwin, Miko Hughes, Chi McBride, Kim Dickens, Robert Stanton, Carrie Preston, Peter Stormare, John Carroll Lynch, Kevin Conway, Lindsey Ginter, John Doman, Bohdi Pine Elfman, Camrym Manheim, Richard Riehe.

Um garoto autista (Miko Hughes) desvenda um código secreto do governo americano e por este motivo tem seus pais assassinados. O garoto fica escondido e sobrevive. O encarregado para investigar os assassinatos é o agente do do FBI Art Jeffries (Bruce Willis), um sujeito mal visto pelos superiores e que fora relegado a cuidar de casos sem importância. O caso que para muitos deveria ser encerrado como um assassinato cometido pelo pai do garoto e com o suicídio em sequência, desperta a dúvida em Jeffries, que não demora para descobrir que o próximo alvo é o próprio garoto autista e ele é a única pessoa que pode protegê-lo. 

Como uma trama típica dos filmes de conspiração, onde um inocente se torna alvo por ter descoberto algum segredo, este competente suspense prende a atenção do espectador, tendo ainda Bruce Willis no auge da carreira de herói de ação. 

Como curiosidade, o garoto Miko Hughes teve vários trabalhos quando criança, sendo o mais conhecido o de filho da personagem de Heather Langenkamp em “O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger” dirigido por Wes Craven e sendo um dos melhores filmes da série. Infelizmente como muitas crianças, Miko Hughes não conseguiu destaque como ator adulto. 

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Eu

Eu (Brasil, 1987) – Nota 6
Direção – Walter Hugo Khouri
Elenco – Tarcisio Meira, Bia Seidl, Cristiane Torloni, Nicole Puzzi, Monique Lafond, Monique Evans, Walter Forster.

O milionário Marcelo (Tarcísio Meira) é um bem sucedido homem de negócios que tem várias mulheres aos seus pés, porém passa por uma crise existencial por causa da idade e principalmente pelo desejo que nutre pela própria filha, a bela Berenice (Bia Seidl). 

Durantes as festas de final de ano, Marcelo viaja para sua ilha particular levando a tiracolo duas prostitutas (Monique Lafond e Nicole Puzzi). No local ele recebe alguns convidados, entre elas outra prostituta (Monique Evans) e uma amiga de sua filha, a psicóloga Beatriz (Christiane Torloni), além da filha. O poderoso Marcelo deseja desfrutar de todas as convidadas, inclusive sua filha. 

Não existe uma história específica, o objetivo do diretor Walter Hugo Khoury foi mostrar que o desejo humano de possuir é infinito, utilizando um personagem que tem tudo e todas as mulheres possíveis, mas que deseja algo a mais que seja proibido, como um desafio. 

O destaque é a forma como Khoury cria um clima de erotismo ao filmar a nudez de uma forma que passa longe da vulgaridade, explorando ao máximo a beleza de todo elenco feminino. 

Mesmo sendo um grande canastrão, Tarcísio Meira está perfeito no papel do sujeito poderoso e egocêntrico, que tem como único objetivo satisfazer seus desejos. 

Apesar de ter visto pouco da carreira de Khoury, a marca principal de seus trabalhos é o erotismo de bom gosto.    

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Cantando na Chuva

Cantando na Chuva (Singin' in the Rain, EUA, 1952) - Nota 10
Direção – Gene Kelly & Stanley Donen
Elenco – Gene Kelly, Debbie Reynolds, Donald O’Connor, Jean Hagen, Cyd Charisse, Rita Moreno.

Clássico absoluto do gênero, este musical conta a história de dois astros do cinema mudo vividos por Gene Kelly e Jean Hagen, que são obrigados a se adaptar aos novos tempos com a chegada dos filmes sonoros.

O personagem de Gene Kelly se adapta facilmente cantando e dançando, porém Jean Hagen com sua péssima voz, precisa ser dublada por Debbie Reynolds, uma atriz novata que acaba se envolvendo com Gene Kelly e ameaça o reinado da antiga estrela.

Repleto de números musicais fantásticos, como a dança na chuva de Gene Kelly e o bailado de Donald O”Connor com as cadeiras, o filme tem ainda uma boa história e personagens carismáticos que fazem até mesmo quem não é fã do gênero se curvar frente ao talento dos envolvidos.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Máfia no Divã & A Máfia Volta do Divã


Ontem o cinema perdeu o ator, diretor e roteirista Harold Ramis. Mesmo longe de ter feito uma carreira brilhante, Ramis será sempre lembrado pelo papel em "Os Caça-Fantasmas" e como diretor do divertido "Feitiço do Tempo".

Ramis fez parte de uma ótima geração de comediantes que surgiu nos anos setenta (Dan Aykroyd, John Belushi, Gilda Radner, John Candy, etc), mas teve em Bill Murray seu principal parceiro em vários trabalhos.

Como homenagem, comento duas comédias dirigidas por Ramis.

Máfia no Divã (Analyze This, EUA, 1999) – Nota 7
Direção – Harold Ramis
Elenco – Robert De Niro, Billy Crystal, Lisa Kudrow, Chazz Palminteri, Leo Rossi, Joe Viterelli, Molly Shannon.

O chefão mafioso Paul Vitti (Robert De Niro) começa subitamente a ter ataques de ansiedade e pela posição que ocupa no mundo do crime, seria ridicularizado e provavelmente até assassinado se outros mafiosos descobrissem o problema. Para tentar se curar rapidamente, já que uma reunião entre chefes da Máfia está programada para ocorrer em Miami em pouco tempo, Vitti procura ajuda com o psiquiatra Ben Sobel (Billy Crystal), que se sente pressionado por ter de tratar alguém tão perigoso como Vitti, mas não pode descartar o sujeito, tanto pela ética médica, como a provável reação do paciente. 

Lançado quase que simultaneamente com a série “The Sopranos”, que tinha uma premissa semelhante, este longa teve um razoável sucesso um pouco por esta comparação e principalmente pela química entre De Niro e Billy Crystal. O personagem de De Niro é uma sátira aos mafiosos clássicos do cinema, alternando momentos depressivos e outros em que aflora o lado violento, enquanto Crystal faz o papel do irônico médico de origem judaica, que dispara  piadas para esconder o medo. 

O resultado é uma simpática comédia que tem ainda Lisa Kudrow, que estava no auge de “Friends”, interpretando a noiva de Billy Crystal e Chazz Palminteri como uma mafioso rival de De Niro. 

