domingo, 31 de março de 2013

Temporada de Caça

Temporada de Caça (Affliction, EUA, 1997) – Nota 7
Direção – Paul Schrader
Elenco – Nick Nolte, Sissy Spacek, James Coburn, Willem Dafoe, Mary Beth Hurt, Jim True Frost, Holmes Osborne, Christopher Heyerdahl, Brigit Tierney.

Wade Whitehouse (Nick Nolte) é o xerife de uma pequena cidade em New Hampshire, local procurado por caçadores durante a temporada de caça. Logo no primeiro dia da temporada, seu amigo Jack (Jim True Frost) que trabalha como guia, se envolve num grande problema. Um empresário que ele levava para caçar morre com um tiro, porém Jack alega que o sujeito atirou em si próprio de forma acidental. 

Além de ter de investigar o complicado caso que envolve o amigo, Wade precisa lidar com seus próprios problemas. Sua ex-esposa (Mary Beth Hurt) o despreza, assim como sua filha pequena, além disso ele é obrigado a conviver com o velho pai, o violento Glen (James Coburn), que durante toda a vida maltratou o filho e a esposa. Os anos de abuso sofridos fez com que Wade se transformasse num sujeito inseguro, que sofre também pela morte da mãe. O único apoio que Wade recebe é da atual namorada Margie (Sissy Spacek). 

Este drama sombrio e gelado (assim como a locação da trama) tem como pontos principais as magníficas interpretações de Nick Nolte e do veterano James Coburn, que concorreram merecidamente ao Oscar, com Coburn vencendo o prêmio de coadjuvante. Enquanto Nolte cria um sujeito derrotado pela vida, que deseja resolver o caso da morte do empresário para provar que ainda tem algum valor, Coburn interpreta um homem frio que não se arrepende de seus atos. 

O papel de Coburn foi primeiramente oferecido para Paul Newman e James Garner, que recusaram por causa do caráter do personagem, sendo que Garner indicou James Coburn, que com sua face rude era especialista em papéis de durões. O resultado foi perfeito, pois Coburn que nunca havia sequer sido indicado ao Oscar, acabou recebendo o prêmio, que pode ser considerado também um prêmio pela bela carreira. 

O filme além de sombrio é lento, focando mais nas relações familiares e nos traumas do personagem de Nolte do que na investigação, resultando numa drama pesado e apenas mediano. 

sábado, 30 de março de 2013

Bonequinha de Luxo

Bonequinha de Luxo (Breakfast at Tiffany’s, EUA, 1961) – Nota 8
Direção – Blake Edwards
Elenco – Audrey Hepburn, George Peppard, Patricia Neal, Buddy Ebsen, Martin Balsam, José Luis de Vilallonga, John McGiver, Alan Reed.

Holly Golightly (Audrey Hepburn) é uma jovem que vive em Nova York às custas de explorar homens ricos e que procura encontrar um destes que queira se casar com ela. Num certo dia surge um novo vizinho de apartamento, o escritor Paul Varjak (George Peppard), com quem ela faz amizade. O jovem escritor vive da mesada de um mulher casada (Patricia Neal), que paga o apartamento para ele ser seu amante. Estes dois personagens que se vendem em busca de um sonho, descobrirão aos poucos que o dinheiro e o sucesso podem não ser tão importantes como imaginam. 

Esta deliciosa comédia romântica foi um dos grandes acertos da carreira de Blake Edwards (“A Pantera Cor-de-Rosa”, “Um Convidado Bem Trapalhão”), que aqui conseguiu misturar perfeitamente o universo dos alpinistas sociais urbanos, muito bem descritos pela trama baseada num livro de Truman Capote, com a leveza de uma história sensível de amor. 

Claramente a personagem de Hepburn é uma garota de programa e o de Peppard uma espécie de michê, porém a delicadeza mostrada por Hepburn e a simplicidade da interpretação de Peppard transformam os dois em pessoas comuns, que no fundo procuram apenas o amor e a felicidade. 

Como curiosidade, George Peppard não chegou a ter uma grande carreira, mesmo tendo feito vários filmes, sendo mais lembrado pelo papel do coronel John “Hannibal” Smith na série “Esquadrão Classe A”. 

Já a belíssima Audrey Hepburn foi uma das grandes estrelas de Hollywood nos anos cinquenta e sessenta, porém quando se divórciou do seu primeiro marido, o também ator Mel Ferrer, ela praticamente abandonou o cinema, sendo isto após seu papel no suspense “Um Clarão nas Trevas” em 1967. Desta data até sua morte em 1993 ela voltaria ao cinema apenas cinco vezes, sendo o último trabalho um pequeno papel em “Além da Eternidade” de Spielberg em 1989. Além disso, nos anos oitenta ela se tornou embaixatriz da Unicef.

sexta-feira, 29 de março de 2013

Abott & Costello Encontram Frankenstein

Abbott & Costello Encontram Frankenstein (Bud Abbott and Lou Costello Meet Frankenstein, EUA, 1948) – Nota 7
Direção – Charles Barton
Elenco – Bud Abbott, Lou Costello, Lon Chaney Jr, Bela Lugosi, Glenn Strange, Lenore Aubert, Vincente Price.

Hoje praticamente esquecida, a dupla de comediantes Abbot & Costello era famosa nos Estados Unidos nos anos trinta por um programa de rádio e por shows em teatros. Percebendo potencial de lucro, a Universal contratou a dupla em 1940 com o objetivo de lançá-los no cinema como uma espécie de os novos “O Gordo e o Magro”. A tentativa deu resultado e gerou mais de vinte filmes, sendo que alguns são paródias de histórias conhecidas, além de uma série de tv produzida nos anos cinquenta, que chegou a passar na tv brasileira nos anos setenta. 

Este “Abott & Costello Encontram Frankenstein” é o único filme que assisti da dupla, sendo que o título nacional engana, na verdade a dupla se envolve numa grande confusão que envolve os personagens clássicos de terror da Universal. 

Os dois trabalham numa agência dos correios, sendo que Chick (Bud Abbott) é o engraçadinho metido a esperto e Wilbur (Lou Costello) é o gordinho atrapalhado. Após eles receberem duas enormes caixas, são informados de que elas contém os corpos de Drácula (Bela Lugosi) e do monstro do dr. Frankenstein (Glenn Strange). Atrapalhados, eles são enrolados pela bela Sandra (Lenore Aubert), que finge namorar Wilbur, mas na verdade ela é uma cientista discípula de Drácula, que deseja apenas utilizar Wilbur como cobaia e transplantar seu cérebro para o monstro. No meio da confusão surge Lawrence Talbot (Lon Chaney), que se transforma em Lobisomem e deseja matar Drácula a qualquer custo. 

O humor da dupla chega a ser ingênuo para os dias de hoje, principalmente as piadinhas da primeira parte, porém o filme melhora na parte final quando aumenta a ação e principalmente as confusões no embate entre os atrapalhados heróis e os monstros. 

Vale destacar o elenco, que tem Lon Chaney Jr, Bela Lugosi e Glenn Strange de volta aos papéis dos monstros clássicos da Universal, além de uma pequena participação de Vincent Price na cena final como a voz de outro personagem famoso, o Homem Invisível. 

Muitos críticos alegam que esta paródia praticamente enterrou os monstros da Universal, que a partir dos anos cinquenta tiveram seus direitos adquiridos pela produtora inglesa Hammer, que fez diversos filmes com os personagens sendo interpretados por outros atores, como Christopher Lee, Peter Cushing e o próprio Vincent Price. 

Finalizando, a dupla Abott & Costello perdeu popularidade na segunda metade dos anos cinquenta, provavelmente pela excesso de exposição e acabou em 1959 com a morte de Lou Costello.       

quinta-feira, 28 de março de 2013

O Último Refúgio & Paixões em Fúria


O Último Refúgio (High Sierra, EUA, 1941) – Nota 7,5
Direção – Raoul Walsh
Elenco – Humphrey Bogart, Ida Lupino, Alan Curtis, Arthur Kennedy, Joan Leslie, Henry Hull, Henry Travers, Cornel Wilde.

Roy Earle (Humphrey Bogart) é um assaltante condenado à prisão perpétua que consegue um indulto graças a ação nos bastidores da justiça de um poderoso chefão do crime. Em troca da liberdade, Roy precisa comandar um assalto a um hotel de luxo. Roy vê o plano como sua chance de aposentadoria, porém é obrigado a trabalhar com dois jovens criminosos inexperientes (Alan Curtis e Arthur Kennedy), que tem como companhia uma jovem que trabalhava numa boate (Ida Lupino). O grupo fica hospedado em dois chalés num hotel das montanhas enquanto aguarda a informação de um funcionário do hotel de luxo (Cornel Wilde), avisando que o momento da ação chegou. 