A Máfia Volta ao Divã (Analyze That, EUA, 2002) – Nota 5,5
Direção – Harold Ramis
Elenco – Robert De Niro, Billy Crystal, Lisa Kudrow, Joe Viterelli, Cathy Moriarty, Anthony LaPaglia, John Finn.

Após se preso no final do longa original, Paul Vitti (Robert De Niro) começa a ter uma comportamento estranho na cadeia, fazendo com que o FBI chame o dr. Ben Sobel (Billy Crystal) para examinar o antigo paciente. Sobel diz que Vitti está estressado com a prisão e que pode enlouquecer, sem imaginar que para resolver a situação a justiça solte o sujeito determinando que ele fique sob a guarda do psiquiatra. Obrigado a tomar conta do mafioso e fazer com que ele encontre um emprego normal, Sobel vê sua vida com a esposa (Lisa Kudrow) virar de ponta de cabeça. 

Se o primeiro filme era engraçado e tinha uma trama original, esta sequência peca por repetir as piadas e principalmente pela história absurda. Uma sequência deve ser produzida quando se tem uma trama verossímil que se casa com a história original e que traga algumas novidades, o que infelizmente este longa não tem, resultando apenas num caça-níquel de luxo que tem como destaque somente a química entre De Niro e Crystal.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Assalto ao Trem Pagador

Assalto ao Trem Pagador (Brasil, 1962) - Nota 9
Direção – Roberto Farias
Elenco – Reginaldo Faria, Grande Otelo, Eliezer Gomes, Jorge Dória, Ruth de Souza, Luiza Maranhão, Helena Ignez, Átila Iório, Dirce Migliaccio, Osvaldo Louzada.

O bando liderado por Tião Medonho (o ótimo Eliezer Gomes) decide cometer um assalto ousado planejado por Grilo Peru (Reginaldo Faria, irmão do diretor Roberto Farias). O objetivo é roubar o trem pagador que atravessa o interior do Rio do Janeiro carregado de dinheiro. O assalto é concretizado e fica combinado entre os integrantes para gastarem o mínimo de dinheiro possível para não levantar suspeitas e deixar a investigação esfriar. 

Como a ganância sempre fala mais alto, as coisas se complicam quando Tião Medonho se desentende com seu comparsa Grilo Peru (Reginaldo Farias) que está utilizando sua parte do dinheiro para levar uma vida de playboy, ao mesmo tempo em que outro integrante do bando, o humilde Cachaça (Grande Otelo) começa a falar demais despertando atenção de curiosos na favela onde vive. 

Baseado na história real do assalto ao trem pagador da Central do Brasil no Rio de Janeiro em 1960, este longa de Roberto Farias é um dos maiores clássicos do cinema brasileiro. 

Os destaques são trama que mistura filme policial com drama lembrando um filme noir ambientado no Rio de Janeiro e os ótimos personagens, principalmente o sinistro Tião Medonho interpretado pelo esquecido Eliezer Gomes, que faleceu cedo e deixou poucos filmes no currículo. 

O resultado é um filmaço que não deve nada aos grandes longas sobre assaltos realizados em Hollywood.

domingo, 23 de fevereiro de 2014

Nebraska

Nebraska (Nebraska, EUA, 2013) – Nota 8
Direção – Alexander Payne
Elenco – Bruce Dern, Will Forte, June Squibb, Bob Odenkirk, Stacy Keach.

Woody Grant (Bruce Dern) é um idoso que vive na pequena cidade de Billings em Montana, que ao receber um folheto de propaganda picareta informando que ele ganhou um milhão de dólares, acredita na história e deseja a todo custo ir receber o dinheiro em Lincoln no Nebraska. 

Já estando um pouco confuso por causa da idade e sendo extremamente teimoso, Woody consegue fazer com que seu filho David (Will Forte) o leve de carro para buscar a "fortuna", indo contra a vontade da esposa ranzinza (June Squibb) e de seu outro filho (Bob Odenkirk). Após um incidente no meio da viagem, David decide passar o final de semana na cidade natal do pai, para o velho homem reencontrar seus familiares, porém ele não imagina que um mal entendido transformará Woody no centro da atenções do local. 

Após uma década, o diretor Alexander Payne volta a utilizar como tema as dificuldades da terceira idade, mas diferente de “As Confissões de Schmidt” em que o personagem de Jack Nicholson era um solitário em busca de viver o tempo perdido, aqui o protagonista interpretado por Bruce Dern tem uma família, porém é um sujeito calado, teimoso, que sofre pela confusão mental e pelos erros e problemas do passado que resultaram numa difícil relação com filhos e esposa. Como em todos os trabalhos de Payne, o ponto principal aqui são as complicadas relações pessoais, tanto na questão familiar, como nas amizades e nas relações que envolvem dinheiro e que revelam o verdadeiro caráter de cada um. 

Tudo isso é valorizado pelo ótimo elenco, que tem o comediante Will Forte num surpreendente papel sério e até melancólico, mas principalmente pelas atuações de June Squibb e Bruce Dern que concorrem merecidamente a Oscar. O casal de veteranos é a grande força do filme, com June Squibb no papel da mulher forte, decidida e desbocada, ela que teve uma pequena participação em “As Confissões de Schmidt” interpretando a esposa de Nicholson que falecia no começo da história. 

Enquanto isso, Bruce Dern tem um inesperado grande papel já no ocaso da carreira. Ele que é da mesma geração de Nicholson, Dustin Hoffman e Warren Beatty, teve bons papéis nos anos setenta, inclusive concorrendo ao Oscar de Coadjuvante por “Amargo Regresso”, mas nunca chegou no mesmo nível de fama dos citados. 

Nos últimos trinta anos, Dern quase sempre foi um coadjuvante com pouco destaque e esta sua grande chance de ganhar o Oscar lembra muito as vitórias de Jack Palance por “Amigos, Sempre Amigos” em 1992 e James Coburn por “Temporada de Caça” em 1999. Assim como Bruce Dern, estes dois atores estavam em baixa e no final da carreira quando foram premiados, com a diferença de que Dern está com 77 anos, sendo ainda mais velho que Palance e Coburn eram na época em que venceram.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Rota de Fuga & Condenação Brutal


Rota de Fuga (Escape Plan, EUA, 2013) – Nota 7,5
Direção – Mikael Hafstrom
Elenco – Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Jim Caviezel, Faran Tahir, Amy Ryan, Sean Neill, Curtis “50 Cent” Jackson, Vincent D’Onofrio, Vinnie Jones, Matt Gerald, Caitrona Balfe.