Este bom filme sobre assalto tem no roteiro a assinatura de John Huston, que no mesmo ano dirigiu o clássico “Relíquia Macabra (O Falcão Maltês) “. Huston cria ainda uma interessante subtrama sobre um casal de idosos que tem uma neta com problema em um dos pés, jovem por quem o personagem de Bogart se apaixona e acredita que poderia ser o caminho para uma vida nova. 

É curioso ver que nos créditos o nome de Ida Lupino aparece em primeiro lugar, mesmo com o papel de Bogart sendo principal. Ida Lupino deixaria também sua marca no cinema como diretora de alguns longas nos anos cinquenta e posteriormente em vários seriados clássicos de tv.

Paixões em Fúria (Key Largo, EUA, 1948) – Nota 8
Direção – John Huston
Elenco – Humphrey Bogart, Edward G. Robinson, Lauren Bacall, Lionel Barrymore, Claire Trevor, Thomas Gomez, Harry Lewis.

Frank McCloud (Humphrey Bogart) é um veterano da Segunda Guerra Mundial que para cumprir uma promessa, viaja até Key Largo na Flórida, para visitar o pai (Lionel Barrymore) e a esposa (Lauren Bacall) de um companheiro do exército que faleceu na guerra. Os dois administram um decadente hotel, sendo que o velho homem vive preso a uma cadeira de rodas. Quando uma tempestade chega ao local, junto aparece uma quadrilha de bandidos liderada por Frank Rocco (Edward G. Robinson), que deseja se esconder da tempestade e que toma o hotel de assalto e os hóspedes como reféns. Após vivenciar os horrores da guerra, McCloud não deseja reagir ao assalto e por isso tenta manter o controle até que os bandidos deixem o local, porém a violência do bando não deixa opção ao veterano soldado. 

O roteiro é baseado numa peça de teatro de Maxwell Anderson e foi adaptado para o cinema pelo diretor John Huston em parceria com o também diretor Richard Brooks (“Os Profissionais”, “Gata em Teto de Zinco Quente”). A história procura mostrar que a violência pode ocorrer em qualquer lugar, não é necessário existir uma guerra oficial e tem no personagem de Bogart o exemplo do sujeito que deseja apenas viver em paz, mas tem de enfrentar uma nova batalha dentro do próprio país.

Além da direção de Huston, vale destacar o sensacional elenco.

terça-feira, 26 de março de 2013

Parceiros da Noite

Parceiros da Noite (Cruising, EUA, 1980) – Nota 7,5
Direção – William Friedkin
Elenco – Al Pacino, Paul Sorvino, Karen Allen, Richard Cox, Don Scardino, Joe Spinell, Jay Acovone.

Partes de corpos são encontrados no Rio Hudson em Nova York e após a identificação, a polícia descobre que as vítimas eram homossexuais que frequentavam casas noturnas voltadas para o público gay. Acreditando que os crimes sejam obra de um serial killer, o departamento de polícia decide infiltrar um detetive disfarçado de homossexual na comunidade gay e assim tentar descobrir quem é o assassino. 

Por ser parecido com as vítimas, o escolhido é o detetive Steve Burns (Al Pacino), que aceita a difícil missão por acreditar que possa subir na carreira caso consiga prender o assassino. O que parecia ser apenas uma missão policial, acaba transformando a vida de Steve, que a princípio sente-se incomodado a ser obrigado a frequentar inferninhos escuros com homens mal encarados vestidos de couro. Após algum tempo, esta situação passa a afetar sua relação com a namorada Nancy (Karen Allen) e até mesmo seu trabalho como policial. 

O polêmico diretor William Friedkin que fez fama com os clássicos “Operação França” e “O Exorcista”, vinha de dois grandes fracassos. A aventura “Comboio do Medo” e a comédia “Um Golpe Muito Louco” naufragaram e  talvez por este motivo ele tentou dar um choque na carreira utilizando um tema altamente controverso, mostrar crimes dentro da comunidade gay novaiorquina. 

O tema fez o filme ser bombardeado de todos os lados, mesmo antes de ser lançado, com a comunidade gay alegando preconceito e a crítica dizendo ao público que era um filme forte, que mostrava um lado obscuro da sociedade. O resultado foi um fracasso de público e crítica que afetou diretamente a carreira de Friedkin, que passou a ser visto como um diretor complicado e a partir daí alternou filmes interessantes com bombas, deixando de ser considerado um dos grandes de Hollywood. 

Por outro lado, merecidamente o filme ser tornou cult e está longe de ser a bomba que muitas pessoas acreditavam que fosse na época. A grande sacada de Friedkin foi misturar a investigação dos crimes com um drama pesado, utilizando cenas fortes e um clima estranho para mostrar a descida ao inferno do personagem de Pacino, que aos poucos vai desmoronando psicologicamente pelo contato com aquele mundo. A interpretação de Pacino é um dos pontos altos do filme, com o ator encarando um papel que pouquíssimos astros aceitariam. 

Finalizando, vale destacar o intrigante final em aberto, que deixa a solução a cargo da imaginação do espectador.    

segunda-feira, 25 de março de 2013

A Tentação

A Tentação (The Ledge, EUA / Alemanha, 2011) – Nota 7,5
Direção – Matthew Chapman
Elenco – Charlie Hunnam, Terrence Howard, Liv Tyler, Patrick Wilson, Christopher Gorham.

Gavin (Charlie Hunnam) está no telhado de um prédio pronto para se matar. O detetive Hollis (Terrence Howard) é o encarregado de tentar salvar o rapaz. Os dois iniciam uma conversa onde o jovem contará porque está naquela situação. Em flashback, veremos que tudo começou quando o destino fez com que Gavin, que trabalha como gerente em um hotel, contratasse a jovem Shana (Liv Tyler) para ser camareira.

O problema é que Gavin sente atração pela garota, mesmo sendo também vizinho de apartamento da jovem e de seu marido Joe (Patrick Wilson). A situação é ainda mais complexa porque Gavin é um sujeito cético que não acredita em Deus, enquanto Joe é um fanático religioso que trata a esposa como empregada. Esta diferença de pensamento, a forma de encarar a vida e o desejo dos dois pela bela Shana, serão os gatilhos para um grande conflito. Ao mesmo tempo, acompanhamos o drama do detetive Hollis, que descobre não ser o pai biológico de seus filhos no mesmo dia em que precisa lidar com Gavin pendurado no edifício.

Este interessante drama tem como curiosidade a direção de Matthew Chapman, sujeito responsável por roteiros de filmes como “Jogos de Adultos” e ”O Juri”, mas que não dirigia um longa há vinte e três anos, desde 1988 quando comandou “No Coração da Noite”, um drama pesado sobre personagens marginais que circulavam pela noite de Nova York. A semelhança deste novo trabalho com o filme de 1988 está na questão da religiosidade, onde o pecado e a culpa são pontos importantes do roteiro, estando presentes nos diálogos e nas ações dos personagens.

As melhores sequências aqui são os embates entre a fé cega do personagem de Patrick Wilson com a racionalidade e o cinismo do personagem de Charlie Hunnam.

O resultado é um bom drama para quem gosta de discussões filosóficas sobre vida, morte, fé e amor, com um final até certo ponto inesperado.

domingo, 24 de março de 2013

Um Golpe de Sorte & Por Trás de uma Porta Fechada


Um Golpe de Sorte (Lucky Break, Inglaterra / Alemanha, 2001) – Nota 7,5        
Direção – Peter Cattaneo
Elenco – James Nesbitt, Olivia Williams, Lennie James, Timothy Spall, Bill Nighy, Ron Cook, Christopher Plummer.

Jimmy Hands (James Nesbitt) e Rudy Guscott (Lennie James) são presos durante uma fracassada tentativa de assalto e acabam tendo de cumprir pena juntos. Como não é um presídio de segurança máxima, a dupla pensa numa oportunidade de fugir, que surge quando descobrem que o diretor do local (Christopher Plummer) é apaixonado por musicais. Jimmy utiliza o flerte que tem com Annabel (Olivia Williams) a bela assistente social do presídio, para fazer com que ela ajude os detentos a montar uma peça de teatro, porém sem saber que o objetivo principal seria a fuga de um grupo de presos. 

O diretor inglês Peter Cattaneo ficou famoso com a comédia “Ou Tudo, ou Nada” e neste filme ele segue um estilo similar, misturando comédia com pequenas doses de drama para construir uma divertida história sobre fuga e amor. O resultado é ainda melhor em virtude do competente elenco britânico, com uma ótima química do trio principal. A beleza de Olivia Williams faz o contraponto aos trambiqueiros James Nesbitt e Lennie James que estão ótimos, tendo ainda como coadjuvantes bons atores como Timothy Spall, Bill Nighy e o veterano Christopher Plummer. O resultado é uma divertida sessão de cinema.

Por Trás de uma Porta Fechada (Weeds, EUA, 1987) – Nota 6,5
Direção – John Hancock
Elenco – Nick Nolte, Rita Taggart, Ernie Hudson, Lane Smith, William Forsythe, Joe Mantegna, Mark Rolston, John Toles Bey, Anne Ramsey.

Lee Umstetter (Nick Nolte) é um assaltante que cumpre prisão perpétua em San Quentin. Por influência de outro detento, Lee começa a ler e o fato desperta um novo interesse no sujeito. Ele decide escrever uma peça sobre a vida na prisão e utilizar seus companheiros de cadeia como atores. O trabalho de Lee chama a atenção de um repórter que começa a fazer campanha para soltura do novo dramaturgo. A iniciativa dá resultado e Lee ganha a liberdade. Solto, ele cria uma companhia de teatro com ex-detentos que excursiona pelo país, porém descobrirá que aqui fora a vida também não é nada fácil para um ex-condenado. 

Baseado na história real do dramaturgo Rick Cluchey, este drama produzido por Dino de Laurentiis tem um boa premissa, porém a narrativa é fria, o que não ajuda para espectador se envolver com a trama. O elenco de atores conhecido não compromete, tendo como destaque a pequena participação da eterna rabugente Anne Ramsay, atriz já falecida que teve destaque em filmes como “Os Goonies” e “ Joga a Mamãe do Trem”. 

sábado, 23 de março de 2013

Corações e Mentes

Corações e Mentes (Hearts and Minds, EUA, 1974) – Nota 8
Direção – Peter Davis
Documentário

Este documentário extremamente polêmico na época do lançamento, venceu merecidamente o Oscar de Documentário por abordar um tema que tocava diretamente no coração e nas mentes dos americanos, a sangrenta Guerra do Vietnã. 

O diretor Peter Davis foi extremamente feliz ao mostrar os dois lados do conflito, colhendo depoimentos de soldados, ex-soldados, oficiais, políticos, além de civis americanos e vietnamitas. Nestes depoimentos fica claro que a grande maioria dos americanos que foram convocados a lutar e muitos que se inscreveram como voluntários acreditavam estar lutando contra o comunismo, defendendo a pátria, não imaginando que estavam sendo usados como peões pelo governo americano, que tinha o objetivo de aumentar seu poder no mundo, além é claro do lucro financeiro que as grandes empresas que apoiavam a guerra teriam. O arrogante governo americano acreditava que seria uma vitória fácil, porém a guerra se estendeu por anos com um número gigantesco de mortes. 

O documentário mostra que a verdade sobre a guerra dividiu o povo americano, enquanto alguns ainda se agarravam a luta contra o comunismo, a outra metade protestava. Fica clara esta divisão nos depoimentos de dois sujeitos que lutaram na guerra. 

Um deles ficou como prisioneiro dos vietcongues por anos e quando retornou foi tratado como herói e continuava acreditando que o povo vietnamita e o país eram primitivos, destilando preconceito em suas falas, inclusive numa sinistra palestra para crianças de no máximo dez anos de idade num colégio católico, onde o sujeito citava a honra de ir para a guerra e como as crianças deveriam se preparar para participar de uma possível guerra no futuro. 

Por outro lado, um ex-piloto comentava que nunca via o resultado de suas missões, que tinham o objetivo de bombardear alvos específicos, fato que sentiu ao voltar para o país e ver as imagens dos campos destruídos e do civis mortos. Quase ao final do depoimento o sujeito faz de tudo para conter o choro de remorso. 

As imagens reais de assassinatos, pessoas feridas, mortas e crianças em meio ao caos são chocantes, mesmo que tenham acontecido há mais de quarenta anos. 

Como curiosidade, o título “Corações e Mentes” foi retirado de uma frase que o então presidente Lyndon Johnson soltou no início do conflito, afirmando que para os Estados Unidos vencer a guerra dependeria dos corações e mentes das pessoas que viviam no Vietnã.     

sexta-feira, 22 de março de 2013

O Começo da Paixão Pelo Cinema

Cada cinéfilo tem sua história de como começou sua paixão pelo cinema. Os que estão acima dos sessenta anos provavelmente chegaram a curtir as antigas matinês, que apresentavam seriados de aventuras antes do filme principal.

A geração que nasceu nos anos setenta, a qual eu me incluo, descobriu o cinema assistindo filmes na televisão. Naquela época não existiam os chamados "filmes de férias" para crianças e a maioria das famílias não tinham o hábito de levar crianças ao cinema. Eu mesmo fui pela primeira vez ao cinema com treze anos junto com um grupo de amigos da escola e assistimos "Passagem Para a Índia" de David Lean. Um ótimo drama histórico, porém um filme que dificilmente algum adolescente atual teria vontade de ver. A nossa vontade era ir ao cinema pela primeira vez.

Até este acontecimento nos meus treze anos, os filmes que eu assistia na tv se resumiam aos faroestes que a TV Record mostrava em suas clássicas sessões. Uma era a sessão "Bang-Bang a Italiana", que mostrava os clássicos ""Westerns Spaghettis" como "O Dólar Furado", "Trinity", "Sabata", "Sartana" e  "Os Abutres Tem Fome", entre vários outros. A outra sessão era o "Show do Dia 7", onde algum destes westerns ou um longa de Kung Fu era o grande filme do mês. O mais clássico do gênero Kung Fu desta sessão foi "O Dragão de Shaolin", reprisado inúmeras vezes.

Na TV Record eu também assistia seriados como "Bonanza", "Chaparral", "Laramie", "CHIPs", "Buck Rogers" e "James West". Vários outros seriados clássicos como "Túnel do Tempo", "Perdidos no Espaço", "Os Três Patetas", "Esquadrão Classe A" e "Magnum" eram atrações de outros canais.

Não posso deixar de citar a sessão chamada "Sala Especial", que ia ao ar na TV Record toda sexta-feira por volta da meia-noite e mostrava os filmes brasileiros dos anos setenta, as chamadas pornochanchadas, onde a garotada esperava para ver sem roupa atrizes como Aldine Muller, Helena Ramos e Matilde Mastrangi.

Como curiosidade, na época os canais de TV não tinham 24 horas de programação. A maioria fechava o sinal durante a madrugada após algum programa considerado forte, como "O Homem do Sapato Branco", "Programa Goulart de Andrade", "Programa Ferreira Neto" e por algum tempo até mesmo um programa com Zé do Caixão.

Por incrível que pareça hoje, a TV Cultura encerrava sua programação exatamente a meia-noite, com direito a execução do hino nacional.

Na época, início dos anos oitenta, a TV Globo tinha sua torre de transmissão no Pico do Jaraguá, sendo que várias bairros de SP acabavam tendo um sinal muito ruim por causa da localização. Era o caso do bairro onde eu morava, por isso eu preferia assistir a Record. A situação mudou quando em 1983 a Globo fez um acordo com a TV Gazeta e transferiu sua torre para o prédio da própria Gazeta na Avenida Paulista, melhorando o sinal na cidade inteira.

Sou um grande crítico das organizações Globo e considero sua programa tenebrosa e tendenciosa, assim como infelizmente acontece com grande parte dos canais abertos, porém naquela época, exatamente no início de 1985, a Globo criou uma sessão de cinema que influenciou de forma gigantesca minha paixão por filmes.

A Globo comemorava vinte anos em 1985 e em janeiro promoveu o "Festival dos Festivais", que teve como vencedora a cantora Tetê Espíndola e foi um grande sucesso, tendo ainda apresentado para o público novos músicos como por exemplo Osvaldo Montenegro e o recém falecido Emílio Santiago. Quando o acabou o festival, a Globo começou uma sessão de filmes de segunda à segunda denominada "Festival 20 Anos". A sessão tinha início por volta das 22:30 hs e com certeza apresentou uma das mais sensacionais sequências de grandes filmes da história da TV brasileira.

Este festival de filmes deve ter durado pelo menos dois meses e assisti praticamente todos os longas, sem imaginar a importância que cada um deles tinha na história do cinema. A lista incluía "Bonnie & Clyde", "Os Doze Condenados", "Fugindo do Inferno", "Chinatown", "A Trama", "O Poderoso Chefão I e II", "Operação França I e II", "Sete Homens e um Destino", "Era Uma Vez no Oeste", "E O Vento Levou", "Amargo Regresso", "Ben Hur", "Os Dez Mandamentos", "Desejo de Matar", "A Profecia", "Superman", entre diversos outros clássicos, algo impensável nos dias de hoje na tv aberta.