Ray Breslin (Sylvester Stallone) é um especialista em fugir de prisões de segurança máxima. Ele não é um bandido, mas sim uma espécie de consultor que testa pessoalmente as falhas de segurança destas prisões. Quando Ray recebe a proposta de uma agente da CIA para testar uma nova prisão internacional com localização secreta, ele não imagina que na verdade está sendo manipulado. Ao chegar na prisão e descobrir que foi enganado, Ray recebe ajuda de Emil Rottmayer (Arnold Schwarzenegger), sujeito que também deseja fugir do local.

Quando Stallone comunicou que lançaria “Rocky Balboa” em 2006, sua carreira estava praticamente acabada. Desde o interessante “Copland” em 1997, seus filmes seguintes fracassaram e alguns sequer chegaram aos cinemas, mas como em Hollywood a distância entre o fracasso e o sucesso é pequena, o surpreendente “Rocky Balboa” agradou ao público e abriu caminho para uma nova sequência de “Rambo”.

Mesmo longe de ser bom ator, Stallone é um sujeito inteligente que logo percebeu que o público que gostava dos filmes de ação dos anos oitenta ainda estava por aí e que junto com a nova geração poderia render boas bilheterias. O próximo passo foi o certeiro “Os Mercenários” e a partir daí sua carreira voltava aos trilhos, seguindo com pelo menos mais três bons filmes de ação.

Este “Rota de Fuga” tem o estilo dos anos oitenta, com vários absurdos no roteiro que são minimizados pela curiosa trama, pelas boas cenas de ação, a produção bem cuidada e o carisma da dupla Stallone/Schwarzenegger, que gera uma ótima química em cena.

Mesmo longe do nível do ótimo “Ondskan – Raízes do Mal” que dirigiu na Dinamarca, o sueco Mikael Hafstrom entrega aqui seu melhor filme em Hollywood, principalmente por cumprir a proposta principal da trama que é divertir o público que gosta de ação.

Condenação Brutal (Lock Up, EUA, 1989) – Nota 7
Direção – John Flynn
Elenco – Sylvester Stallone, Donald Sutherland, John Amos, Tom Sizemore, Frank McRae, Darlanne Fluegel, Sonny Landham, William Allen Young.

Faltando pouco tempo para sair da cadeia, Frank Leone (Sylvester Stallone) é transferido sem motivo algum para uma prisão de segurança máxima dirigida pelo sádico Warden Drumgoole (Donald Sutherland), seu antigo desafeto.

Tentando se comportar para sair da prisão no prazo estipulado e reencontrar sua esposa (Darlanne Fluegel), Frank passa a ser perseguido pelo diretor que incita seus guardas liderados por Meissner (John Amos) e os próprios prisioneiros a agredirem o inimigo, que aguenta até um determinado momento quando o revide se torna inevitável.

Típico filme dos anos oitenta com todos os clichês possíveis utilizados nas tramas em prisão, tendo como diferencial a violência extrema, são brigas de todos os tipos, sendo que o personagem de Stallone apanha para valer em várias sequências.

Divertido e violento, vale a sessão para quem gosta do gênero.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

O Caminho das Nuvens

O Caminho das Nuvens (Brasil, 2003) – Nota 7
Direção – Vicente Amorim
Elenco – Wagner Moura, Claudia Abreu, Ravi Ramos Lacerda, Sidney Magal.

Romão (Wagner Moura) está desempregado e para ele é inaceitável receber ajuda para sustentar sua família. Com o objetivo de conseguir um emprego de “mil reais”, Romão arrasta a esposa Rose (Claudia Abreu) e os cinco filhos para uma aventura maluca. A família sai de bicicleta do interior da Paraíba com destino ao Rio de Janeiro, para percorrer vários Estados e um distância de mais de três mil quilômetros. Enfrentando chuva, sol, fome, sede, aproveitadores e a violência, sem contar o conflito entre Romão e filho Antônio (Ravi Ramos Lacerda), que considera a viagem um loucura, a família chegará ao destino, mas continuará longe do objetivo sonhado por Romão. 

Baseado numa história real, este filme marcou a estreia de Vicente Amorim na direção de um longa e apresenta as mesmas virtudes e defeitos dos trabalhos posteriores do diretor. A produção hollywoodiana “Um Homem Bom” e o drama sobre a imigração japonesa “Corações Sujos” tem histórias interessantes, uma boa fotografia e uma parte técnica bem cuidada, mas falta algo para serem filmes de destaque. 

Este “O Caminho das Nuvens” tem bons momentos, como as discussões entre Romão e o filho e a curiosa participação do cantor Sidney Magal, mas no geral é um road movie (ou seria bike movie) apenas mediano, sem grandes surpresas. 

Vale destacar as atuações de Wagner Moura e do garoto Ravi Ramos Lacerda, que parecia ser promissor, mas que não trabalha como ator desde 2008.  

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Filhos do Paraíso

Filhos do Paraíso (Bacheha-Ye aseman, Irã, 1997) – Nota 8
Direção – Majid Majidi
Elenco – Bahare Seddiqi, Amir Farrokh Hasheiman, Amir Naji, Fereshte Sarabandi.

O garoto Ali (Amir Farrokh Hasheiman) leva o sapato da irmã Zahra (Bahare Seddiqi) para ser reformado e por um descuido acaba perdendo o par no mercado da cidade. Com medo de levar um bronca dos pais e sabendo que eles não tem dinheiro para comprar um par de sapatos novos, Ali e Zahra armam um plano aparentemente simples. Os dois passam a utilizar o par de sapatos de Ali, o único que sobrou, sendo que a garota que estuda no período da manhã, ao final da aula corre para dar os sapatos ao irmão assistir a aula da tarde. O plano funciona, mas gera várias situações complicadas que os irmãos precisam lidar. 

Esta simples e sensível produção iraniana concorreu ao Oscar de Filme Estrangeiro no mesmo ano de “Central do Brasil” e “A Vida É Bela” e foi um dos primeiros filmes do país que chamaram a atenção do público e da crítica a partir dos anos noventa. 