Diferente dos filmes descartáveis que o "Supercine" se especializou a partir dos anos noventa, na época esta era uma sessão que apresentava toda semana um grande filme inédito na TV. Em seguida vinha a "Sessão de Gala", que geralmente apresentava um filme mais sério, podia ser um drama, um suspense ou um longa com mais violência. Para o notívago, na sequência ainda tinham uma ou duas sessões do clássico "Corujão", dependendo da duração dos filmes.

Para completar, no domingo a noite, por volta das 23:00 hs, os cinéfilos tinham a oportunidade de assistir a um filme legendado na sessão "Cine Clube".

Foi uma época completamente diferente, difícil de imaginar para que não viveu aquele tempo, onde praticamente a única opção para assistir filmes de qualidade era o cinema, fato que começou a mudar com o festival de 1985, que com certeza ajudou a nascer a paixão pelo cinema em muitas pessoas.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Go Now

Go Now (Go Now, Inglaterra, 1995) – Nota 7,5
Direção – Michael Winterbottom
Elenco – Robert Carlyle, Juliet Aubrey, James Nesbitt, Sophie Okonedo.

Nick Cameron (Robert Carlyle) é um jovem que trabalha com construção e nas horas livres se diverte jogando futebol com os amigos, tendo com principal companheiro Tony (James Nesbitt). Nick está noivo de Karen (Juliet Aubrey), com quem pretende se casar, porém o destino acaba sendo cruel com o rapaz. Após alguns sinais físicos, Nick descobre que sofre de esclerose múltipla, fato que transformará completamente sua vida. 

Ele pede aos amigos para tratá-lo como uma pessoal normal, que façam as mesmas brincadeiras de sempre, ao mesmo tempo em que tenta manter uma relação normal com Karen, que também o ama. Com o avançar da doença fica cada vez mais difícil levar uma vida normal, fato que afeta principalmente Karen, que precisa ainda se defender dos avanços do chefe, que vê na doença do sujeito a chance de conquistar a jovem. 

Este drama dirigido por Michael Winterbottom (“9 Canções”, “A Festa Nunca Termina”) acerta ao mostrar de forma muita próxima da realidade como esta terrível doença afeta não só a vítima, mas também os que convivem com a pessoa. 

É uma história triste, que dói na alma do espectador, sentimento valorizado pela ótima interpretação de Robert Carlyle, ator geralmente escalado para papéis de malucos ou vilões, que aqui cria uma personagem que no início é uma pessoa normal, mas que aos poucos demonstra toda a angústia causada pela doença, com o ponto positivo de não apelar para o drama exagerado. 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Terror na Antártida & Mistério na Neve


Terror na Antártida (Whiteout, EUA / Canadá / França / Turquia, 2009) – Nota 5,5
Direção – Dominic Sena
Elenco – Kate Beckinsale, Gabriel Macht, Tom Skerritt, Columbus Short, Alex O’Loughlin, Shawn Doyle.

O agente federal Carrie Stetko (Kate Beckinsale) trabalha numa base americana de pesquisas na Antártida, onde precisa lidar apenas com pequenos problemas, além do temperatura extremamente gelada. Quando durante uma perfuração no gelo é encontrado o corpo de um geólogo que deveria estar numa base bem longe do local, Carrie se torna a responsável por descobrir como o corpo chegou ali. Ela decide visitar a base onde o geólogo deveria estar e chegando lá encontra um agente do FBI (Gabriel Macht) que também investiga o caso. Outros corpos são encontrados no local e um homem coberto dos pés à cabeça tenta matá-la sem sucesso. A dupla voltará a base central para tentar descobrir quem é o assassino. 

Com um roteiro confuso e cheio de furos, este suspense desperdiça a interessante ambientação na Antártida e resulta num filme fraco. A trama é cheia de clichês ao estilo “quem é o assassino”, com direito a um trauma do passado na vida da personagem principal e ainda tenta fazer com que o espectador no início acredite que as mortes podem ter ligação com algo extraterrestre, inclusive o título nacional tenta vender o longa como um suspense voltado para ficção e terror. 

A bela Kate Beckinsale faz o que pode, mas não salva o filme, tendo como cena principal uma espécie de striptease no início do longa, que termina numa sequência de banho ótima para o espectador voyeur e totalmente desnecessária para trama. 

Mistério na Neve (Smilla’s Sense of Snow, Dinamarca / Alemanha / Suécia, 1997) – Nota 6,5
Direção – Bille August
Elenco – Julia Ormond, Gabriel Byrne, Richard Harris, Robert Loggia, Vanessa Redgrave, Jim Broadbent, Tom Wilkinson, Bob Peck, Mario Adorf.

Em Copenhague na Dinamarca, um garoto de seis anos morre ao cair de um prédio. A polícia declara que foi um acidente, porém uma vizinha, Smilla (Julia Ormond) que conhecia o garoto e sabia que ele tinha medo de altura, não aceita a explicação e decide investigar por conta própria. Durante a investigação, Smilla cruzará o caminho de várias pessoas, entre elas um estranho sujeito conhecido como “O Mecânico” (Gabriel Byrne) e as pistas a levarão até uma possível conspiração na qual uma grande corporação estaria envolvida. 

Baseado num famoso livro de Peter Hoeg, este longa foi uma diferente incursão do diretor dinamarquês Bille August (“Pelle – O Conquistador” e “A Casa dos Espíritos”) no gênero suspense, com um resultado apenas razoável. O longa é muito bem produzido, com um belo visual que explora bem em algumas sequências a gelada Groenlândia, mas peca pelo ritmo lento e o roteiro fraco que desperdiça o ótimo elenco recheado de coadjuvantes britânicos de primeira linha. 

Como curiosidade, a personagem de Julia Ormond é descendente de esquimós e se diz especialista em gelo, por ter nascido na gélida Groenlândia.

terça-feira, 19 de março de 2013

Diário dos Mortos

Diário dos Mortos (Diary of the Dead, EUA, 2007) – Nota 7
Direção – George A. Romero
Elenco – Michelle Morgan, Joshua Close, Shawn Roberts, Amy Lalonde, Joe Dinicol, Scott Wentworth.

Após finalizar a quadrilogia dos zumbis no interessante “Terra dos Mortos” em 2005, o mestre George A. Romero se animou e decidiu produzir seu quinto longa do gênero, porém de forma inteligente preferiu voltar as origens no orçamento, ao mesmo tempo em que abraçou sem preconceito o novo estilo de se fazer terror, utilizando câmera na mão e um filme dentro do filme ao estilo “Bruxa de Blair”, “Rec” e “Cloverfield”. 

Mesmo tendo sido lançado direto em dvd, o longa atinge o objetivo de alcançar o gosto do público jovem, a geração da internet, não deixando de lado o sangue, a violência e a crítica social, pontos marcantes em toda carreira de Romero. 

O longa é narrado pela personagem Deb (Michelle Morgan), um jovem durona que participa da produção de um filme com um grupo de estudantes de cinema. Os jovens estão filmando na floresta quando um deles ouve pelo rádio que os mortos estão levantando e atacando pessoas. Logo, eles acessam a internet e descobrem o primeiro vídeo mostrando mortos atacando policiais, uma repórter e um cinegrafista. Enquanto tentam voltar para cidade e descobrir o que está ocorrendo, o jovem diretor do filme, Jason (Joshua Clark) continua a filmar tudo com o objetivo de mostrar ao mundo a verdade. 

O roteiro aproveita bem o momento atual onde a informação se espalha rapidamente e o excesso dela gera confusão ao transformar boatos em verdades, aqui no filme com esta situação levando ao caos. 

Mesmo não estando entre os melhores filmes de Romero, ainda é um espetáculo de qualidade, acima da média das produções atuais do gênero.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Tempo de Glória

Tempo de Glória (Glory, EUA, 1989) – Nota 8
Direção – Edward Zwick
Elenco – Matthew Broderick, Denzel Washington, Cary Elwes, Morgan Freeman, Jihmi Kennedy, Andre Braugher, John Finn, Donovan Leitch, JD Cullum, Alan North, Bob Gunton, Cliff De Young, Jay O. Sanders, Richard Riehle, Jane Alexander.

Durante a Guerra da Secessão, após a assinatura da lei que acabava com a escravidão, o presidente Lincoln decide criar um batalhão com soldados negros, fato inédito que tinha o objetivo político de irritar os confederados sulistas que não aceitavam a nova lei. Para comandar o batalhão é escolhido o jovem Robert Gould Shaw (Matthew Broderick) que é promovido a coronel com apenas vinte e três anos de idade. 