A trama é contada através do olhar ingênuo e da pureza dos pequenos irmãos, mostrando como pano de fundo a enorme desigualdade social do Irã. Enquanto muitas famílias sofrem para comprar um mísero par de sapatos ou até mesmo comida, do outro lado de Teerã vemos edifícios modernos e enormes mansões, que surgem na sequência em que o pai de Ali vai fazer um serviço e atravessa a cidade em sua bicicleta com o filho na garupa, e este se mostra maravilhado com as belezas de um mundo que ele não conhecia, mas que está ao mesmo tempo muito perto fisicamente e a milhares de quilômetros de distância na questão social.

É um belíssimo filme que infelizmente poucas pessoas assistiram por aqui e que hoje está praticamente esquecido.  

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Possuídos

Possuídos (Bug, EUA, 2006) – Nota 7
Direção – William Friedkin
Elenco – Ashley Judd, Michael Shannon, Harry Connick Jr., Lynn Collins, Brian F. O’Byrne.

Agnes (Ashley Judd) é uma solitária garçonete que mora em um motel de beira de estrada. Ela recebe telefonemas diários em que alguém apenas ouve sua voz. Agnes acredita que o autor das ligações é seu ex-marido (Harry Connick Jr.) que acabou de sair da prisão. Quando sua amiga R. C. (Lynn Collins) lhe apresenta o estranho Peter (Michael Shannon), Agnes decide dar abrigo ao sujeito, com quem cria um forte laço emocional. O que a princípio parece ser uma relação entre dois solitários, se transforma em loucura quando aparentemente surgem insetos (o bug do título original)  no decadente quarto do motel. 

O diretor William Friedkin foi um dos caras que revolucionaram o cinema americano nos anos setenta através de grandes filmes como “Operação França” e “O Exorcista”. A partir dos anos oitenta a carreira de Friedkin se tornou irregular, com poucos trabalhos de destaque. 

Em 2006, já com setenta anos, Friedkin tentou dar uma chacoalhada na carreira com este longa que começa como um drama pesado e termina como um maluco suspense, recheado de cenas violentas e atuações viscerais de Michael Shannon e Ashley Judd. As sequências da meia-hora final são uma verdadeira loucura, com a dupla principal se entregando a cenas fortes, várias delas com nudez total e diálogos absurdos. 

O filme não fez sucesso, mas parte da crítica elogiou o trabalho do diretor, principalmente pelo capricho em mostrar detalhes que acentuam o medo e a paranoia que tomam conta dos personagens principais. 

Friedkin voltaria a telona em 2011 com o ainda mais maluco e exagerado “Killer Joe”. 

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Bombas - Filmes de Ficção B - Parte III

Quando era mais jovem e tinha mais tempo, eu arriscava assistir todo tipo de filme, inclusive tranqueiras que passavam na tv aberta. Deste período registrei muitas bombas que comentei em postagens anteriores.

Seguindo a lista de filmes que ruins que assisti, escrevo sobre mais cinco longas de ficção que estão merecidamente perdidos no limbo da história do cinema.

Baby, o Segredo da Lenda Perdida (Baby: Secret of the Lost Legend, EUA, 1985) – Nota 4
Direção – Bill L. Norton
Elenco – William Katt, Sean Young, Patrick McGoohan, Hugh Quarshie.

Um casal de paleontólogos (William Katt e Sean Young) descobre na África um bebê brontossauro e sua mãe. O casal cria um laço com os animais e entra em conflito com um caçador (Patrick McGoohan) que deseja lucrar com a descoberta. Esta produção dos estúdios Disney tenta passar uma mensagem sobre ecologia e família, porém o roteiro raso e os efeitos especiais que chegam a ser risíveis, transformam o filme numa verdadeira bomba. Como curiosidade, na época a bela Sean Young era uma estrela em ascensão após seu papel em “Blade Runner” e o loirinho William Katt tinha alguma fama pelo seriado “Super Herói Americano”. Sean Young ainda teve alguns bons papéis, enquanto William Katt se tornou um mero coadjuvante em seriados e filmes B.

Controle Remoto (Remot Control, EUA, 1988) – Nota 5,5
Direção – Jeff Lieberman
Elenco – Kevin Dillon, Deborah Goodrich, Christopher Wynne, Jennifer Tilly, Bert Remsen.

Cosmo (Kevin Dillon) é o atendente de uma locadora de vídeo que descobre por acaso uma conspiração alienígena. Quando uma pessoa assiste a um filme em VHS chamado “Controle Remoto”, ela se torna violenta e mata quem estiver próximo. Cosmo e sua amiga Belinda (Deborah Goodrich) tentam a todo custo recolher as fitas do filme para acabar com a conspiração. Lançado no mesmo ano em que o mestre John Carpenter fez o ótimo “Eles Vivem”, que também tinha como premissa uma invasão alienígena, este filme perde na comparação pela falta de talento do diretor Jeff Lieberman, mas vale a sessão por brincar com a história do “filme dentro do filme”. A fita que hipnotiza as pessoas é uma ficção em preto e branco estilo anos cinqüenta, enquanto o próprio longa também é uma homenagem aos clássicos da ficção B, inclusive com um casal de protagonistas totalmente canastrão, fato comum no gênero.

Projeto Solo (Solo, EUA / México, 1996) – Nota 4
Direção – Norberto Barba
Elenco – Mario Van Peebles, William Sadler, Barry Corbin, Jaime Gomez, Demian Bichir, Adrien Brody.

Solo (Mario Van Peebles) é um androide construído por militares com o objetivo de derrotar um grupo rebelde que luta contra um governo corrupto em um país qualquer da América Latina. Programado para seguir ordens, Solo aos poucos desenvolve um sentimento pela população que seria seu alvo e acaba se voltando contra o próprio exército. Este longa é uma produção B com uma trama vagabunda e um roteiro que recicla ideias de filmes como “Robocop” e “Comando Para Matar” numa mistura indigesta. Na época, o também diretor Mario Van Peebles tentava se firmar como protagonista, porém suas escolhas foram ruins e sua carreira não decolou. 

DNA – Caça ao Predador (DNA, EUA / Filipinas, 1997) – Nota 3
Direção – William Mesa
Elenco – Mark Dacascos, Jurgen Prochnow, Robin McKee, Roger Aaron Brown.