A escolha de Shaw foi por influência de seu pai que era um homem poderoso e também porque o exército não tinha intenção de enviar os soldados para as batalhas, mas apenas deixá-los para fazer serviços pesados como cavar trincheiras. Entre os negros que se alistaram estão o veterano Rawlins (Morgan Freeman), o rebelde Trip (Denzel Washington) e o intelectual Thomas Searles (Andre Braugher), que foi criado como amigo do agora coronel Shaw. 

O filme é baseado numa história real, tendo utilizado como base dois livros e as cartas verdadeiras enviadas por Shaw para sua mãe. Shaw era um jovem inexperiente que amadureceu com a convivência com soldados negros e com seu fiel amigo, o Major Forbes (Cary Elwes). 

O diretor Edward Zwick, aqui em seu segundo trabalho, já mostrava o gosto por cenas grandiosas pontuadas por músicas marcantes (trilha de James Horner), situação que se repetiria em longas como “Lendas da Paixão” e “O Último Samurai”, porém o roteiro de Kevin Jarre é superior aos dois filmes citados e consegue desenvolver muito bem os personagens, principalmente na primeira hora onde conhecemos um pouco mais de cada um de uma forma simples, mas longe de ser didática. 

Os personagens são valorizados pelo ótimo elenco. Broderick estava no auge da carreira e como opinião pessoal, tem aqui um dos seus melhores papéis ao lado dos trabalhos nos ótimos “Curtindo a Vida Adoidado” e “O Feitiço de Áquila”. Denzel Washington venceu o Oscar de Coadjuvante por seu trabalho aqui, Morgan Freeman já estava com mais de cinquenta anos e ficou famoso exatamente neste ano, com este filme e com o ótimo “Conduzindo Miss Daisy”. 

Não se pode deixar de destacar também Andre Braugher, grande ator que passou os anos noventa atuando na série “Homicide – Life on the Street” e talvez por isso não tenha se tornado astro de cinema. Mesmo assim, Braugher foi coadjuvante em diversos longas como “O Nevoeiro” e “Cidade dos Anjos”, além de papéis em várias outras séries. 

Finalizando, este é um belo filme que mescla com qualidade drama, política histórica e ótimas cenas de batalhas.

domingo, 17 de março de 2013

Santos e Demônios

Santos e Demônios (A Guide to Recognizing Your Saints, EUA, 2006) – Nota 7,5
Direção – Dito Montiel
Elenco – Robert Downey Jr, Shia LaBeouf, Channing Tatum, Chazz Palminteri, Dianne Wiest, Rosario Dawson, Melonie Diaz, Martin Compston, Peter Anthony Tambakis, Adam Scarimbolo, Scott Michael Campbell, Eric Roberts.

Em 2005, o escritor Dito Montiel (Robert Downey Jr) recebe um telefonema de sua mãe (Dianne Wiest) avisando que seu pai (Chazz Palminteri) está muito doente e se recusa a ir para o hospital. Faz quase vinte anos que Dito abandonou os pais e sua vida no bairro pobre de Astoria no Queens para viver na Califórnia. 

Dito decide atender o pedido da mãe e ao chegar no Queens reencontra amigos, família e os lugares que marcaram sua adolescência, ao mesmo tempo em que o espectador verá em flashback os acontecimentos de 1986, que fizeram Dito (interpretado agora por Shia LaBeouf) fugir do local. Na época ele vivia com uma turma de amigos, entre eles o briguento Antonio (Channing Tatum), o estranho Nerf (Peter Anthony Tambakis) e a namorada Laurie (Melonie Diaz). 

Este longa é baseado num livro autobiográfico do próprio diretor Dito Montiel, que não tinha experiência alguma com cinema e mesmo assim conseguiu levar às telas sua triste história. Montiel se considera uma espécie de sobrevivente, por ter conseguido escapar da violência e da vida sem perspectivas que seus amigos e familiares enfrentam. 

Rapidamente percebemos que ele era um sujeito deslocado em relação ao meio em que vivia e sua fuga seria inevitável, inclusive no início, o personagem interpretado por LaBeouf cita que em pouco tempo ele abandonaria todas as pessoas que apareceriam na tela. Quando o personagem vivido por Robert Downey Jr retorna, o sentimento de estar deslocado é ainda maior, ele percebe que a distância do que ele é hoje com a vida que ele deixou é praticamente intransponível, o que o deixa mais angustiado. 

Esta estreia de Montiel na direção foi extremamente promissora, porém seu dois trabalhos posteriores não confirmaram o talento do sujeito. Ele fez o razoável “Veia de Lutador” e o fraco “Anti-Heróis”, os dois longas com Channing Tatum e o segundo tendo ainda Al Pacino. 

sábado, 16 de março de 2013

Kamchatka

Kamchatka (Kamchatka, Argentina / Espanha / Itália, 2002) – Nota 7,5
Direção – Marcelo Piñeyro
Elenco – Ricardo Darin, Cecília Roth, Matias Del Pozo, Hector Alterio, Fernanda Mistral, Tomas Fonzi, Milton De La Canal.

Durante a ditadura militar na Argentina, um casal (Ricardo Darin e Cecilia Roth) envolvido com a oposição ao regime, precisa sair de Buenos Aires e se refugiar num sítio no interior do país. A família tem um filho pequeno e outro um pouco mais velho, que tem apenas onze anos (Matias Del Pozo). 

A estadia forçada no local é vista com alegria pelo filho mais velho, que antes quase não via os ocupados pais e agora tem a oportunidade de conviver o dia inteiro. O laço maior acaba sendo com o pai, com quem adora jogar “War’, o jogo de estratégia que ficou no famoso nos anos setenta, onde os jogadores tinham de conquistar territórios no mapa mundial. 

O jogo além de unir pai e filho, também tem ligação com o título do filme e a Guerra Fria entre comunistas e capitalistas. Kamchatka é uma península no leste da antiga União Soviética que era considerado local estratégico durante a Guerra Fria, pois ficava mais próximo aos Estados Unidos do que de Moscou. O local era também um símbolo de resistência, assim como os pais do garoto que lutavam contra a ditadura. 

O ponto interessante do filme é contar a história através dos olhos do garoto, que do alto de sua ingenuidade transforma um tema forte em algo mais leve durante boa parte da trama. 

O elenco é ótimo, com os sempre competentes Ricardo Darin e Cecilia Roth, além da surpresa do garoto Matias Del Pozo e a participação do veterano Hector Alterio como o avô. 

O resultado é mais um filme que ajudou a fazer o cinema argentino ser respeitado no mundo inteiro.   

sexta-feira, 15 de março de 2013

A Família Flynn & Alguém Para Dividir os Sonhos


Filmes sobre a questão dos moradores de ruas nas grandes cidades são poucos, por isso ao assistir "A Família Flynn", que toca em outros temas como conflitos familiares e drogas, rapidamente lembrei deste ainda melhor "Alguém Para Dividir os Sonhos", longa produzido há vinte anos e hoje praticamente esquecido.

A Família Flynn (Being Flynn, EUA, 2012) – Nota 6,5
Direção – Paul Weitz
Elenco – Robert De Niro, Paul Dano, Julianne Moore, Olivia Thirlby, Lili Taylor, Wes Studi, Chris Chalk, Thomas Middleditch.

Nicky Flynn (Paul Dano) é um jovem aspirante a escritor que está desempregado e sem rumo na vida. Ele trai a namorada que o expulsa de casa e assim ele acaba dividindo um apartamento num antigo prédio com dois sujeitos (um homossexual e um pequeno traficante) e com a jovem Denise (Olivia Thirlby). 

Sua vida começa a mudar quando recebe um telefone do pai, Jonathan (Robert De Niro), a quem não via há dezoito anos. Jonathan é um sujeito preconceituoso, teimoso, que trabalha como taxista, mas acredita ser um talentoso escritor e diz estar terminando seu livro que seria uma obra prima. A relação entre os dois começa estranha e distante, porém quando Nicky decide trabalhar em um abrigo e depois de algum tempo seu pai aparece no local procurando um lugar para dormir, o contato entre os dois fica inevitável, assim como os conflitos resultantes dos traumas do passado. 

Baseado num livro autobiográfico de Nicky Flynn, este longa dirigido Paul Weitz, especialista em comédias bobinhas, acerta ao não exagerar no drama, apesar da trama tocar em temas pesados como pessoas desabrigadas, drogas e suicídio. 