Durante uma escavação nas selvas de Bornéu, o dr. Wessinger (Jurgen Prochnow) encontra o esqueleto de uma estranha criatura. Com ajuda do dr. Mattley (Mark Dacascos), Wessinger consegue uma amostra de DNA e desaparece levando as pesquisas do amigo. Dois anos depois, a agente da CIA Claire Sommer (Robin McKee) procura o dr. Mattley pedindo ajuda para encontrar Wessinger, que teria utilizado o DNA para criar uma espécie de soldado assassino. Esta produção precária com uma trama absurda filmada nas Filipinas foi lançada diretamente em vídeo na época. O alemão Jurgen Prochnow já teve momentos melhores no cinema e mais inacreditável ainda é ver o canastrão Mark Dacascos, ator especializado em lutas, interpretando um cientista.
 
Godzilla 2000 (Gojira ni-sen mireniamu, Japão, 1999) – Nota 5,5
Direção – Takao Okawara
Elenco – Takemiro Murata, Hiroshi Abe, Naomi Nishida, Takeo Nakahara.

Produzido como uma resposta japonesa ao “Godzilla” dirigido por Roland Emmerich no ano anterior, esta nova versão agradará as fãs do estilo japonês do gênero. Godzilla surge como uma ameaça vinda do mar, porém se torna uma espécie de aliado do governo ao enfrentar uma criatura chamada Orga que chegou na Terra dentro de um disco voador. A história absurda não deve ser levada a sério, o que vale são as lutas entre os monstros criados em miniatura, estilo clássico dos antigos seriados japoneses.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Lincoln

Lincoln (Lincoln, EUA, 2012) – Nota 7,5
Direção – Steven Spielberg
Elenco – Daniel Day Lewis, Sally Field, David Strathairn, Tommy Lee Jones, Joseph Gordon Levitt, James Spader, Hal Holbrook, John Hawkes, Jackie Earlie Haley, Bruce McGill, Tim Blake Nelson, Joseph Cross, Jared Harris, Lee Pace, Peter McRobbie, Gulliver McGrath, Walton Goggins, David Warshofsky, Wayne Duvall, Lukas Haas, Dane DeHaan.

Em janeiro de 1865, pouco depois de ser reeleito, o presidente americano Abraham Lincoln (Daniel Day Lewis) deseja ao mesmo tempo encerrar a guerra civil que ocorre a quatro anos e fazer com que o congresso assine a lei da abolição da escravatura, que seria a 13º emenda da constituição. 

Partindo deste cenário, Steven Spielberg entrega provavelmente seu filme mais esquemático da carreira. Mesmo longe de se ruim, apresentando uma ótima reconstituição de época, um bom roteiro que esmiúça as manobras políticas de Lincoln para conseguir seus objetivos e grandes atuações de Daniel Day Lewis e Tommy Lee Jones, o filme peca pela frieza e o excesso de duração que o torna cansativo. Nem mesmo as sequências das discussões no congresso chegam a empolgar, talvez a cena mais emocionante seja quase no final quando o personagem de Tommy Lee Jones mostra seu segredo ao espectador e o porquê da sua árdua luta pela abolição. 

É curioso notar que as manobras políticas utilizadas por Lincoln são idênticas as picaretagens da atualidade. Seu braço-direito William Seward (David Strathairn) contrata três sujeitos (James Spader, John Hawkes e Tim Blake Nelson), equivalente aos lobistas dos dias atuais, para convencer pelo menos vinte congressistas do Partido Democrata para votar a favor da emenda de Lincoln, utilizando todo tipo de favor e chantagem possíveis. 

É curioso notar que Lincoln pertencia ao conservador Partido Republicano, que queria a abolição ao contrário dos Democratas, que citavam até a religião para defender seu lado, situação que se inverteu nos dias atuais, sendo agora os Republicanos aqueles que tentam ligar a política com a religião e que são contra as minorias. 

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Alma Corsária

Alma Corsária (Brasil, 1993) – Nota 7
Direção – Carlos Reichenbach
Elenco – Bertrand Duarte, Jandir Ferrari, Andrea Richa, Mariana de Moraes, Flor, Jorge Fernando, Emilio Di Biasi, Abrahão Farc.

Rivaldo (Bertrand Duarte) e Teodoro (Jandir Ferrari) são amigos de infância que estão lançando juntos um livro de poesias que contam momentos de suas vidas. Ao invés de um local comum como uma livraria, os amigos decidem fazer a festa de lançamento em uma pastelaria na região central de SP. Enquanto a festa acontece, em flashback o espectador conhecerá um pouco da vida dos amigos, suas aventuras quando adolescentes, além das crises e os amores da juventude, tudo isso passando por vários bairros de São Paulo, como Jabaquara, Pompéia e Glicério. 

O diretor, roteirista e fotógrafo gaúcho Carlos Reichenbach, falecido em 2012, foi um dos muitos que se tornaram profissionais de cinema na chamada “Boca do Lixo”, trabalhando em produções baratas e criativas. Sua carreira como diretor, principalmente seus filmes a partir de “Anjos do Arrabalde” de 1987, seguem um estilo que mistura crítica social com lembranças de sua vida pessoal, sempre com personagens próximos da realidade e muitas vezes vivendo à margem da sociedade. 

Neste filme específico, o roteiro foca principalmente na vida do personagem de Bertrand Duarte, que é de família pobre, filho de uma viúva, que faz amizade com o jovem burguês interpretado por Jandir Ferrari. Dois personagens completamente diferentes, que cultivam uma amizade que hoje em dia seria quase impossível. 

O história começa no final dos anos cinquenta e segue até os anos setenta, mostrando neste período situações da época como a ditadura militar, a repressão da polícia e o fechamento dos cinemas de rua, entre outros fatos. 

Os personagens são baseados em várias pessoas que o diretor Reichenbach conheceu e as situações em fatos que ele vivenciou, resultando numa espécie de resumo da vida dos jovens nos anos sessenta. 

O filme perde pontos em algumas cenas dentro da pastelaria, principalmente pelos desempenhos caricatos do diretor global Jorge Fernando como o relações públicas da editora e sua namorada interpretada por Flor, conhecida como jurada do programa Silvio Santos. 

Por outro lado, vale destacar o ótimo desempenho de Bertrand Duarte, ator que eu não conhecia e que pesquisando descobri que tem pouquíssimos trabalhos na carreira. Por este filme, a impressão é que o sujeito seria um ótimo ator.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Gravidade

Gravidade (Gravity, EUA / Inglaterra, 2013) – Nota 8
Direção – Alfonso Cuarón
Elenco – Sandra Bullock, George Clooney.

Enquanto a dra. Ryan Stone (Sandra Bullock) faz reparos do lado de fora de uma estação espacial e o comandante Matt Kowalski (George Clooney) conta histórias engraçadas, um satélite atingido por um meteoro se desmancha em vários pedaços que seguem na direção aos astronautas. Sem tempo de voltarem para a estação, a dupla é atingida pelos destroços e se desprendem dos equipamentos de segurança ficando à deriva no espaço. 

A partir daí, o diretor Alfonso Cuarón brinda o espectador com um dos filmes mais interessantes do ano passado, com uma especial atenção aos detalhes e a tentativa de mostrar a vida no espaço mais próxima possível da realidade dos astronautas. 

Sandra Bullock e George Clooney flutuam em trajes de astronauta por quase todo o longa, em sequências cuidadosamente filmadas que misturam ação, suspense, desespero e drama. A dupla de atores está ótima, porém quem brilha é Sandra Bullock (atuação indicada ao Oscar), que passa toda a angústia de sua personagem que luta para sobreviver. 

É um ótimo filme, inclusive com as dez indicações ao Oscar sendo merecidas, já que a parte técnica é impecável, mais ainda considero “Filhos da Esperança” como o melhor trabalho do diretor Cuarón.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O Homem Sem Sombra

O Homem Sem Sombra (Hollow Man, EUA, 2000) – Nota 7
Direção – Paul Verhoeven
Elenco – Elisabeth Shue, Kevin Bacon, Josh Brolin, Kim Dickens, Joey Slotnick, Greg Grunberg, William Devane, Mary Randle, Rhona Mitra.

Sebastian Caine (Kevin Bacon) é um cientista líder de uma equipe que trabalha num laboratório militar secreto pesquisando a fórmula para fazer com que pessoas possam se tornar invisíveis. O objetivo do governo é utilizar a possível descoberta para criar soldados invisíveis. Após conseguir fazer animais desaparecem, o arrogante Caine decide utiliza ele mesmo como cobaia, o que não bem visto por seus parceiros (Elisabeth Shue e Josh Brolin). A princípio a experiência é bem sucedida, porém os cientistas não sabem como fazer Caine voltar ao normal, que com o passar do tempo como a se ver como invencível e se torna paranóico, acreditando que seus parceiros querem destruí-lo.

Utilizando como inspiração a premissa do clássico “O Homem Invisível” de 1933, o diretor holandês Paul Verhoeven turbinou a trama como efeitos especiais de primeira qualidade na época, focando principalmente nas cenas de ação a partir da metade final, que por sinal deixa um pouco a desejar por forçar a barra com o clichê do vilão que parece indestrutível. 

Depois dos grandes filmes que fez na década de oitenta, chegando ao auge com o polêmico “Instinto Selvagem” em 1992, Verhoeven passava por uma fase irregular após o estrondoso fracasso de “Showgirls” e o relativo sucesso do irregular “Tropas Estelares”. Este mediano “O Homem Sem Sombra” foi o último trabalho do diretor em Hollywood. 

O destaque do elenco é Kevin Bacon em mais um dos vários papéis de vilão que interpretou durante a carreira, enquanto Elisabeth Shue chamava a atenção apenas pela beleza e Josh Brolin estava longe do bom ator que se revelou somente em 2007 com “Onde os Fracos Não Tem Vez”. 

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A Educação das Fadas

A Educação das Fadas (La Educacion de las Hadas, Argentina / França / Portugal / Espanha, 2006) – Nota 6,5
Direção – José Luis Cuerda
Elenco – Ricardo Darin, Irene Jacob, Bebe, Victor Valdivia.

Nicolas (Ricardo Darin) é um inventor de brinquedos que durante um voo com destino a Espanha se apaixona à primeira vista pelo viúva Ingrid (Irene Jacob) e por seu pequeno filho Raul (Victor Valdivia). Dois anos depois eles estão casados vivendo em uma casa no meio de um bosque onde Ingrid que é ornitóloga, cuida de diversos pássaros. 

Nicolas criou uma relação especial com Raul através dos contos de fadas que ele narra diariamente ao garoto, que por seu lado é inteligente e questionador. A vida aparentemente perfeita, fica confusa quando Ingrid sem explicar o motivo, diz para Nicolas que deseja se separar. O pobre sujeito fica totalmente perdido e acaba se aproximando de uma jovem que trabalha como caixa em um supermercado, a argelina Sezar (Bebe), que espera convite para estudar na França. 

Por mais que a história seja sensível e as interpretações do quarteto principal seja competente, em especial o sempre ótimo Ricardo Darin e o surpreendente garoto Victor Valdivia, o filme peca pelo ritmo irregular e por tentar criar um mistério envolvendo a decisão da personagem de Irene Jacob, que ao invés de instigar acaba irritando o espectador. 

Para quem assistiu os clássicos dos anos noventa de Krzysztof Kieslowski “A Fraternidade é Vermelha” e “A Dupla Vida de Veronique”, este longa vale também para rever a bela Irene Jacob, que era um jovem naquela época e aqui ainda conservava sua beleza na casa dos quarenta anos. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Heróis da Ressaca

Heróis da Ressaca (World’s End, Inglaterra / EUA / Japão, 2013) – Nota 7,5
Direção – Edgar Wright
Elenco – Simon Pegg, Nick Frost, Paddy Considine, Martin Freeman, Eddie Marsan, Rosamund Pike, Pierce Brosnan, David Bradley, Michael Smiley, Bill Nighy.

Com mais de quarenta anos, Gary King (Simon Pegg) é um sujeito irresponsável que durante uma sessão de terapia para alcoólatras, decide que precisa reviver o dia mais feliz de sua vida. O dia ocorreu em 1990, quando Gary e seus quatro amigos adolescentes tentaram fazer uma espécie de maratona pelos doze pubs da pequena cidade de Newton Haven na Inglaterra, porém não conseguiram chegar ao final. 

O maluco Gary decide reunir novamente os quatro amigos (Nick Frost, Paddy Considine, Martin Freeman e Eddied Marsan), hoje todos homens de meia idade com empregos estáveis, para concluir o tour alcoólico. Mesmo sabendo que e a ideia é maluca, um a um dos amigos aceitam o desafio e voltam para a pequena cidade para realizar o desejo de Gary. O que eles não imaginavam é que o local está bem diferente do que era vinte anos antes, em todos os aspectos por sinal. 