A primeira parte é a mais interessante, ao mostrar o desenvolvimento dos personagens e como suas vidas chegaram naquele estágio. Além de De Niro e Dano, vale também destacar o papel de Julianne Moore como a mãe de Nicky, personagem que aparece em flashbacks e tem grande importância na trama. O filme perde um pouco o impacto na parte final, quando alguns problemas sérios são resolvidos com facilidade e a personagem de Olivia Thirlby acaba sendo mal aproveitada. 

No geral é um drama razoável que vale a sessão pelo bom desempenho de De Niro, que acertou na escolha depois de vários papéis em filmes ruins.

Alguém Para Dividir os Sonhos (The Saint of Fort Washington, EUA, 1993) - Nota 7,5
Direção – Tim Hunter
Elenco – Matt Dillon, Danny Glover, Rick Aviles, Nina Siemaszko, Ving Rhames, Joe Seneca.


O jovem Matthew (Matt Dillon) sofre de esquizofrenia, mas mesmo assim é liberado de um clínica psiquiátrica. Sem ter onde morar, ele consegue uma vaga em um abrigo em Washington. Na primeira noite ele precisa se defender de um violento desabrigado (Ving Rhames), mas como ele é um sujeito ingênuo, seria presa fácil para a valentão, porém outro desabrigado, Jerry (Danny Glover), um veterano da Guerra do Vietnã, o ajuda dando início a uma grande amizade. Jerry perdeu família e filhos, por isso vive nas ruas limpando carros e fazendo bicos para sobreviver. Jerry vê no jovem Matthew a chance de ter uma nova família e quem sabe sair das ruas para recomeçar a vida, porém não será nada fácil.

Este drama pesado e emocionante vai fundo ao mostrar as dificuldades com comida, água, temperatura, além do preconceito e da violência que os desabrigados enfrentam no dia a dia. É provavelmente o filme produzido em Hollywood que mais se aprofundou sobre o tema. Mesmo não sendo considerados grandes atores, Matt Dillon e Danny Glover cumprem com perfeição seus papéis.

Como curiosidade, o diretor Tim Hunter tem praticamente toda a carreira voltada para seriados de tv, tendo feito apenas cinco longas, sendo este o último até hoje.

quinta-feira, 14 de março de 2013

Dois Córregos

Dois Córregos – Verdades Submersas no Tempo (Brasil, 1999) – Nota 7
Direção – Carlos Reichenbach
Elenco – Carlos Alberto Riccelli, Beth Goulart, Ingra Liberato, Vanessa Goulart, Luciana Brasil, Kaio César, Luiz Damasceno, Thomaz Jorge.

O filme começa com a empresária Ana Paula (Beth Goulart) chegando à cidade de Dois Córregos com o seu advogado (Luiz Damasceno) e a polícia para fazer a reintegração de posse de um velho sítio da família. A ação acontece tranquilamente, porém Ana Paula passa a recordar seu passado quando chega ao local. 

A partir daí, o filme volta para o final dos anos sessenta no auge da ditadura militar, quando em flashback a jovem Ana Paula (Vanessa Goulart, sobrinha de Beth na vida real) e sua amiga Lydia (a pianista Luciana Brasil) viajaram de trem de São Paulo até Dois Córregos para conhecer o tio de Ana Paula, Hermes (Carlos Alberto Riccelli) que está escondido no sítio por ser comunista e por estar sendo procurado pela polícia e exército. No local vive também a governanta Teresa (Ingra Liberato), que é amante de um violento militar casado (Kaio César). Durante quatro dias, as três mulheres e o comunista Hermes trocarão experiências e segredos. 

O diretor gaúcho Carlos Reichenbach, que faleceu em 2012, foi um dos grandes nomes do cinema brasileiro, tendo participação de mais de cinquenta filmes em várias funções. Além de diretor, Reichenbach foi produtor, ator e fotógrafo, tendo deixado como marca principalmente em seus últimos trabalhos, criar personagens da classe trabalhadora em filmes com forte crítica social. Foi assim nos interessantes “Garotas do ABC" e “Falsa Loura”, seu longa derradeiro. 

Aqui em “Dois Córregos”, ele utiliza a questão da ditadura para contar uma história sobre descobertas e também sobre como muitas pessoas tiveram a vida destruída, precisando abandonar família e amigos para sobreviver. 

A atuação de Carlos Alberto Riccelli é perfeita como o sujeito que sofre por estar longe dos filhos e que precisa fazer escolhas extremamente difíceis, inclusive se arrependendo de decisões passados. A bela Ingra Liberato também está bem como uma mulher fria e sofrida. Em contrapartida, as duas jovens vividas por Vanessa Goulart e pela pianista Luciana Brasil não convencem, com a escolha da segunda sendo entendida apenas porque a personagem também é pianista. 

No geral é um filme simples e sensível, sobre personagens que sofrem por suas escolhas.      

quarta-feira, 13 de março de 2013

Amor ou Consequência

Amor ou Consequência (Jeux d”enfants, França / Bélgica, 2003) – Nota 6
Direção – Yann Samuell
Elenco – Guillaume Canet, Marion Cotillard, Thibault Verhaeghe, Joséphine Lebas Joly, Emmanuelle Gronvold, Gerard Watkins, Gilles Lellouche.

Julien (Thibault Verhaeghe) é um agitado garoto de oito anos que vive com o rígido pai e que sofre com a doença da mãe. Quando Julien conhece a garotinha Sophie (Joséphine Lebas Joly), uma filha de poloneses que é humilhada pelas crianças por causa de sua descendência, os dois iniciam uma forte amizade. 

A ligação entre as crianças está em um brinquedo que eles carregarão por anos e usarão para testar os limites um do outro. Quem tem o brinquedo desafia o outro a fazer algo absurdo para retomar o objeto e assim continuar o jogo. Quando eles chegam a juventude (agora interpretados Guillaume Canet e Marion Cotillard), o jogo fica mais complicado, pois os desafios atrapalham a atração que eles sentem um pelo outro, fazendo com que entrem em conflito, mas continuem o estranho jogo por vários anos. 

O diretor Yann Samuell estreou com este longa que tenta seguir o sucesso do ótimo “Amelie Poulan” produzido dois anos antes, utilizando também ótimos efeitos visuais para criar sequências absurdas e até de humor negro, porém peca pela falta de carisma dos personagens e principalmente por mascarar um história simples de encontros e desencontros por trás dos efeitos especiais e do visual colorido. 

Os personagens principais chegam a ser irritantes em alguns momentos, com o fraquinho Guillaume Canet (de “A Praia”) não convencendo, e a bela e hoje famosa Marion Cotillard até cumprindo bem o papel, porém as brigas entre os dois são ridículas, do estilo das discussões de adolescentes em comédias americanas. 

É uma pena, no final temos uma belíssima parte técnica desperdiçada numa trama sem graça. 

terça-feira, 12 de março de 2013

Durval Discos

Durval Discos (Brasil, 2002) – Nota 6
Direção – Anna Muylaert
Elenco – Ary França, Etty Fraser, Isabela Guasco, Marisa Orth, Letícia Sabatella, Rita Lee, André Abujamra, Theo Werneck.

O solteirão Durval (Ary França) é o dono de uma loja de discos no bairro de Pinheiros em São Paulo. Durval parece um hippie que parou no anos setenta e se nega a vender CDs, mesmo com sua loja quase falindo, Num fundo da loja está a casa onde Durval mora com a mãe Carmita (Etty Fraser). Quando Durval percebe que a velha mãe já tem dificuldade para cuidar da casa, ele decide contratar uma empregada. A escolhida é Célia (Letícia Sabatella) que vem com a filha pequena Kiki (Isabela Guasco). O que ele não esperava é que Célia desaparecesse deixando um bilhete dizendo que voltaria em alguns dias para buscar Kiki. 

Até este ponto o filme lembra um pouco o ótimo “Alta Fidelidade”, sobre um sujeito que tem uma loja de discos e vive como um adolescente, além de ter de conviver com clientes malucos, aqui representado por alguns personagens, entre eles o estranho Fat Marley interpretado pelo músico André Abujamra (que foi casado com a diretora Anna Muylaert e fez também a trilha sonora), porém a segunda parte da trama é uma verdadeira salada russa, que mistura policial, suspense e drama, terminando de forma melancólica em todos os sentidos. 

Os destaques são o trio principal, com a veterana da tv Etty Fraser interpretando um papel semelhante ao que fez diversas vezes nas novelas, a supresa da garotinha Isabela Guasco e principalmente o ótimo Ary França, ator mais conhecido por seus trabalhos no teatro, que aqui mostra todo seu talento. 

Como curiosidade, a casa onde foi filmado o longa realmente ficava em Pinheiros e foi demolida para dar lugar a um edifício, fato triste e comum no dias atuais em São Paulo.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Violência Máxima & Awaydays


Violência Máxima (The Football Factory, Inglaterra, 2004) – Nota 7
Direção – Nick Love
Elenco – Danny Dyer, Frank Harper, Tamer Hassan, Roland Manookian, Neil Maskell.

Tommy Johnson (Danny Dyer) é um jovem trabalhador, assim como seu amigo Rod (Neil Maskell), porém aos finais de semana eles participam de um grupo de hooligans torcedores do Chelsea, que na verdade desejam apenas extravasar suas frustrações e descarregar adrenalina em violentas brigas com os rivais. Entre os líderes do grupo está o veterano Bright (Frank Harper), um sujeito com mais de quarenta anos, casado, pai de dois filhos e extremamente violento. Tommy começa a ter pesadelos com as brigas que participa, uma espécie de premonição de que algo ruim irá acontecer, porém mesmo assim ele não consegue se afastar do grupo. 

Um dos pontos principais do filme é mostrar que a ação dos hooligans não tem ligação alguma com o futebol dentro do campo, a questão de serem torcedores é apenas um gancho para o objetvo que é a violência. Em momento algum vemos cenas dentro de um estádio, as violentas brigas são mostradas em becos e ruas isoladas, onde os baderneiros podem se destruir, uma situação bem real, já que a Inglaterra praticamente erradicou a violência dentro do estádios, qualquer ato neste sentido leva o sujeito para cadeia, o que diminuiu as brigas e as transferiu apenas para a rua. 

O roteiro traça bem o perfil dos envolvidos nestes grupos, aqui com destaque para o violento Bright, que é o grande exemplo dos hooligans que agiam principalmente nos anos oitenta e foram perdendo espaço com a repressão policial das décadas seguintes. 

Como curiosidade, o ator principal Danny Dyer é o protagonista de uma série documental chamada “The Real Football Factory”, onde ele viajou por vários países mostrando a ação das torcidas organizadas, inclusive no Brasil.

Awaydays (Awaydays, Inglaterra, 2009) – Nota 6,5
Direção – Pat Holden
Elenco – Nicky Bell, Liam Boyle, Stephen Graham, Oliver Lee, Ian Puleston Davies.

Liverpool, 1979, Carty (Nicky Bell) é um jovem de classe média que deseja entrar para um grupo de hooligans conhecidos como “The Pack”. Carty faz amizade com Elvis (Liam Boyle), um jovem pobre que faz parte do grupo de arruaceiros, mas que divide com Carty o gosto pela música e pela arte. Após muito insistir, Elvis aceita apresentar Carty ao líder dos hooligans, o veterano Godden (Stephen Graham), dando início a uma jornada do jovem ao mundo da violência. 

Baseado num livro de Kevin Sampson, este longa procura retratar uma época em que o punk rock estava em alta na Inglaterra e os hooligans agiam livremente no país, porém diferente de outros longas que seguiam o mesmo tema, este cria uma estranha relação entre os dois jovens protagonistas, situação que vai além das brigas de rua. 

O filme perde pontos por ser irregular, principalmente nas sequências de sofrimento do personagem Elvis e nas fracas interpretações. Até mesmo o competente Stephen Graham repete o papel de sujeito violento, muito parecido com seu trabalho em “This Is England”. 

Vale destacar a ótima trilha sonora com músicas de grupos da época, como The Rascals e Joe Divison. 

Os créditos finais são em memória de um sujeito com sobrenome Sampson, assim como o escritor, que teria falecido nos anos oitenta com vinte anos de idade. Não consegui encontrar a informação na internet, mas acredito que seja algum parente do escritor e que pode ter falecido em virtude das brigas de hooligans.

sábado, 9 de março de 2013

A Viagem

A Viagem (Cloud Atlas, Alemanha / EUA / Hong Kong / Cingapura, 2012) – Nota 8
Direção – Tom Tykwer, Andy Wachowski & Lana Wachowski
Elenco – Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Jim Sturgess, Hugh Grant, Susan Sarandon, Doona Bae, Ben Whishaw, Keith David, James D’Arcy, Xun Zhou, David Gyasi.

Este longa pode ser considerado uma experiência única no cinema. Extremamente ambicioso, o filme é baseado num livro de David Mitchell que era considerado impossível de ser levado às telas. Esta enorme ambição dos irmãos Wachowski fez com que parte da crítica fosse cruel com a obra e também dividisse a opinião do público. 

Durante as quase três horas de duração, o público encara uma alucinante viagem entre seis histórias diferentes que se passam em épocas distintas. São praticamente seis curtas no mesmo filme, cada um de um gênero diferente. 

A história mais antiga se passa em 1849 e mostra a amizade entre um advogado escravagista e um escravo, seguindo para 1946 na Inglaterra, onde um compositor bissexual sonha em elaborar uma peça musical clássica com ajuda de um mestre, depois para 1973 onde o amante do compositor é um cientista que pede ajuda a uma jornalista para investigar uma conspiração. A quarta história se passa nos dias atuais com um editor de livros que pede ajuda ao irmão para pagar uma dúvida e acaba preso num asilo. A quinta trama é sobre uma revolução que acontece em 2144 em Neo Seul, uma cidade futurista construída após a destruição de Seul que é dominada por uma corporação. Finalizando, a sexta história se passa num futuro distante, onde os humanos voltaram a viver em florestas, precisam se defender de grupos que se tornaram canibais e ainda acreditam numa deusa completamente diferente. 

As histórias estão conectadas não por algum fato em comum, mas por pequenos detalhes que se repetem nas diferentes épocas ou influenciam a trama posterior e principalmente nos atores interpretando múltiplos personagens debaixo de maquiagem pesada. Os atores em vários papéis estão ligados a questão da vida após a morte, com o roteiro seguindo a ideia de que o mesmo espírito tem várias vidas e muitos repetem os erros ou o caráter de suas vidas anteriores. No filme, Hugo Weaving e Hugh Grant são os vilões, Halle Berry e Jim Sturgess os que lutam por justiça, enquanto Tom Hanks e Jim Broadbent ficam no meio termo, entre algumas atitudes ruins e outras boas em busca da redenção. 

Vale destacar também o fantástico visual, que é fato comum nas produções dos irmãos Wachowski e aqui ainda contam a parceria criativa do alemão Tom Tykwer de “Corra, Lola Corra”. 

Dar uma nota para um filme como este é algo extremamente pessoal e difícil, lendo as críticas você encontrará notas de um até dez, mostrando que acima de tudo é um longa que não deixa o espectador indiferente, ele faz pensar muito sobre diversos temas. 

Para quem gosta de filmes diferentes e tiver a paciência de encarar seis histórias entrecortadas em três horas, terá uma experiência única.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Filmes Produzidos para a TV - Parte II

Nesta postagem comento algumas produções para a tv do gênero aventura e suspense.

Caçadores de Marfim (Ivory Hunters, EUA, 1990) – Nota 5,5
Direção – Joseph Sargent
Elenco – John Lithgow, Isabella Rossellini, James Earl Jones, Tony Todd, Olek Krup.

Um escritor (John Lithgow) viaja para o Quênia para tentar descobrir o que aconteceu com sua assistente que foi fazer uma pesquisa e desapareceu. No local, o escritor encontra outra pesquisadora (Isabella Rossellini) que acredita que o desaparecimento da colega está ligado ao tráfico de marfim. Um policial (o veterano James Earl Jones) é designado para investigar o caso, mas sabe do perigo para quem tenta vigiar a vida dos traficantes. 

O filme tem uma boa premissa com a denúncia do tráfico de marfim na África e toda a violência que existe por trás deste crime, além de um elenco competente, mas infelizmente o roteiro não se aprofunda no tema.

Tudo Pela Liberdade (Born to Ride, EUA, 1991) – Nota 4
Direção – Graham Baker
Elenco – John Stamos, John Stockwell, Teri Polo, Sandy McPeak, Keith Cooke, Salvator Xuereb, Justin Lazard, Thom Mathews.

Nos anos sessenta, o exército decide trocar sua unidade de cavalaria por motocicletas e durante um treinamento, o jovem civil Grady (John Stamos) decide mostrar suas habilidades na moto e humilha os soldados, colocando alguns em risco. Grady acaba preso, mas recebe a proposta de entrar para o exército em troca da liberdade. Ele aceita, mas seu jeito rebelde o coloca em situações complicadas, principalmente quando se envolve com a filha do comandante (Teri Polo). No final, a habilidade de Grady o coloca como pessoa chave numa missão para resgatar um cientista e sua filha que foram sequestrados pelo General Franco, ditador espanhol. 