Esta terceira parceria do diretor Edgar Wright com os atores Simon Pegg e Nick Frost resulta num filme que é uma espécie de primo da comédia “É o Fim” que Seth Rogen e seus amigos lançaram também ano passado. As semelhanças são grandes, os dois tiram sarro dos longas de ficção sobre o fim do mundo, temos um grupo de atores que parece se divertir até mais que o público e uma trama absurda com cenas exageradas que o espectador precisa entrar na brincadeira para dar risada. 

Não assisti os filmes anteriores (“Todo Mundo Quase Morto” e “Chumbo Grosso”) para comparar, mas mesmo assim fica claro que o trio principal merece elogios por conseguir fazer rir com um gênero (paródia) extremamente desgastado. 

Infelizmente o título brasileiro não ajuda ao tentar ligar o filme a outras comédias como “Se Beber, Não Case!” e “A Ressaca”.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Sangue no Gelo

Sangue no Gelo (The Frozen Ground, EUA, 2013) – Nota 7
Direção – Scott Walker
Elenco – Nicolas Cage, John Cusack, Vanessa Hudgens, Dean Norris, Radha Mitchell, Kevin Dunn, Ryan O’Nan, Curtis “50 Cent” Jackson, Brad William Henke, Michael McGrady, Katherine LaNasa, Gia Mantegna, Kurt Fuller, Robert Forgit, Matt Gerald, Jodi Lyn O’Keefe.

Em 1983, na cidade de Anchorage no Alasca, a jovem prostituta Cindy (Vanessa Hudgens) é encontrada escondida em um apartamento, algemada e desesperada, alegando ter sido violentada por um sujeito chamado Bob Hansen (John Cusack), que tentou transportá-la em um pequeno avião. Cindy diz que conseguiu fugir antes do avião decolar. 

Como a história era maluca, Cindy uma prostituta e Bob aparentemente um comum pai de família dono de uma padaria, o detetive responsável ignora a acusação, porém o policial de uniforme que a encontrou (Ryan O’Nan) acredita que seja tudo verdade e envia por conta própria documentos do caso para outra departamento, chegando até as mãos do detetive Jack Halcombe (Nicolas Cage), que dias antes foi designado para resolver o caso de um corpo mutilado de mulher encontrando na floresta. Os dois casos parecem estar ligados, principalmente porque outras garotas com o mesmo perfil estão desaparecidas na região. É o início da caçada de Halcombe para provar que Hansen é na verdade um assassino cruel. 

Baseado na história real de um dos maiores serial killers da história do Alasca, este longa tem uma ótima premissa e a escolha correta do novato diretor neozelandês Scott Walker em não esconder a identidade do assassino, deixando a caçada em aberto para o espectador. 

Por outro lado, Walker se perde na condução da narrativa que se mostra irregular e no desperdício de alguns personagens que praticamente somem da trama, como os policiais interpretados por Ryan O’Nan e Dean Norris, que a princípio parecem ter importância maior na história. 

Vale destacar a ex-estrelinha da Disney Vanessa Hudgens tentando fazer a clássica mudança de adolescente certinha para uma atriz de respeito através do papel ousado de uma prostituta, que tem até mesmo uma cena mais forte dançando em uma boate. 

A curiosidade maior é o reencontro de Nicolas Cage e John Cusack dezesseis anos depois do ótimo “Con-Air – A Rota da Fuga”, agora num momento bem diferente da carreira dos dois. Em 1997 eram astros respeitados, hoje sofrem com trabalhos irregulares dos últimos anos.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Fruitvale Station: A Última Parada

Fruitvale Station: A Última Parada (Fruitvale Station, EUA, 2013) – Nota 7,5
Direção – Ryan Coogler
Elenco – Michael B. Jordan, Melonie Diaz, Octavia Spencer, Kevin Durand, Chad Michael Murray, Ahna O’Reilly, Ariana Neal.

Estação de trem Fruitvale nos arredores de San Francisco, madrugada de 1 de janeiro de 2009, uma confusão entre jovens e policiais na plataforma termina em tragédia, sendo documentada por câmeras e celulares de diversos passageiros. 

A partir daí, a trama volta para o início do dia anterior para seguir os passos do jovem Oscar (Michael B. Jordan), que após passar algum tempo preso por traficar drogas, tenta recomeçar a vida com a namorada Sophina (Melonie Diaz) e a filha pequena Tatiana (Ariana Neal), porém sua vida não está nada fácil. Ele foi dispensado do emprego em um supermercado e sente-se perdido pela falta de perspectiva, sendo tentado a voltar a traficar. 

O roteiro do próprio diretor Ryan Coogler é baseado numa história real que guarda semelhanças com “Jean Charles” e “Última Parada 174”, principalmente nas questões de preconceito e do despreparo da polícia. A diferença principal aqui está na forma como o diretor Coogler tenta transformar o protagonista Oscar num cara legal, exagerando um pouco na dose de boas atitudes do sujeito no fatídico dia. 

As sequências do casal com a mulher grávida e da garota no supermercado servem como um efeito simbólico do bom mocismo do jovem, mas ao mesmo tempo são difíceis de acreditar que realmente aconteceram, principalmente pela enorme e terrível coincidência do reencontro no trem com a garota do supermercado. 

O filme ganha pontos com a narrativa sóbria e no acerto do diretor em não apelar para os flashbacks, criando apenas uma sequência neste estilo extremamente importante para a trama. 

Outro ponto positivo é a sincera interpretação de Michael B. Jordan, ator com quase toda a carreira em séries de tv e que eu conhecia apenas pela participação na primeira temporada de “The Wire”, quando ele interpretava um adolescente envolvido com traficantes que acabava assassinado. 

No geral, é um filme que chama muito mais atenção pela trágica história ser real, do que por ser um grande trabalho cinematográfico.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Náufrago

Náufrago (Cast Away, EUA, 2000) – Nota 8
Direção – Robert Zemeckis
Elenco – Tom Hanks, Helen Hunt, Nick Searcy, Chris Noth.

Chuck Noland (Tom Hanks) é um funcionário da Fedex que durante uma viagem de trabalho, se torna o único sobrevivente de um acidente após seu avião cair no Oceano Pacífico. Chuck sobrevive, mas se vê preso em uma ilha isolada, sem mantimentos ou local para se proteger. A esperança de ser resgatado vai diminuindo com o passar do tempo, fazendo com que Chuck seja obrigado a criar mecanismos para manter sua saúde mental, desenvolver formas de conseguir alimentos e construir uma espécie de abrigo para se proteger do sol e da chuva. 