A primeira metade do longa é repleta de clichês e a parte final apresenta um roteiro absurdo, apesar de que algumas cenas de ação são até razoáveis. O longa foi uma tentativa de abrir caminho no cinema para o astro de tv John Stamos, famoso pela série “Full House”, porém ele foi mais um ator que não conseguiu fazer a transição. Seu maior sucesso foi ter sido casado com a belíssima Rebecca Romjin.

Morte no Evereste (Into Thin Air: Death on Everest, EUA / República Tcheca, 1997) – Nota 6,5
Direção – Robert Markowitz
Elenco – Peter Horton, Nathaniel Parker, Christopher McDonald, Richard Jenkins.

Dois experientes alpinistas rivais, Scott Fisher (Peter Horton) e Rob Hall (Nathaniel Parker) escalam o Monte Everest ao mesmo tempo, cada um levando um grupo de pessoas, várias delas inexperientes. O que começa com um desafio se torna uma perigosa aventura conforme os grupos avançam na escalada e precisam enfrentar frio, neve e vários outros obstáculos que podem causar uma tragédia. 

Este telefilme é baseado num famoso livro do jornalista Jon Krakauer, que relata uma história real, sendo ele um dos participantes da aventura, aqui no longa interpretado por Christopher McDonald. A história é ótima e o filme pode ser considerado bom levando em conta as limitações de uma produção para tv.

Alerta Vermelho (Hostile Waters, EUA / França / Alemanha / Inglaterra, 1997) – Nota 5,5
Direção – David Drury
Elenco – Rutger Hauer, Martin Sheen, Max Von Sydow, Harris Yulin, Colm Feore, Rob Campbell, Regina Taylor, Dominic Monaghan.

Em outubro de 1986, um velho submarino russo carregado com artefatos nucleares se chocou com um submarino americano e quase causou um acidente nuclear na costa da Bermuda. Esta produção para tv foca na tensão que toma conta da tripulação russa e dos oficiais, principalmente o Capitão Britanov (Rutger Hauer) e o Almirante Chernavin (Max Von Sydow). 

Com poucas cenas de ação e muito falatório, o resultado é apenas razoável. Vale a curiosidade pela história e o bom elenco, nada mais.

Caçadores de Tornado (Storm Chasers: Revenge of the Twister, EUA, 1998) – Nota 3
Direção – Mark Sobel
Elenco – Kelly McGillis, Wolf Larson, Liz Torres, Adrian Zmed, James MacArthur.

Cópia descarada de “Twister”, este produção para tv mostra também um grupo de caçadores de tornados em aventuras pelo meio-oeste americano. Com efeitos especiais paupérrimos e um elenco péssimo, liderado pelo canastrão Wolf Larson, que interpretou “Tarzan” numa série de tv no início dos anos noventa, além de Liz Torres e Adrian Zmed, rostos conhecidos em seriados da época. 

A curiosidade é a participação de Kelly McGillis, famosa por “Top Gun”, mas que na época já estava com a carreira em declínio.

Ação no Oceano (Intrepid ou Deep Water, EUA, 2000) – Nota 4
Direção – John Putch
Elenco – James Coburn, Costas Mandylor, Finola Hughes, Alex Hyde White, Sonia Satra, Larry Poindexter, David Kaufman, Chick Vennera, Sarah Bibb.

Um teste nuclear malsucedido desencadeia uma onda gigante que vira um transatlântico. O capitão (James Coburn) tenta liderar os sobreviventes para o salvamento, porém um grupo terrorista que estava a bordo ainda deseja sequestrar a filha de um milionário. 

Esta produção para a tv com um roteiro absurdo foi um dos últimos papéis do grande James Coburn, trabalhando ao lado de canastrões conhecidos como Costas Mandylor da série “Jogos Mortais” e a bela Finola Hughes. Algumas cenas de ação razoáveis não salvam esta bomba.

quinta-feira, 7 de março de 2013

O Mestre

O Mestre (The Master, EUA, 2012) – Nota 7,5
Direção – Paul Thomas Anderson
Elenco – Joaquin Phoenix, Philip Seymour Hoffman, Amy Adams, Laura Dern, Jesse Plemons, Ambyr Childers, Rami Malek, Kevin J. O’Connor, Christopher Evan Welch, Madisen Beaty.

Freddie Quell (Joaquin Phoenix) é um ex-combatente da 2º Guerra Mundial que ao voltar para casa não consegue se adaptar. Freddie é um sujeito bruto, sem educação, que gosta de beber, fala o que pensa e responde aos problemas com violência. Após se meter em uma confusão no seu último trabalho, Freddie foge e acaba cruzando o caminho de Lancaster Dodd (Philip Seymour Hoffman), uma espécie de guru, famoso por um livro chamado “A Causa”. 

Os dois sujeitos extremamente diferentes acabam criando um estranho laço, primeiro com Lancaster ficando interessado numa bebida fortíssima fabricada por Freddie, depois por ver Freddie quase como um animal a ser domado. Em contrapartida, Freddie se transforma em defensor de Lancaster, quase um segurança que toma atitudes fortes contra os inimigos do mestre. 

Os produtores tentaram vender o filme como sendo uma espécie de biografia fictícia do escritor L. Ron Hubbard, um guru que criou a Cientologia, uma religião com cara de culto que é seguida por várias atores famosos de Hollywood, tendo como principal garoto propaganda o astro Tom Cruise. A ideia de vincular o nome de Hubbard com a produção acabou não dando certo, o filme dividiu a crítica e o público, mesmo que o resultado seja no mínimo interessante. 

O roteiro do próprio diretor P. T. Anderson foge do lugar comum que seria transformar a trama em uma denúncia contra um guru picareta. Ele prefere mostrar os bastidores da vida do sujeito e de seus seguidores, com destaque para a ótima Amy Adams como a esposa atual, que é discreta mas defende as ideias do marido até o fim, para a sumida Laura Dern como uma seguidora cega pelo carisma do mestre e o filho vivido por Jesse Plemons, um jovem apático que mesmo ficando ao lado do pai, num diálogo específico mostra um sentimento de descrença nas ideias do homem. 

Os grandes destaques são as interpretações de Hoffman e Phoenix. Hoffman está perfeito como o sujeito carismático que fala bem, mas que mostra seu verdadeiro lado quando é contrariado em alguma discussão. Já o trabalho de Phoenix é psicológico e corporal, que além de criar com perfeição o veterano de guerra que esconde os traumas atrás da brutalidade, ele inventou uma estranha forma de andar, um pouco curvada, como se estivesse com a coluna torta. 

É um filme diferente, com uma narrativa lenta em alguns momentos, mas que vale pelo elenco e  por algumas ótimas sequências entre Hoffman e Phoenix.

terça-feira, 5 de março de 2013

Corpo

Corpo  (Brasil, 2007) – Nota 6
Direção – Rossana Foglia & Rubens Rewald
Elenco – Leonardo Medeiros, Rejane Arruda, Chris Couto, Louise Cardoso, Regiane Alves, Zé Carlos Machado.

O médico legista Artur (Leonardo Medeiros) é um sujeito desmotivado com o trabalho e com a vida, que a cada novo corpo que chega ao local e também com as pessoas que cruzam seu caminho no metrô por exemplo, ele imagina uma história de vida, doenças e problemas que a pessoa enfrentou ou deve enfrentar. 

Sua vida ganha algum sentido quando o corpo de uma mulher que aparentemente morreu há mais de trinta anos chega intacto ao necrotério. Artur decide investigar quem seria a pessoa e chega até o nome de uma psicóloga que teria sido presa durante a ditadura. Tentando descobrir se realmente é a pessoa, ele faz contato com Fernanda (Rejane Arruda), filha da suposta mulher e que alega que sua mãe está viva, porém suas atitudes irresponsáveis deixam Artur ainda mais confuso. Para piorar, a chefe de Artur é a estranha Lara (Chris Couto), que deseja enterrar rapidamente a mulher não identificada como indigente. 

O casal de diretores Rossana Foglia e Rubens Rewald escolheu uma interessante premissa para sua estreia no cinema, porém o ritmo extremamente arrastado e a narrativa confusa em alguns momentos tiram a força do filme. Num determinado momento da trama, o espectador passa a conhecer a história da jovem presa pela ditadura em flashback, o que rapidamente faz com que se descubra o que realmente ocorreu. Isso não teria importância se os personagens fossem melhor elaborados, mas apenas Leonardo Medeiros consegue uma boa atuação, mesmo criando um sujeito derrotado, sem carisma algum. 

Infelizmente o resultado fica bem abaixo da premissa.