Este fiapo de história é conduzido de forma competente por Robert Zemeckis, que consegue manter a atenção do espectador nas quase duas horas e meia de projeção, com o personagem de Tom Hanks atuando sozinho praticamente o filme inteiro, ou melhor, tendo a companhia da bola de vôlei Wilson. 

Além da ótima atuação de Hanks e da criatividade de Zemeckis em preencher o tempo com situações interessantes, outro ponto positivo é o roteiro que deixa pequenas lições sobre a vida. Chuck é um sujeito totalmente dedicado ao trabalho, que muitas vezes deixava de lado sua noiva (Helen Hunt) e quando fica isolado na ilha, tem na foto da noiva um dos pilares para manter a esperança de sobreviver. 

O roteiro ainda mostra como um fato pode mudar completamente a vida de uma pessoa, no caso de Chuck, tudo que ele sabia sobre a vida e tinha conquistado acaba perdido quando se vê obrigado a enfrentar uma vida primitiva, onde sobreviver é o ponto básico. Esta mudança de vida e até de perspectiva é simbolizada na sequência final, quando Chuck volta para casa e termina surpreendido com que encontrou.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Invocação do Mal

Invocação do Mal (The Conjuring, EUA, 2013) – Nota 8
Direção – James Wan
Elenco – Patrick Wilson, Vera Farmiga, Lili Taylor, Ron Livingston.

Em 1971, o casal Roger (Ron Livingston) e Carolyn Perron (Lili Taylor) se muda com as cinco filhas para uma enorme casa na zona rural de Rhode Island. O que eles imaginavam ser uma vida tranquila, se transforma em pesadelo quando fatos estranhos começam a ocorrer dentro da casa. Portas abrindo e fechando sozinhas e barulhos estranhos entre as paredes são apenas o início do terror. Quando espíritos começam a atacar a família, Carolyn procura ajuda com um famoso casal de especialistas em fenômenos sobrenaturais. A sensitiva Lorraine Warren (Vera Farmiga) e seu marido Ed (Patrick Wilson) percebem rapidamente que a casa está tomada por espíritos e que a família corre grande perigo. 

O diretor malaio James Wan deu um novo gás ao gênero de terror quando comandou o primeiro “Jogos Mortais”. Com uma trama que chegava a ser doentia e com doses cavalares de suspense, ele criou uma lucrativa franquia, que mesmo decaindo na qualidade nos filmes seguintes, não se pode ignorar que o original é um ótimo longa. Depois de alguns outros trabalhos razoáveis, Wan teve sucesso com “Sobrenatural”, que por sinal eu ainda não assisti e voltou realmente a acertar mão neste ótimo “Invocação do Mal”. 

Partindo de uma história real, Wan utilizou com inteligência os clichês do gênero, criando sequências que assustam muito pelo clima e pela sugestão, chegando até o explosivo clímax do exorcismo. Um diretor que alcança o objetivo de um filme de terror e suspense que é assustar, sem apelar para o sangue fácil, merece todos os elogios. 

Os destaques do elenco são as mulheres, com Vera Farmiga competente como a sensitiva e Lili Taylor interpretando com perfeição a mãe atormentada. 

Para fãs do gênero como eu, é sempre bom ver novos filmes que fogem do lugar comum do sangue pelo sangue.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Philip Seymour Hoffman & Eduardo Coutinho

Neste final de semana o cinema perdeu de forma trágica duas figuras bem diferentes entre si, porém muito talentosas que deixaram belas carreiras.

O ator Philip Seymour Hoffman foi vencido pelo vício nas drogas e aparentemente faleceu com uma overdose de heroína.

O veterano diretor de documentários Eduardo Coutinho foi assassinado pelo próprio filho, que era esquizofrênico e também aparentemente era viciado em drogas.

O terrível ponto em comum entre as duas mortes é presença de drogas, no caso de Hoffman, além dele, as vítimas são também sua esposa e os três filhos que com certeza estão sentindo que a família foi destruída.

A tragédia com Eduardo Coutinho é ainda pior, o filho assassino também atacou a mãe que está em estado grave. O que merece um sujeito que mata o pai e tenta matar a mãe, os dois com mais de oitenta anos?

No mundo de hoje onde a discussão sobre a liberação das drogas divide pessoas comuns, governantes, especialistas no assunto e profissionais da saúde, fica a lição de que alguma atitude deve ser tomada rapidamente, na verdade, um conjunto de atitudes para minimizar o problema e também tentar fazer com que as novas gerações entendam que o uso das drogas apresenta muito mais perigos do que prazer.

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Busca Desesperada

Busca Desesperada (Inescapable, Canadá / África do Sul, 2012) – Nota 5,5
Direção – Ruba Nadda
Elenco – Alexander Siddig, Marisa Tomei, Joshua Jackson, Oded Fehr, Saad Siddiqui.

Adib (Alexander Siddig) é um sírio que vive em Toronto no Canadá, tem um bom emprego e está casado tendo ainda duas filhas. Quando Adib é avisado que sua filha mais velha desapareceu em Damasco na Síria, local para onde ela viajou sem avisar a família com o objetivo de descobrir sobre o passado do pai, sua vida vira de ponta cabeça. 

Para procurar a garota, Adib precisa voltar a Síria e desencavar o passado ao pedir ajuda para sua ex-noiva Fatima (Marisa Tomei), a quem ele abandonou vinte anos atrás ao fugir do país. Voltando como clandestino, Adib percebe que sua filha pode ter sido presa em Damasco por causa de seu passado, fato que complica ainda mais a busca. 

Eterno coadjuvante em Hollywood, o sudanês Alexander Siddig (“Syriana”, “Cruzada”, ”Reino de Fogo”) tem aqui um interessante papel de protagonista numa trama que tem como ponto principal fazer uma crítica a ditadura militar na Síria através de uma trama de espionagem. Esta premissa tinha potencial para render um bom filme, mas infelizmente a canadense Ruba Nadda se complica na narrativa e falha principalmente nas péssimas cenas de ação. Algumas sequências de ação surgem do nada, como o rápido tiroteio em frente a embaixada, além das brigas muito mal filmadas. 

Mesmo com as falhas na direção, Alexander Siddig consegue ter um desempenho razoável, enquanto Marisa Tomei e Joshua Jackson tem atuações mecânicas e não ajudam em nada no resultado.